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Vis Condede Taun a Yen Tarde Cer

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8/18/2019 Vis Condede Taun a Yen Tarde Cer http://slidepdf.com/reader/full/vis-condede-taun-a-yen-tarde-cer 1/78 Índice de autores – Índice de títulos AO ENTARDECER (contos vários) Visconde de Taunay POBRE MENINO! I Em dia fresco e de chuva miuda, viajava eu na estrada de ferro Central. Vinha de S. Paulo para o Rio de Janeiro em trem que parecia, contra inveterados hábitos, dever chear á hora reulamentar. ! locomotiva como que se apra"ia a devorar o espa#o $ na phrase consarada $ por tempo t%o rato que dispensava calor, poeira e randes atra"os, e o jornadear, calculado por tabella official de paradas certas, infle&'veis, sempre as mesmas, era relativamente aradável. (a esta#%o do Cru"eiro, onde desde laros annos $ia di"endo s)culos $ imperam o porte dominados, a alentada benala, a en)rica esticula#%o e as barbas medieváes e enchuma#adas do major (ovaes, entrou uma fam'lia, reressando de Ca&amb*. Pae, m%e, bastante mo#os, esta ainda vistosa, bonita, um filho de + para +- annos, visivelmente doente, duas creadas, uma branca, outra preta, e um molocte, vestido de paem, muitas malinhas de m%o, chales, cobertores, travesseiros, arrafas de leite e auas mineraes, embrulhos com restos, sem duvida, da matolotaem, comida á descida da serra. /udo aquilo ás carreiras se arrumou nos bancos va"ios ao lado e ao redor de mim. !final, apitou a machina e partiu o barulhento comboio. Can#ado de ler, e&otados os jornaes de S. Paulo, parcos de novidades, e um tanto aborrecido com um romance de Charles 0erouvel comprado no 1arrau&, que n%o me interessava, nem merecia interesse, pu"2me a observar os recem2cheados. (o rosto de todos, a inquieta#%o, concentrada no menino que, apenas sentado, pedira para se deitar. 3 Sinto2me t%o fraco4 E&clamou dolente. (%o tenho mais for#as4... E com muita solicitude, creadas e molecote, au&iliando apressados os amos e obedecendo2lhes ás indica#5es, arranjaram os meios de dar melhor commodo ao doentinho, cujos p)s i%o al)m do banco e se contraiam de cada ve" que passavam os empreados do trem.
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Índice de autores – Índice de títulos

AO ENTARDECER

(contos vários)Visconde de Taunay

POBRE MENINO!

I

Em dia fresco e de chuva miuda, viajava eu na estrada de ferro Central.

Vinha de S. Paulo para o Rio de Janeiro em trem que parecia, contra

inveterados hábitos, dever che ar á hora re ulamentar.! locomotiva como que se apra"ia a devorar o espa#o $ na phrase

consa rada $ por tempo t%o rato que dispensava calor, poeira e randesatra"os, e o jornadear, calculado por tabella official de paradas certas,infle&'veis, sempre as mesmas, era relativamente a radável.

(a esta#%o do Cru"eiro, onde desde lar os annos $ia di"endo s)culos $imperam o porte dominados, a alentada ben ala, a en)r ica esticula#%o e asbarbas medieváes e enchuma#adas do major (ovaes, entrou uma fam'lia,re ressando de Ca&amb*.

Pae, m%e, bastante mo#os, esta ainda vistosa, bonita, um filho de +para +- annos, visivelmente doente, duas creadas, uma branca, outra preta,e um moloc te, vestido de pa em, muitas malinhas de m%o, chales,cobertores, travesseiros, arrafas de leite e a uas mineraes, embrulhos comrestos, sem duvida, da matolota em, comida á descida da serra.

/udo aquilo ás carreiras se arrumou nos bancos va"ios ao lado e aoredor de mim.

!final, apitou a machina e partiu o barulhento comboio.

Can#ado de ler, e& otados os jornaes de S. Paulo, parcos de novidades,e um tanto aborrecido com um romance de Charles 0erouvel comprado no1arrau&, que n%o me interessava, nem merecia interesse, pu"2me a observaros recem2che ados.

(o rosto de todos, a inquieta#%o, concentrada no menino que, apenassentado, pedira para se deitar.

3 Sinto2me t%o fraco4 E&clamou dolente. (%o tenho mais for#as4...

E com muita solicitude, creadas e molecote, au&iliando apressados osamos e obedecendo2lhes ás indica#5es, arranjaram os meios de dar melhorcommodo ao doentinho, cujos p)s i%o al)m do banco e se contraiam de cadave" que passavam os empre ados do trem.

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Sim, doente, muito doente at). E t%o s6mpathico, t%o mei o, umae&press%o de tanta do#ura na ph6sionomia, nos olhos bem ras ados,pestanudos, ne ros, scintillantes, mais do que há vida normal, uns olhos desofrimento e febre4.... 7s labios como que reviam san ue, de t%o rubros8 emcompensa#%o, as orelhas, muito randes, des raciosamente apartadas, dacabe#a, umas orelhas desmarcadas, como as do mallo rado (apole%o 9V,mostrav%o2se brancas, diaphanas, num r%o de deploravel e si nificativodescoramento.

9mpressionaram2me lo o de princ'pio os modos e as observa#5es domenino.

! cada momento, sorria para os pais com immensa ternura, repassadade melancolia, ainda que n:essa continua e commovedora cariciatransparecesse a vontade de lhes incutir cora em e esperan#as.

3 !pe"ar de tudo, disse todo supere&citado, estou mais valente do quehomem. !ssim mesmo n%o posso ainda estar olhando pela janella. ;ue pena4

/inha tanto que ver4 !penas ficar bom havemos de viajar a valer, n%o )<=evarei os meus cadernos de estudos e lucrarei muito. (%o deve havermelhor modo de aprender do que viajar. 7 livro vai sempre aberto diante dosolhos... E eu, que fa"ia outra id)a da 0antiqueira... mais sombria, mais cheiade burac5es e pedras. /%o catita, que ella )4...

E buscando outra posi#%o, emeu surdamente.

3 Sentes muita febre, bo6< Per untou a m%e com au ustia.

3 0uita, n%o... já disse á mam%e, menos do que hontem8 assim mesmotenho cá dentro em fo o4... 0as que bonita a serra desde o tunnel at) ao

Perequ>4... 3 /alve" a frialdade da a ua te tivesse feito mal, observou o pai8 dous

copos cheios...

3 ;ue mal, papai< (unca bebi com tanto osto, nunca4 Eram unscopinhos... parecia que aquella a ua devia curar2me afinal...

E como que em subdelirio?

3 ;ue bonita a descida4 Como o c)o estava puro4 Eu qui"era poder,como um passarinho, atirar2me de cabe#a para bai&o, voando, voando, porcima de todas aquellas montanhas e dobras e matarias4 E o sol comobrilhava, com um calor t%o bom, de saude8 n%o como calor de febre4 =orena,n%o ), papai< Já em bai&o, na var"ea, uns pontinhos brancos. ;uanto ) boaa vida, a vida... a ente sentir2se valente, robusto... sem necessidade detanto remedio amar o4

3 Vamos p@r2lhe o thermometro< Propo" a m%e para o marido comuma la rima a cahir2lhe da palpebra.

Recalcitrou um pouco o pobre"inho.

3 (%o, mam%e8 sempre esta massada4 Aicar parado um temp%o... epara que, afinal< Esta febre n%o quer me dei&ar... bem feli" se puder irvivendo com ella... me acostumando aos poucos.

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Resi nou2se, por)m, com racioso amuo e quedou se immovel esilencioso, com o bracinho esquerdo bem encostado ao peito.

E os olhos ne ros, pestanudos, scintillantes, iravam de um lado paraoutro, enquanto a ponta da lin ua em continua vaivem, molhava os labiosrecequidos e reatdos pelo ardor da terrivel consump#%o.

Cru"aram2se os seus olhares com os meus e tiveram como que umsorriso de s6mpathia e cordialidade, com uma pontinha de ve&ame por estarassim doente, anniquilado, n:aquella inferioridade da molestia triumphadora,invicta.

Embora um tanto casmurro na via em e nada propenso a entabolarrela#5es com adventicios companheiros de caminho, n%o me contive e,inclinando2me para o lado em que estava a m%e, per untei2lhe, abai&ando avo"?

3 Besde muito enfermo este interessante menino<

Respondeu2me e senhora com verdadeiro a#odamento de quem achauma valvula de e&pans%o a constante e incompressivel sobressalto.

30uito n%o... uns quarenta dias. (em o senhor ima ina como bo6 eraforte e s%o... dormia como um chumbinho... bom apetite sempre, avido demovimento... o6 n%o parava..., travesso como um cabritinho, muitobomsinho por)m, sempre...

E bo6 isto e bo6 aquillo. Chamava2o assim desde creancinha. !madrinha, muito dada a leituras in le"as, lhe pu"era essa appellido familiar...

3 Be que n%o osto nada, interrompeu o menino com en ra#adaseriedade. Eu me chamo !lberto.

0as a m%e continuava?

3 Daviam feito, no me" anterior, um passeio fatal á chacara de unsami os para os lados do Jardim otanico, elle se a itara de mais com oscamaradas n:umas correrias sem fim, se resfriara...

3 rincaram perto de uma valla aberta de pouco, e&plicou o pai...

3 !: noite, perturba#%o de di est%o, e desde ahi uma febre tena",rebelde, que nada pudera atalhar. /omara já quinino... um desproposito4...um horror4... Bepois continuas mudan#a, 1avea, En enho (ovo, Cascadura,

arbacena, Ca&ambu, tudo sem resultado...

3 (%o há tal, contradictou o pequeno, já estive pior... E:n%odesanimarmos. 7lhem, fa#am tudo para n%o me dei&arem morrer... /enhotanto que aprender e estudar4... ;ue atra"o este tempo todo em pura perda4Como o Cardoso e o Sou"a devem ter2se adiantado nas aulas4... ;uando )que hei de pe al2os a ora<...

(%o pensava n:outra cousa, ia2me di"endo a m%e, enquanto asla rimas, como que já por habito, lhe corriam a fio. /%o boa crean#a, t%oestimada de todos, estudioso... tanto estimulo4 ma ambi#%o insaciavel desaber... 0uitas ve"es se levantara ella da cama para apa ar2lhe a vela efa"el2o deitar2se... !rdendo em febre, pedia os livros, queria se uir as li#5es,

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ouvir os professores... (unca se vira cousa i ual... /irara já bonitospremios... livros muito dourados, com ravuras...

3 Já mam%e está falando de mim, interrompeu !lberto com li eiro tomde reprehens%o. Este senhor há de desculpar... ) de toda a m%e. (%o soumelhor do que tantos outros...

E o seu rosto emsombreceu2se.

3 Pelo contrario, valem mais do que eu, muito mais...

3 Porque, meu ami uinho< Per untei commovido.

37h4 Elles t>m saude8 eu nunca mais hei de tel2a, ainda que escaped:esta... /ambem, d:ora em diante saberei arredar2me sempre de vallasabertas... Verdade ) que me diverti tanto4

E recome#ava o sub2delirio?

Cada qual nascera com a sua sorte. 7 Carlinhos, que cahira dentro dofosso e se molhara dos p)s á cabe#a n%o tivera nada... e elle4... ;uanto serira, que boas ar alhadas d)ra, vendo o companheiro atolado... Sahira sujode lama, que era uma miseria... E a borboleta a"ul que estavam perse uindofu ira, fu ira8 subindo muito alto... E as a"as tinham2se aberto lar as,immensas, como um manto... tomando d:alli o pouco o c)o todo, de ponta aponta... /ambem, que lembran#a, querermos pe ar o c)o... o c)o4

!hi, fa"endo um esfor#o sobre si, per untou impaciente?

3 Papae, n%o ) tempo de tirar o thermometro< Está me incommodando.

!l)m da febre e s>de... esta cacetea#%o4...Era tempo.

3;uantos raus< 9nda ou a m%e com dolorosa sofre uid%o.

3 -FG e F, respondeu o pai. Doje, bem melhor d o que hontem, pois aesta hora !lberto tinha -H e .

Via2se por)m, que encobrira a verdade, pois destoavam asaquietadoras palavras com o ar de desalento que simultaneamente se lheestampava no rosto. !o uardar o thermometro no estojo de metal, fe"2meimperceptivel si nal.

=evantei2me e fin i que ia refrescar o rosto no cubiculo ao lado,poeirento e sujo toilette do va %o.

B:ahi a pouco, che ava o homem.

3 -H e F, foram as suas primeiras palavras, pontuadas de terror.

E, acabrunhado, po"2me a contar o caso, banal, diario, t%o commum,mas sempre pun itivo da sua immensa des ra#a. Esse menino, a ale ria dasua vida, a vida da sua mulher, ricos elles, sem mais objectivo al um nae&istencia. ! ora, aquella febre invencivel, que "ombára de tudo e lhesestava matando a adorada crean#a, debai&o dos olhos, dia por dia. 0udemde ares, era o incessante conselho dos medicos8 o recurso *nico que lhes

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restava. E n%o fa"iam outra cousa8 de um lado para outro, semanas inteiras.Para onde mais ir< E os terrores em lo ares distantes, ermos, sem recursos,sem para quem appellar, quando vinham acessos de estupenda violencia4...

!o tomar ent%o nos bra#os o filho, parecia que o tirava de umbra"eiro... queimava... Como poderia por mais tempo resistir or anismo t%odelicado<... ;ue cruel e&pia#%o era essa< E e&pia#%o porque< !final, nemelle, nem a mulher tinham culpas ou crimes a pa ar< Porque os esma ava,t%o dura, a m%o de Beus< Be que o acusava a justi#a eterna< Confessava /ersido sempre bastante or ulhoso dos haveres herdados e sobretudo d:aquellefilho t%o perfeito... 0as quem o fi"era assim< (%o fora a propria nature"a<Casára2se por amor com uma mo#a pobre, rejeitando propostas de enlacesricos. (unca se arrependera, por)m... haviam, at) pouco, sido t%oventurosos4 Parecia que a felicidade era um crime. ! vida devia ser triste,a oniada, passada em la rimas e travada de amar os des ostos...

E ao di"er tudo isso, ape"ar de violento esfor#o, tinha as palpebrasmolhadas. Via2se que aquelle homem sofria cruelmente, sobretudo na altive"

innata, ao ter que abrir o peito, por irresistivel impulso, a um desconhecidoque arvorava, na conturba#%o da sua dor, em ami o e ami o intimo.

Pouco se importIra, a principio, com a tal febre, n%o pelas affirma#5es,sempre tranquillisadoras, dos muitos medicos consultados, a mestran#a,portanto, ra#as a Beus, podia pa al2os enerosamente8 mas afi urava2se2lhe impossivel, f ra de toda a ordem, lei e justi#a, que a vida do seu !lbertopudesse peri ar. (em de leve lhe passara isso pela mente... nunca4...

m menino destinado a tanta cousa4 Davia de ser, por for#a, homeme&cepcional, conquistar as mais altas posi#5es no rasil, dando presti io áenorme fortuna que lhe era destinada... Derdeiro universal do av@ riquissimo,

com duas tias solteironas, de que era o ai2Jesus, ambas com muitas posses,quem podia contar com futuro mais brilhante<... Elles, os pais, tinham derenda mensal nada menos de cinco contos e astavam2na com re ra eprudencia, fa"endo ás ve"es apertadas economias, para que o !lberto na suacarreira pol'tica jamais se preocupasse com o dinheiro, encontrando2osempre á m%o... /udo isso, tudo seria debalde< !rredava do espirito ápossibilidade de irremediavel desastre...mas...

E a custo lhe sahiam as palavras... mas a morte a nada attende... anada4 ine&oravel4

Prorompendo ent%o em solu#oso pranto, a arrou2se a mim,convulsivamente.

3 !h4 meu filho, !lberto4 ;uanto ) casti ada a minha soberba4 Estáperdido... perdido4... E por quanto tempo, por quantos dias ainda o hei depossuir<

Sacudi2o com certa ener ia?

3 Silencio4 Sua senhora p de ouvil2o4 7lhe, lave o rosto8 esconda ossi naes da sua commo#%o. (aturalmente e&a erava o peri o...

7 desconsolado pai abanou a cabe#a8 mas obedeceu2me oppresso ealquebrado.

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II

;uando voltamos aos nossos bancos, parecia !lberto presa de a itadosonno. Pelo menos, tinha as palpebras cahidas, como que prostradas porvontade alheia ao or anismo.

Via2se que febre intensa lhe trabalhava nas veias $ faces escarlates,bei#os rubros, estremecimentos repetidos por todo o corpo, ful urantes.Relampa os de frio $ assim nos dissera $ lhe "i "a avam pela espinhadorsal, contrahindo2lhe, de cada ve", os bracinhos ma ros, descarnados.

3 ! ua, a ua, murmurou a custo, depois de al um tempo e abrindocom sofre uid%o os labios seccos, ávidos.

7 molec te, !presentou2lhe rapido um copinho de leite, cortado coma ua mineral.

3 0i , nhonh@< Per untou bai&inho com e&press%o de tocante e

inquieto interesse, mi sinho. Com um esto de dedo, respondeu n%o o pobre do menino.

Em e&tatica e ine&cedivel desola#%o, o contemplava a m%i, ache andoos cobertores, quando um movimento mais impacientado e vivo do doente osatirava ao ch%o, n:aquellas crudelissimas alternativas de al ide" e deinaturavel calor.

3 !penas che armos ao Rio2 disse ella para o marido, que,sorumbatico, olhava pela janela a fu itiva paisa em $ devemos lo oembarcar, fa"er uma lon a via em de mar, talve" at) á Europa...

Entreabriu !lberto os olhos e, em tom de li eira mal'cia, objectou?

3 7ra, a malvada embarcará comnosco... Está dentro de mim8 n%o melar ará mais...

E o trem corria, corria4 Entre 0endes e Rodeio, en olfou2se no tunnelrande, acordando barulhos ensurdecedores, de fantasticos ferros a se

chocarem, sopros i antescos, estalos enormes e suffocadora fuma#a.

3 0am%e... mam%e4 Chamou o menino com indi"ivel an ustia.

E ella, inclinando2se toda sobre o malsinado, como que a defendel2o dem6sterioso inimi o, a chorar, o acalentava, qual creancinha de ber#o.

9a ent%o desembocando em offuscadora claridade a locomotiva,triumphante e a apitar estridente e alhofeira.

3 Como ) boa a lu", como ) boa4 E&clamou !lberto er uendonervosamente a cabe#a e com ar de verdadeira e&ulta#%o. Pensei que iamorrer. ! morte deve ser assim8 um tunnel, do qual a ente n%o sai maisnunca, comprido, comprido e t%o escuro, Santo Beus4... E onde a boa mam%epara animar o filhinho... s , abandonado4...

(%o sei por que, jul uei dever intervir, como que desvendarconsoladora clareira ás ne ras id)as d:aquelle menino t%o combalido eamea#ado.

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3(%o, !lberto, repliquei com involuntaria ravidade e imposi#%o, namorte há tambem muita lu", muita esperan#a, muito c)o, o verdadeiro c)o,sempre a"ul e randioso... (a morte, mil ale rias e o"os esperam a alma,como a vida n%o as p de dar...7 tunnel acaba lo o... come#a depois semdemora a realidade, eterna, cheia de encantos e esplendores... 9limitada ) abondade do immenso Creador4

E estaquei, ve&ado do que acabara de e&pender na vivacidadeespontanea daquella especie de prele#%o t%o descabida.

0ostrára !lberto certa sorpre"a ao ouvir essas palavras, e, encarando2me muito s)rio, respondeu com resi nado desalento.

3 P de ser, p de bem ser... mas eu n%o quero ainda morrer4...

E retrahiu2se ao silencio. Be ve" em quando tiritava, encolhendo2setodo e a bater os quei&os. uscava, por)m, cauteloso, dominarmanifesta#5es que impressionassem mais os paes, attentos ao menor

s6mptoma de a rava#%o, t%o attentos quanto impotentes e vencidos8pobres, pobres paes4

Passada a esta#%o de el)m, já noite escura, observou a m%i, paradi"er qualquer cousa, que o trem n%o parava mais sen%o no Rio, no campo da!cclama#%o.

Contrariou2a !lberto com inesperada alacridade e, nos olhossubitamente accesos, pareceu /er sin ular pra"er em assentar incontestavelverdade?

3 (%o, senhora8 pára ainda em Cascadura.

E como suscitasse duvida o que affirmava, eu mesmo opinando contraelle, mostrou bastante resolu#%o e jovialidade em sustentar a suaassevera#%o.

3 Voc> n%o se lembra, Jos), que o trem de S%o Paulo costuma pararem Cascadura< Per untou para o molec te, levantando2se a meio.

3 9@, nhonh@< Respondeu o pa emsinho todo assarapantado, i@, n%o...u)4

E tal a fi ura atrapalhada do ne rinho pela obri a#%o de interp@r jui"ono debate, que n%o pudemos, todos n s, dei&ar de sorrir.

3 ;ue tolinho4 E&clamou !lberto.

E deu uma risadinha ostosa. Bepois cahiu novamente em comatosoabatimento.

E, á lu" vacillante, cheia de vaivens, quasi sinistra das fumosaslampadas, o iamos observando, cada qual entre ue a penosas medita#5esque se concentravam, em doloroso acc@rdo, n:um ponto *nico.

9dentificado, como se fosse velho ami o, ou, mais ainda, parenteche ado d:essa ente, que eu nem de lon e conhecia, cujo nome i norava enem sequer procurava saber, soffria com elles n:uma contens%o dura,cruciante, numa affinidade affectiva de maior intensidade e violencia.

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;ue via em interminavel4 ;ue hora aquella4 /udo t%o sombrio em tornode n s4 Cessara a chuva8 mas as trevas humidas, ottejantes, secondensavam carrancudas, cali inosas, como que palpaveis. E a cada esta#%oeram apitos e assobios de perfurarem os ouvidos, ou ent%o clamoresan ustiosos e um bater de sino melancolico, lu ubre, a dobrar finados.

3 !inda por cima este a ouro, murmurou uma das creadas num comomuch@cho.

Em Cascadura parou, com effeito, o e&presso, e um trem de suburbioscom elle cru"ou n:um estrondear ensurdecedor de fra orosos ritos, uivos esibillos, como que a annunciarem pavoroso e iremediavel desastre, choqueshorriveis, encontro medonho.

3 o6, bo6, clamou a m%i simulando certo jubilo, voc> ) que tinhara"%o4 7lha...

3 (honh@, nhonh@, avisou por seu turno o molec te ache ando2se e

pu&ando de leve o doentinho por um bra#o, tá hi Cascadura.Conservou2se !lberto inerte, indifferente, suspirou apenas com mais

for#a.

3 7 tunnel... o tunnel... Bepois vem lu" e c)o... em me disse ohomem...

3 (%o será bom v>r o thermometro< Propo" a m%i com respira#%ocortada, offe ante.

3 (%o, mam%e, pelo amor de Beus, poude ainda implorar o pequeno.

Já ahi entraramos na "ona dos suburbios e os lampe5es de a", cadave" mais che ados, indicavam a pro&imidade da capital. !s esta#5es todasilluminadas, cheias de borborinho e anima#%o populares. (uma d:ellas tocavauma banda de musica saltitante pe#a e o contraste d:esses alle rescompassos mais me apertou o cora#%o.

Revoltava2se, comtudo, o meu e o'smo. ;ue necessidade essa de meassociar a todo aquelle drama intimo, que me tra"ia t%o consternadoenquanto me abalava o s6stema nervoso< Por que n%o mudava de lo ar, n%oprocurava outro qualquer va %o< !final, n%o era aquillo t%o comesinho< (%oassistira a tantos episodios de a onia e morte< 0ais uma crian#a quedesapparecia no barathro insondavel... para dar ra"%o ás estatisticas. ;ueimportancia no desenrolar eral da e&istencia< 1otta d:a ua pura e cr6stalinaa cahir no ab6smo... (%o era, mesmo por isto, um afortunado da sorte<Sahia da vida sem as miserias e desillus5es que a v%o assaltando... limpo detoda a poeira e lama...

Procurava distrahir o espirito8 mas ahi se me prenderam as vistasinsistentes, teimosas, h6pnotisadas aos olhos ent%o lar amente abertos de!lberto, n%o mais desassoce ados e em tresvario, mas num movimento lentode oscilla#%o, como que destacados das orbitas a se me&erem um tanto aoacaso. Be quando em quando parecia que se sumi%o, cahidos, sem maisapoio, dentro do craneo vasio, oco. E me di"iam, assim mesmo, tanta cousa,me falavam de tantos m6sterios, me interpellavam com tamanhaanciedade4...

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9nterro avam supplices, mei os, quem, em boa hora, lhe d)ra domundo de al)m id)a outra, que n%o de simples terror e aniquilamento parasempre, n:aquelle instante t%o pro&imo da suprema partida.

Sim, dev)ras, lá, f ra d:aqui, tambem s es, tambem flores,esperan#as, carinhos< /ambem o aconche o doce, protector de entes bons,superiores, compassivos< Palavra<4 Podia confiar< (%o o qui"era en anar... !leval2o d:alli a pouco, lon e, lon e, pela immensidade na desconhecidavia em, o re a#o de al um anjo, faria ve"es da estremecida m%i< Para que,por)m, dei&al2a< Para que despeda#ar o cora#%o d:aquelles fulminados pais<!mavam2n:o tanto, tanto4

;uem incutira, por)m, a esse homem desconhecido o poder de saberquanto se passava da outra banda da vida< /alve" fosse um d:esses anjosdestinados a carre al2o, n%o era<... !h4 o disfarce mostrava2se bem claro4Por que, por)m, n%o se dei&ava enternecer< (%o via a pun ente d@r dos queo cercavam< Pedisse a Beus misericordia... consentisse2lhe o viver... !nin uem, nunca fi"era mal al um... Promettia tudo... n%o por elle, mas pelos

paes... Passaria os annos a estudar, a dispensar o bem, o amor, a pa ar adivida solemne de interminavel ratid%o4 Senta quieto, reflectido, honesto,caridoso, a sacrificar2se pelos outros, por todos...ami o dos humildes, dosmendi os e des ra#ados4... 0as tivesse pressa... do contrario n%o o achariamais na terra... em sentia a morte...sim, a morte...

Passou mais um trem de suburbios com assustador estampido?

7uvisse, ouvisse4... !hi vinha ella... ;ue medo4... E já estava como quesosinho... via2se na cova estreitra com um mundo de terra por cima do seucorpinho t%o batido pela molestia4

3 (%o, n%o4 Davia de /er cora em... dominava o seu terror, emborabem justo, bem natural4... Crean#a, saberia morrer como homem... Poderiaestar chorando nos bra#os de pae e m%e, mas para que< Para tortural2osmais< ;uem sabe se n%o haviam de morrer tambem alli4 Viessem, viessempara cobrirem de flores o cantinho que eternamente o acolheria no cemiterio,alvo, consolador com tantos cru"es e anjinho de marmore a re"arem.

Bebalde buscava eu fu ir I obsess%o. Buas ve"es me levantei8 masirresistivelmente voltava a conversar com aquelles olhos, cada ve" maisresi nados, penetrantes e de dolorosa eloquencia, cheios de sorpre"as,desconsolos e revoltas, com ener ia sopitados...

preciso, ) preciso8 que fa"er<

em qui"era estar pensando, como menino, em cousas futeis erisonhas e da sua idade, mas tinha por for#a que cuidar no que há de maisserio e triste, na morte... morte4

E já as pupillas ne ras, virando de ve" em quando, se escondiam sobas arcadas orbiculares, buscando v>r al)m, para dentro do pobre or anismocombalido... E já se fi&ava, no bater lento das paloebras pesadas, plumbeas,impenetravel, o branco das escleroticas, como alvacento panno cahido descena finda, acabada...

E os bicos de a" illuminavam de f ra, intermitantemente, o va %o,como que em fantasma orica visita, dando repentina lu" a todos os recantosou dei&ando2o de subito em completa escurid%o...

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9amos che ando, e no rostosinho de !lberto se desdobrava o pallor dosultimos instantes. Besbotava2se a rubide" das faces incendidas e afilava2se, amais e mais, o nari" correcto, aquilino.

Já a lu" electrica che ava at) n s.

E o trem estacou com o baque de definitiva parada, salteado peloscarre adores em rita? K0alas, malas4 a a ens4 (. L, n. M-4N

3 =eve ao hombro o seu filho, disse eu para o pae, elle está...

E a palavra Ke&pirandoN ficou2me atravessada na ar anta.

Parado, immovel, os vi partir, a todos. 7 pae, na frente, com o sa radofardo, a m%e, trope a, f ra de si, no bra#o das creadas em solu#os, atra" omolecote com cobertores e chales...

E no va %o va"io, como que continuei a fitar aquelles olhos ardentes,

inda adores, t%o suaves no in ente desespero, na duvida do problemaeterno...

Poor bo6, alas4

CI ANIN A

(A A""ON#O CE$#O% PRIMORO#O E#CRIPTOR)

I

Chamavam2lhe Ci aninha, e a principio tambem 0a ri#a.

E&asperava2a, por)m, este apellido. ;uando o ouvia K ,ma ri#a4Nvoltava2se rapida, furiosa, com os olhos a chammejar, e torcia acara toda nuns es ares muito feios de bru&a velha, botando para f ra umalin ua de palmo, fina, comprida, serpentina. Soltava at) rossas palavradas.

Com a outra alcunha n%o se importava. Er uia os hombros num estode e&pressivo pouco caso e concordava resmun ando?

3 Se sou mesma4

Por lei fatidica dos contrates, havia recebido na pia baptismal o nome,que nunca dev>ra confirmar, de !n elica $ d:ahi 1> )ca ou 1) )ca, comocostumava di"er a m%e, abrindo os ee de modo especial e descan#ado, eaccrescentando sempre com lan uido suspiro de pe"ar?

3 m diabrete, esta m)nina.

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Besde bem pequena, mostrara com effeito, indole muito independente,enio violento, ami o de fa"er as suas quatro vontades, auda", altivo e

arrebatado, de par com muitos cahidos e en ra#adas momices e caricias comquem lhe cahia no @to, ou permanentemente ou em horas de caprichosobom humor.

Positivamente endiabrada, s ostava de andar á volta com rapa"es emolequinhos, arotos de sua idade mais ou menos, furando mata aes,correndo pelas var"eas, espojando2se na relva, dei&ando2se rolar pelobarranco de areia at) quasi dentro do rio, lar o, ma estoso, esfran alhadasempre, com as saias em molambos, o corpete a lhe cahir pelos hombrinhosma ros, descarnados, as pernas á vista, n*as, nervosas, es al adas, p)s noch%o, um tanto randes e maltratados, mas n%o espalmados e chatos.

!t) perto dos +O anos, nin uem como ella, a Ci aninha, para treparnas arvores e apanhar frutas ou e&co itar e descobrir ninhos de passarinhona rama em mais folhuda e entran#ada e p@r2lhes o adanho em cima.

! il como um sa ui, leve que nem miudo e racioso ca&in uel>, eramde ver2se o eito e a firme"a com que sabia a arrar2se ao tronco liso eescorre adio das jaboticabeiras do matto e descascadas oiabeiras, indo semvacillar pelos alhos abertos at) aos ramos mais finos, que sacudia comvi or, para fa"er tombar al uma oiaba teimosa e lon e da m%o avida,impaciente.

E lá ia tambem pelas laran eiras acima, uma perna aqui, outra acolá,escarrapachadas, sem se lhe dar com os espinhos a udos, mina"es,alcan#ando n:um apice as fran#as mais fle&iveis e peri osas.

3 (%o quero que olhem para cima, bradava lá do alto, imperiosa, aos

companheiros a rupados em bai&o, á espera dos pomos que ia colhendo earremessando.

7bedeciam2lhe de prompto, porquanto o rosto de al um mais curioso epetulante ficava lo o sujeito a moralisador e temido casti o ebombardeio.Para prova, o filho do 0an)ca Aructuoso, que se vira em risco deperder o olho esquerdo, quasi vasado por uma laranja verde, atirada compulso vi oroso e afeito a acertar no alvo.

0uitos dias ficára como e&emplo aquella face inchada e rubra, ámaneira de uma b la vermelha8 e a todos e&plicava o ludibriado dono?

3 !rtes do demonio da Ci aninha8 mas há de pa ar2me, t%o certo comodous e dous s%o quatro.

;u)das a valer levára ella das continuas e atrevidas ascens5es, mascom t%o pouco n%o se occupava. Passado o atordoamento do baque em s loduro, e compondo2se depressa, pulava de contente ao verificar que aindad:essa ve" n%o ficára com membro al um partido ou deslocado, tendo emnenhuma conta arranhaduras fundas e dolorosas contus5es.

(o meio de todos esses desmando e reparaveis e&trava ancias,sin ular recato, instinctivo e selvatico pudor. !ssim, jamais acceitara tomar,de dia, banho no rio, em sucia e duvidosa promiscuidade com os camaradasde travessuras. anhava2se diariamente, sim, mas s sinha, á hora em que atarde ia se fechando noute, e sempre prote ida por frondoso sal ueiro, que

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ainda mais ensombrava a bacia natural, onde immer ia o racil e del adocorpinho.

ma feita, já bem crescidinha, voltara á casa coberta de san ue vivo,uma rande brecha aberta na cabe#a.

3 (%o ) nada, mam%i, affirmava toda e&ultante, com fei#%o de le itimotriumpho? uma batalha de pedras, bonita como tudo, com os filhos da (arcisa0ofina. Bel2lhes que foi um re alo. 7 Juca anda sempre me chamando paraas bib cas, a fa"er2se de cebo commi o, pois bem, levou at) ao c)o dabocca. Eu... contra quatro, hein< (%o arredei p) enquanto n%o os debandei.S a ora ) que senti que me tinham tirado mel da cachola... Canalhas4

E ainda se es rimia e&altada, a p@r em fu a os numerosos adversarios.

(%o cabia em si de ufana.

3 ;uatro, mam%i, quatro contra a filhinha de seu cora#%o4

3 0as, menina, observava com tom plan ente e arrastado a pobre dam%e, isto lá s%o modos de rapari as< 7nde vai vance parar< ;ue d)s ostosme esperam mais n:esta vida de s pplicios< (%o basta o que tenho soffrido<

E desatava a chorar.

0uito dada a la rimas essa B. Cula, diminutivo de Clotilde, usual emtodo o interior do rasil8 muito choramin adora, a boa da mulher, /ambem,havia sido t%o desventuroso na sua e&istencia penosa, solitaria, predestinadaaos abandonos4

Sempre feia, desen&abida, es aivotada, pallida como c>ra, n:umemaciamento desconsolado de penuria constante e aniquiladora, era filha decasal pauperrimo, que a dei&ára orph% bem c>do, sem um cobre +Q no fundode velha bruáca.

Vivera ao Beus dará, muito quietinha, retrahida e medrosa a curtirne ra miseria de contorcer estoma o e intestinos, e a uentando2se comopodia com umas costura"inhas e bordados de crivo, que lhe pa avam umaninharia.

Vi)ra, depois, um ci ano de arriba#%o, muito prestimoso e bulhento,atirado a conquistador, e, sem mais nem menos, se mettera com ella,procurando sobretudo e&plorar2lhe o trabalho e obri ando2a a fa"er doce defruta de lobo, vendido aos tropeiros como marmelada, e mais sequilhos ebolos de arro" e milho.

;uasi nada rendia o tal ne ocio, porque, al)m de tudo, o malandrino,uloso e lut%o por nature"a, comia o melhor do que pretendia e&por á

venda. Ent%o, com rande d e escandalo da vi"inhan#a, come#ou a infeli" aser, dia e noite, quasi sem intervallo, malhada pelo patife do ami o. ;uantabordoada4 ;ue sovas de moerem os ossos4

Be repente, ap s muita bar anha aladroada, falcatruas ver onhosas einnumeras dividas contrahidas a torto e a direito, desappareceu o desbriadoci ano2 e para todo sempre. Aoi2se embora, sem di"er adeus a nin uem,internando2se pelo sert%o fundo. Corria depois que acabara ás m%os dosindios !ffonsos, o que de certo bem merecera.

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Si nal da sua passa em, al)m do volumoso abdomen da Cula, s umcofresinho de bom peso e fechado com cadeado de se redo cabalistico, que aabandonada conservava com m6sterioso cuidado e s)rio terror de feiti#arias.

+Q ;uarenta r)isEm todo o caso, ficara a coitada ravida e s tinha de seu a casinha

de esburacadas paredes de

ad@bo e cobertura de sap> na barranca do rio, casinha em que depancada lhe haviam morrido pae e m%e, e testemunha indifferente dascolossaes e repetidas tundas. Ella i norava at) se lhe pertencia ou n%o.

Bo terreirosinho de costume muito varrido e limpo, se via de fronte oParanah6ba, todo espraiado, solemne, raramente ludroso, quasi sempre puroe de a uas claras, a reflectir, como que em espelho animado e corredio, tudo

quanto se passava lá em cima, no C)o de (osso Senhor Jesus Christo e daSantissima Vir em 0aria. (o alto e embai&o, que combina#5es de cores, aoesplendido arrebol da manh% e da tarde nas multiplas muta#5es ephantasma orias das nuvens leves e doudejantes ou pesadas e immoveis,illuminadas pelo descambar do sol4...

!o brilho sereno do luar, ent%o, que encantos, que quadros formosos,diversos, cambiantes, ora mei os e risonhos, ora melancolicos, quasisombrios, de dei&arem a ente cheia de scismas tristes e presa as4...

Ba calmorreada e soffredora Cula se apiedaram, por)m, os vi"inhos8 ecada qual a ajudou como poude $ uma alinha idosa, meia du"ia de ovos, ou

uma cadeira furada, um catre de couro já inservivel, chicaras e poteesborcinados, miude"as e trastes de refu o, em e&tremo usados, quasi detodo imprestaveis.

/odos eram t%o pobres4

! pouco e pouco, nascida a 1> )ca, foi se tornando B. Cula estimada,credora at) de certa considera#%o, sempre muito s)ria e di na nos seuse&tremos apuros e necessidades, activa ao seu modo e fa"endo quanto podiapela vida.

Entretinha rela#5es de amisade com familias boas do lo ar, que lhepa avam as visitas8 e, quando o vi ario do Curralinho vinha at) o povoado,parava sempre lá para apreciar o seu caf)sinho ostoso e quente, embora emchicara de folha de Alandres, que esfria depressa a bebida, queimandoosbei#os de quem a toma, caf)sinho acompanhado de umas br@as ebrevidades muito bem feitas, pois nin uem as preparava melhor do que ella,ap s as severas e t%o accentuadas li#5es do perfido e brutal amante.

E assim se iam os dias escoando.

Se redavam as más lin uas, e á frente de todos me&ericava comsorrisos ironico e ares de despre"o o Jos) ispo, dono da venda mais bemsortida e afre uesada, que, alta noute, n%o havendo luar, costumavam rondara porta da sisuda B. Cula certos vultos suspeitos, talve" o vi ario ou entemais limpa e apatacada das tropas e boiadas, por alli de pouso, antes detransporem o rande rio.

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;uem está, por)m, livre de calumnias e deni ra#5es<

Bepois da sua primeira e sabida des ra#a, tinha a mulher tantacompostura e t%o resi nada di nidade que s mesmo a bisbilhotice de aldeiapodia esmerilhar duvidosas h6potheses, levando a mal as taes visitas, aindaque a deshoras. E a miseria e a fome...bem más conselheiras4

Bemais, já dissemos, n%o era nada appetecivel, descorada e pamonhacomo tudo, nos modos e no fallar.

Com sotaque molle e cantado fa"ia justi#a a si mesma, em invenciveldesalento e abandono?

3 Eu sou t%o enj ada4 ;uem há de me qu)rer<

II

Bevia, com effeito, a peste do ci ano ter sido das arabias, ou sel2oainda, caso houvesse escapado das unhas dos temidos indios !ffonsos.

Ai"era da nature"a apathica, dorminhoca, con ochosa da Cula surdir,para pasmo constante de todos, lepida, escorreita, andarilha, em continuame&onada, a 1> )ca, a Ci aninha, cousa totalmente diversa, opposta,antinomica, um a"ou ue, uma a ua viva, le itimo producto do tinhoso.

(%o podia estar quieta e parada dous minutos, com uns modosa"oinados, bruscos, espontaneos, selva ens.

/inha, positivamente, bicho carpinteiro em certa parte do corpo, que aente de lá desi nava com a maior sem cerimonia.

E bem falante, muito e&plicada, respondona como a maior dasmalcreadas, sempre com a palavra do Cambronne na boca, prompta paradesferil2a, como se estivesse no quadrado da uarda imperial, em aterloo,replicando á intima#%o dos in le"es.

ma occasi%o em que a m%i, toda lacrimosa a reprehendia, accusada,como f@ra, de ter furtado um pombinho nu)lo á 0aria Rabolona, lavadeira noporto, umas casas abai&o?

3 (%o fui eu, defendia2se, nunca minto... se o tivesse surrupiado,confessava... Já lhe disse... n%o fui eu.

E como B. Cula insistisse, amaldi#oando as escapadas e traquinices jábastante raves, atirou2lhe ás bochechas?

3 7ra, mam%i, de que serviu tamb)m m>c) ter sido sempre boa,soce ada, mettida comsi o, uma santinha< 7 malvado do ci ano n%o lhe fe"mal, n%o a surrou como boi corneta e n%o a dei&ou de ve" com a pan#acheia<

3 0enina4 radou B. Cula aterrada levando as m%os á cabe#a, quem teensinou tudo isso< 7lha, diabinho, Beus te há de casti ar4 Santo Christo, queserá de n s<

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3 Bei&e2se d:isso, replicou philosophicamente a Ci aninha correndo jápara a porta, Beus tem muito em que cuidar. ;uando se lembrar de mim, jáa raiva terá passado... ! 0aria Rebolona, que n%o se fa#a de en ra#adacommi o... Sujo2lhe, num dia de chuva, toda a roupa estendida no

ramado... Dei de avisal2a uma ve" por todas...

Esse furto do pombo nu)lo... Para que insistir2mos< ... Por acaso, B.Cula n%o teve sempre bons caldos, quando esteve t%o doente< ;uasi esticáraa canella, coitadinha, sem cirur i%o ou curandeiro, que a visse por caridade,nem remedio nenhum, nenhum para tomar42 E melhorsinha, n%o comeraprata"ios de arro" bem co"ido, em que se poderiam v>r ossadas bastantesuspeitas, at) de ordas alinhas<

Che ou a beber seus calicesinhos de vino do Porto, comprado a omartello na venda do Jos) ispo, o que serviu, semanas e semanas, dethema a muita historia aiata, lon os commentarios e malevolas conjecturas.

Pois, senhores, tudo falso e inventado, quanto ao vinho, pelo menos.

;uerem saber a verdade< Por Beus (osso Senhor Jesus Christo, que está nosvendo e nos ouvindo.

Biss)ra um tropeiro para B. Cula?

3 Vanc>, dona, do que precisa ) tomar todos os dias uns dous bonsdedos de vinho do Porto, da venda... Sem isto, n%o sára... n%o pode arribart%o cedo.

3 0%i de misericordia4 Retrucava a a orentada mart6r, que ) dacobreira para comprar a tal m)"inha<...

3 Dá de se arranjar, declarou 1> )ca, que se impressionara com oconselho.

E como costumava a miudo sopesar curiosa o cofresinho esquecido pelotrastalh%o do ci ano, n:esse dia o levou ás escondidas para f ra de casa e oarrombou no cerrado, sem a menor hesita#%o.

3 Vamos ver, diss)ra para si, o que nos dei&ou o sem ver onha do meupae.

!chou umas bu i an as, alhosinhos de arruda seccos, umas pedrasredondinhas pretas e verdes, tres fi as de madeira poida e dous collarescompridos de ouro ou prata dourada, al)m de muitos papeis com si naesesdru&ulos, trian ulos, meias luas, crescentes e estrellas rabudas.

3 Biabo o leve, o bru&o, ou o uarde por lá4 E&clamou persi nando2se,um tanto assustada. E, recolhendo s o que para ella tinha valor, jo ou omais dentro do rio, em lo ar bem fundo.

/ratou lo o de redu"ir a dinheiro um dos collares, uardando o outropara si ou para maior de espadas, e foi prop@r a venda a um boiadeiropachola, que se abarolava de apatacado.

3 7nde campeou vanc> isto< Per untou o homem olhando2a dees uelha, todo desconfoado. Passou a unha<

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3 (%o ) da sua conta, si@ besta, foi a resposta. ;uanto quer dar pelolavrado<

Propo" quantia visivelmente ridicula. !cordado, por)m, o instincto done ocio no san ue ci ano, conse uiu a menina o dobro do primeiro pre#o.

E assim p de a chlorotica m%i, a quem tudo lo o contou, saborear osseus dedosinhos do apre oado e lu&uoso vinho do Porto.

3 0as, filha dos meus pecados, observou assombrada, quem nos di"que no cofre n%o havia mandin a< !s des ra#as v%o chover em cima de n sduas...

3 ;ual4 Aoi muito bom8 acabou2se a ora a caip ra... 0ec> verá4...

3 Santa Rita nos proteja4... Se aquelle homem por cá aparecer, dá cabode n s, n%o há que duvidar... a poder de tanta bordoada.

Ae" a Ci aninha si nificativo esto de m fa e incredulidade? 3 7 diabo n%o ) t%o feio como se pinta... Elle que venha4... Dá de ouvir

boas... da minha boca4

E partiu em disparada, chilrando como um pintassil o.

!tirava 1> )ca bodoque como poucos e lá ia com uma sac la de bolasde barro pelas mattas, de onde voltava sempre com al uma ca#a, papa aios,tucanos, rallias e um ou outro mutum, que vendia por dous cru"ados, ou at)vinte e cinco cobres a al um dono de tropa.

Preferia mil ve"es essas correrias com meninotes de sua idade, já ent%otaludinha, a ficar estatelada á porta da casinha de sap>, res uardando dasmoscas e vi iando o taboleiro de sequilhos e brevidades, á espera dosposs'veis fre ue"es. E, enuina herdeira do espirito uloso e petiscador dopai, n%o vendia um bolinho, que lo o n%o roesse um bocadinho, dous ou tresna parte inferior, menos visivel.

!dmitia sem pie uice muita ra#ola, at) pesada, e ria2se com osto,mostrando os dentes bonitos, alvos, i uaes $ cousa rara no interior $ quandoá sua vista contavam historias e anedotas bem crespas8 n%o lhe tocassem,por)m, no corpo, lá isto n%o. /inha a m%o leve como tudo e dava bofetadasde estalar aos que lhe beliscassem os quadris e as pernas, ainda bem finas.0usculosa e li eira, passava ent%o taes rasteiras, que os aiatos e pelintrotesiam ao ch%o com randes batec*s e lá ficavam chiando de d@r, no meio dasestrepidosas vaias do rapa"io.

(%o falassem mal da m%e, n%o se atrevessem a a arral2a de certomodo, ou n%o lhe fi"essem propostas equivocas, era incontinenti umasurriada de nomes feios e cabelludos, capa" de p@r tonto qualquer soldadotarimbeiro. E por cima, muitas caretas e ademanes violentos de desafio eamea#a, com ener icos bamboleios de capoeira em.

Sempre mal ajorcada, esfarrapada, as faces meio sujas, as unhascaireladas, cabellos des renhados, rebeldes, todos em carac es ecalamistrados, verdadeira aforina, fincava n:elles uma fl@r vermelha, al ummimo de Venus, e passeava serena o or ulho da sua ra#a, quando n%o dava

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cabriolas caprinas ou fa"ia mil maluquices, na e&pans%o dos inesperadosimpetos.

Vo" eral no povoado?

3 Esta rapari uinha leva a br)ca de repente8 acaba muito mal. Pobre daB. Cula, que filha lhe p@" nos quartos o maldito do ci ano4 Cru"es4 Bev)ras,caipora assim ) tambem demais... /alve", o cujo fosse o diabo em pessoa.../e arren o, abernuncio4 S mesmo o demonio ) que podia ter a cora em deesbordor todos os dias a des ra#ada ami a...era a ra#%o... 0ila re, que adei&asse com bra#os e pernas... n%o lhe tivesse aberto a cova com tantaporretada4...

Pelo que se v>, as surras de outr:ora haviam entrado nas tradi#5espopulares. /ambem n%o poucas mulheres de má vida, as fadistas, nas bri ascom os tropeiros e scenas de ciumes, avisavam provocadoras e afoutadas?

3 7lhe, si mo#o, n%o sou nenhuma B. Cula. Para cá vem de carrinho.

/ire o seu cavallo da chuva, ouviu< Commi o nada de far fa... Bepois quei&e2se ao bispo4

/udo isso, t%o lon e, t%o lon e d:aqui, na villa de Santa Rita de Cassia,a mar em direita do bello rio Paranah6ba, na minha pobre e formosa terranatal 3 Estado de 1o6a"4...

/ransportada a lar a corrente n:uma balsa de duas compridas can@asencambu lhadas por pranch5es atravessados e um soalho por cima, che a2sea uma praiasinha de areia fina 2 o porto de onde se empina elevado barranco.!l uns bonitos sal ueiros por perto. E n:aquella balsa viajam, de um ladopara outro do rio, homens e cavallos de sella ou bestas de car a, ent%o

desarreadas e s com as can alhas de páos de forquilha assentes emchuma#o rosso de mac) a secca.

! boiada, muito chifruda, com os cornos compridos e bem abertos, ásve"es ele antes l6ras nas raciosas curvas, boiada o6ana, forte, rande,passa a nado8 e os boiadeiros e camaradas a v%o tan endo, na dia onal datravessia, com uma rita immensa, que reb@a pela matta.

Refu a a principio o ado, apertado pela ente a cavallo que montadaem pello o toca e estimula, o pica e com elle se atira dentro d:a ua, afinal sedecide a oniado e lá vai em denso cord%o com cabe#a bem levantada, olhosaterrados e bocca offe ante a deitar ruidosa respira#%o. ! e&tremidadeoposta do pesado ruminante n%o mer ulha tambem, surde e como quesea ita inquieta, presentindo peri os. que, se undo vo" eral, se aquellaparte do corpo, em que a Ci aninha tinha bicho carpinteiro, se molha, estáirremissivelmente perdido o pobre animal. Sin ular destino4 Caso di no doestudo dos entendidos e sabios4

Be vem em quando, lá se destaca um boi e busca voltar á mar emse ura e protectora, ou ent%o roda de uma ve", embrulhado pela violentacorrente do Paranah6ba.

=evanta2se ent%o brado de interesseira an ustia e ananciadodesespero, n%o de piedade pela triste victima? 3 =á vai um8 lá v%o dous4 $ Eos camaradas a"afamados apressam, com estos e clamores a mais e mais,a passa em, at) que o uia tome p) na borda de lá.

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Em cima lo o do porto de Santa Rita de Cassia, uma esplanadasinha derama verde e folhuda, lar o fechado nos tres lados por linhas de pobres,

casinhas terreas, al umas de telha, quasi todas de sap>.

(o fundo, frente para o rio, a matri", uma i rejasinha bai&a, rebocadade annos e annos, com um sino rachado á esquerda, suspenso a uma especiede telheiro aca#apado, a cahir de podre.

E, ao redor da pra#a, assim pomposamente chrismada, estendendo2separa aqui e acolá caprichosamente, umas moradasinhas, quasi sempre deporta e duas janellas des uarnecidas de vidra#as, moradasinhas bem caiadase alvas, encravadas em copado laranjal. Entre si, communicam por tortuosastrilhas, que no tempo de florescencia ficam embalsamadas a p@r tonto umchrist%o.

(essas laranjeiras canta pela manh% e á tarde um mundo de maviosossabiás, a que respondem os bandos de afinados e sibilantes cara*nasposados nas palmeiras indaiás, que alli ficaram da primitiva floresta vir em.

III

Cheia de travessuras no jae" das esbo#adas foi, at) quasi fa"er2semo#a, a e&istencia toda da !n elica, al)m de uma ou outra fa#anha de maisvulto, por e&emplo, ir va abundear, dias se uidos, da banda de lá do rio.

3 (ossa Senhora da !bbadia bradava B. Cula an ustiada, sahindo da

habitual pasmaceira, n%o ) que a menina se passou para as 1eraes<4Bo outro lado, com effeito, de Paranah6ba, fica o trian ulo mineiro,

habitado por povos s)rios, de certo, e pacificos, mas muito retrahidos e comcara de poucos ami os.

!final, reapparecia a Ci aninha.

3 7nde andaste, menina dos meus peccados< 9nda ava a desconsoladam%i.

3 7ra, respondia a damnadinha, estive correndo mundo, assumptando,vendo...

3 0as, rapari a dos seiscentos, com quem, minha Santa 0aria<

3 Com o Jos) e&i uento, o filho da portu ue"a. ;uis, certo dia, fa"er2se de en ra#ado commi o8 mas dei2lhe lo o tal safan%o, que d:ahi por dianteandou direitinho que nem um fuso.

Embora aos +T annos, tinha ella, ainda que mais assentada de jui"o,pessima reputa#%o8 o"ava de pessima reputa#%o, di"em at) bons classicos.

E bonita como mil pecados em penca, buli#osa, su estiva, a p@rfaulhas de ardente cobi#a nos olhos dos mais indifferentes e quietos.

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Cabellos ne ros, bastos, ent%o mais cuidados e lustrosos, mas semprecom a sua forsinha, de preferencia vermelha, cabellos ondeados, com unscrespinhos rebeldes na testa e na nuca roli#a8 rosto para o comprido, n:umoval re ular e como fechado por encantadora covinha no quei&o8 te" n%omuito morena, tanto assim que bem lar as sardas lembravam as randessoalheiras de outrora, apanhadas em crian#a8 sobrancelhas de japone"a8olhos enormes, ne ros, rutilantes, avelludados, com uns cillios que punhamsombra ás atri ueiradas faces em que florescia suave rubide"8 labioshumidos, polposos, com o brilho de rom% entre aberta, n:um arcodeliciosamente desenhado, orelhinhas pequeninas, como conchinhasnacaradas.

E que ele ancia nativa e senhoril no porte8 que collo soberbo, cinturafina, estatura mais que mei% $ emfim, um todo, um conjuncto de fa"erpeccar Santo !nt%o, na sua ruta da /hebaida.

(amoradeira como tudo, a 1> )ca8 muito ufana da sua belle"a, dosseus encantos, mas acceitando a c@rte e as homena ens de qualquer p)

rapado.! rapa"iada de Santa Rita de Cassia e dos arredores umas L le uas

andava tonta, n:um rodopio.

!o lusco2fusco, um corisco a diabinha, sempre á cata de aventurasbanaes, que sabia, por)m, conter nos justos limites, avisada, aliás, a cadainstante pela vo" arrastada, plan ente da m%e, como a oureiro pre %o?

3 0)nina, vanc) se perde... /anto vai o pote ao rio... Proteja2nos...Santo Christo dos 0ila res.

3 Conhe#o o caminho, respondia a Ci aninha e n%o me hei de perderassim com duas ra"5es...Estou traquejada na estrada e no atalho...

3 K=á vai a pestesinhaN, di"ia2se ao lobri ar sobre tarde uma sombrinhaairosa, esbelta, es ueirando2se, sem randes m6sterios, aliás, por bai&o doslaranjaes. 9a at) ás ve"es cantalorando, com andar leve, mas se uro e firme.E ouviam2se as ar alhadas de escarneo, que dava lá debai&o das suaslaranjeiras.

Com imprudencia sem par contava as boba ens que lhe haviam ditofulano e sicrano, o tropeiro Var as, o arrieiro /hom) do Valle, o mascate Jos)de 9talia e mais este e mais aquelle, um povar)o rosso, emfim.

E imitava, com muita ra#a e valente debique, os protestos de amoreterno, as declara#5es ardentes e claras ou timidas e ridiculas, o a uejadode quasi todos os pretendentes, os seus ademanes desen onádos. Econcluia?

3 ;ue pa ode4

/odos lhe apontavam mil amantes8 mas nin uem podia abar2se de ohaver sido. 7 filho do 0an)ca Aructuoso f@ra já á cama doente de pai&%o.Bebalde fi"era valer o caso do olho quasi vasado pela laranja verde. !ci aninha, sem compai&%o, motejava do seu triste estado, no passado e nopresente.

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3 m palerma, di"ia desfa"endo2se em cr6stalina e adoravelar alhada, que a tornava ainda mais irresistivel. Já me falou em casamento,

como se fosse um favor%o, al um bicho de sete cabe#as... /%o bom, comot%o bom... ;ue ) elle, afinal< Ailho de um empalamado...

E continuava a dar escandalosa corda a quantos lhe arrastavam a a"a,quer mo#o do povoado, quer adventicio e de passa em por Santa Rita.

3 Essa rapari a ) uma perdi#%o, affirmava com pausa e todo convicto oJos) ispo, da venda.

Perdi#%o ou n%o, estava sempre a 1> )ca prompta para as entrevistasvespertinas, a que ia sem susto, s sinha, com a alhardia de se sahir semprebem, incolume e a contento da altiva consciencia.

E uma ve" ou outra pescava uns presentesinhos, c tes de vestidos dechita france"a e at) de cassinha, len#osinhos bordados ou de seda,

arrafinhas e frascos de oleo fino para o cabello, ou perfumes em moda entre

as senhoras donas do Rio de Janeiro, da c@rte, o que tudo aceitava, n%o porinteresse, mas para obsequiar, muito instada e ro ada $ uma lembran#asinhasem vallor daquella tarde... E accentuava a lembran#a da tal tarde com umaperto de m%o mais forte, que nada si nificava, mas que a fa"ia dsprender2se e fu ir ás carreiras pelo laranjal af ra,

Pu"era2se tambem a trabalhar, e li eira como era, ajudava com muitoeito e bom resultado a pachorrenta da m%e. (in uem resistia ao seu sorriso,

quando offerecia, convidativa e mei a, um docesinho de seu taboleiro.

m viajante, que por alli pousou com rande estado, da familia at) dosJardins, salvo en ano, che ou a pa ar uma cocadasinha, pu&apu&a com uns

brincos de pedrinhas verdadeiras, amarellas, muito vistosas8 tudodesinteressadamente e por achal2a bonita dev)ras, como n%o vira i ual nemem S.Paulo, nem na Capital Aederal. /ambem essa fama de formosura enchiao sert%o todo.

3 Rapari a como a Ci aninha de Santa Rita de Cassia, apre oava2se,n%o há duas nestas tre"entas le uas á roda4... Cousa de p@r tonto o homemmais valente4... E levada da carepa, um fo uete, um buscap)... cru"es4

IV

ma ve", com as suas facilidade, que tanto a desacreditavam, correr1> )ca s)rio peri o, bem s)rio.

Como era natural, n%o tardou o Jos) ispo, da venda, a quereren ra#ar2se com ella e desejal2a com a impetuosidade do seu enioatabalhoado, despotico, irascivel, mettendo medo a todo o mundo e cheio de

rande"as e valentias no meio d

!quella arraia miuda.

Por cima, inspector do quarteir%o, embora n%o se tivesse naturalisadocidad%o brasileiro.

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Be cada ve" que a Ci aninha lá ia comprar al uma cousa, um cobre devina re, meio tost%o de a"eite, um salamim de arro", contava2lhe historias,fa"ia2lhe mil promessas.

3 Bei&a2se de partes, Sr. Portu a, repellia2o 1> )ca8 n%o se fa#a detolo, estou com pressa...

3 0as, Ci aninha...

3 =impe os bei#os, Sr. P) de chumbo. !nde8 que n%o vim cá paraatural2o..

E assim era sempre.

7ra, como tudo isso ocorria á vista de todos, apinhada a venda deociosos, tropeiros, crean#as, fadistas, n%o raro havia tro#a á custa do tal Jos)

ispo.

3 !ssim, rapari a, applaudiam. B>2lhe para bai&o at) mais n%o poder.E se derretiam em caquinadas de chufa.

7 homem bufava8 procurava com esfor#o conter2se, mostrar frie"a edesdem, mas qual4

Be cada ve" que a 1> )ca reapparecida na immunda tasca, afi urava2se2lhe que aquillo tudo se mudava em palacio encantado, n:um esplendor dece ar.

E a fadasinha, cada ve" mais formosa, alhofeira e petulante, a

ludibrial2o sem d nem receio al um.

V

Repellido sempre, po"2se Jos) ispo, descuidando at) os ne ocios davenda, a armar esperas á ci aninha, umas especies de tocaia, em que perdiamuito tempo e consumia a paciencia, redu"ido a roer frenetico as unhas ouantes o sabu o, conforme cacoethe velho.

Presentiu 1> )ca o imminente risco e, embora um tanto descuidosa e"ombadora, de continuo lhe furtava as voltas.

ma tardesinha, por)m, em que, scismando, fora do costume, comcerta melancolia, se arredára mais do que convinha, foi de repenteemplo ada. ;uando de accordo de si, o portu ue" lhe mettera a m%o emcima, e m%o bem pesada, adunca e violenta arra.

3 !panhei2te, pombinha de cascavel, e&clamou com triumpho8 vamosa ora ajustar nossas contas? basta de debiques e ca#oadas.

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Era o lo ar deserto, ritar de todo inutil. S se ouviam, no silencio dosares, ciciar perto os fle&iveis sarand6s, cujos finos caules encurvados pelacorrente"a do Paranah6ba, a cada instante se re uem para lo o se dobrarem,produ"indo brandos "unidos de plan ente harpa colia.

Sentiu na testa a nossa heroina camarinhas de al ido suor8 mas,fa"endo valente esfor#o sobre si, buscou n%o dar mostra do menor receio.

3 0e lar ue, Sr. Jos) ispo, observou com serena ravidade8 n%o s%omodos de homem s)rio com uma mo#a como eu...

7 tal apello á sua seriedade e ás maneiras pausadas da 1> )cadesapontaram um tanto o vendeiro8 uns simples minutos, comtudo.

3 ;ue hist rias, replicou brutalmente. Vejam, s a santinha de páo@co... olhem, que partista4... Voc> cahiu no al#ap%o, e n%o solto o passarinhoque custei tanto a a arrar...

3 0as que ) que o senhor quer de mim< Per untou com calma esobranceira, envolvendo2o n:um olhar de supremo despre"o.

3 ;ue ) que eu quero< ... Cousa muito simples... que seje minha... ehá de sel2o, olar)4... á for#a, se n%o houver outro remedio... de tantos...Para que se fa"er de pimpona s commi o<

9ntenso rubor subiu ás faces de 1> )ca8 os olhos faiscaram de raiva.

3 0e lar ue, si@ alle o, e&clamou impetuosa. E com amea#a?

3 Bepois n%o se arrependa...

Sorriu2se "ombeteiro o Jos) ispo.

3 7ra, quero ver isto... há de ser aiato... Eu me arrepender< (unca,nunca4

E riu2se dev)ras, quando a ci aninha, refor#ada como era, lhe imprimiuforte empu&%o para libertar o bra#o preso. (em se me&eu do lo ar, enquantoella reconhecia, com intimo terror, que os dedos do portu ue" a atana"avamcomo uante de ferro.

3 (%o se fa#a de tola, 1> )ca, eu bem sei que voc> esteve a oramesmo com o (h@r 1rande da esquina...3 0entira, protestou a rapari a.3Pois se os vi passeando juntos at) se sumirem debai&o das arvores...

3 verdade, passeei com elle...mais nada...(h@r 1rande n%o ) t%oordinario que abuse de seu talento.

Entre parenthesis.Q

Sabem os possiveis e complascentes leitores, que cousa seja talento,em todo o sert%o d:este nosso rasil<

Aor#a ph6sica, nada mais.

Continuemos a ora, caso valha a pena estarem aturando estamassada, mas disso n%o sou jui". Como conheci, de passa em, a tal

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ci aninha levada da breca e lhe admirei, há uns pares de annos, a notavelbelle"a, tomei a peito contar as suas fa#anhas e capeta ens.

3 Pois eu cá, replicou a brichote do Jos) ispo, entendo que talentopara muito serve... 7lhe, quero ser bom8 escute um pouco...

3 Solte ent%o o meu bra#o... 3 9che, lá isso n%o. Voc> disparava que nem veado matteiro.

!ssumpte... entre ue2se por osto a mim e de amanh% em diante a b to deportas a dentro como minha caseira... B. Cula, sua m%i, virá morarcommi o... (ada lhes há de faltar...

!rfava de indi na#%o, odio e pavor o peito da pobresinha.

Vinha a tarde descendo depressa e, distante, á beira do rio, avisavauma anhuma p ca, com intervallado cantar á maneira do bater de dous páosseccos, que a noite n%o tardava. ! lu" que ainda havia, tenue, esbatida,

descia de umas nuvens randes, de intenso vermelho, a purpurejarem todo olado do poente.

Beu ent%o 1> )ca novo arranco para tra" com tal impeto, desta ve",que o seu a ressor teve que avan#ar dous passos. ;uasi de todo lhequebrou o animo esse esfor#o improficuo.

3 Juro2lhe, bradou ella com a respira#%o offe ante e immenso accentode verdade e an ustia, que nenhum homem ainda me tocou no corpo. /enhapena de mim, Jos) ispo. Se há vir em n:este mundo, sou eu... (%o medes race... prefiro morrer...

3 ;ual, n%o se morre por isto, "ombeteou o tendeiro. 3 /%o certo como Beus estar no c)o, affirmou 1> )ca arrebatada e

ardendo em febre, saia eu d:aqui suja, des ra#ada e me vou lo o e lo opinchar ao rio. (in uem mais me há de ver.

0inha pobre m%i que se a arre com a Vir em Santissima... n%o terámais filha.

Viu Jos) ispo, no fundo, n%o de todo máo e perverso, que essa juralhe subia direitinha do cora#%o $ havia de e&ecutar o que promettia.

Vacillou pois.

3 0as se eu a amo como um perdido< Se a quero noite e dia<

3 Ra"%o de mais para me tratar com respeito... (%o sou nenhumafadista para o capricho dos homens por qualquer meia pataca...

3 7nde fica o mundo dos ami os e rufi5es< ;ue querem di"er todasessas conversas, á noitinha<... Santa Rita está cheia das suas passadastranquibernias...

3 rinco, racejo, ou#o as tolices que me di"em... dei&o pr) ar ávontade, mas nin uem toca no pulpito...

E concordou quasi com humildade...

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3 7 senhor tem ra"%o... (%o ) nada bonito o que tenho feito. Promettoemendar2me. Aicarei2lhe querendo tanto, tanto bem4... ! li#%o foi muitos)ria.

Com a volubilidade de seu enio, 1> )ca,. !o di"er conceitos t%osensatos, já era outra, serenada a ph6sionomia e, por isso mesmo, maisformosa e seductora. Parecia2lhe que aquelle homem, cujas inten#5es aaterraram, de subito se transformara em bom e leal censor.

Pouco durou a ilus%o.

3 (%o me levo por canti as... Voc> falla em morrer, quando a ora )que a vida vai dev)ras principiar.

Recome#ava a dolorosa e indi na lucta.

3 (%o nasci para os teus bei#os, alle o, porco, ladr%o, tinhoso4

E as palavras sibilavam, ardentes, cuspidas com nausea, o corpoderreado para tra" em disposi#%o de resistencia a todo o transe, e at) aoultimo alento, lucta de morte.

Procurava Jos) ispo, vermelho, apoplectico de furor e volupia, enla#al2a pela cintura com o bra#o livre. 9a a dar2lhe o fatal cambap).

Aoi quando a ci aninha, com inopinado movimento de mer ulho,a achou2se rapida. !o er uer2se, tra"ia na m%o direita uma rande pedraprovidencialmente achada aos seus p)s e, sem perder um se undo, com ellabateu por modo t%o brusco e contundente nos peitos de Jos) ispo, que estea lar ou, soltando um rito de surpre"a e dor.

Era quanto bastava.

Au"ilou a 1> )ca pelo cerrado af ra8 mas á distancia parou e, pondo osdedos nos cantos da bocca, atirou aos ares calmos amornados uns assoviost%o finos, a udos e penetrantes, que a mataria já adormecida pareceusobressaltar2se. Respondeu2lhes, á mar em do Paranah6ba, a assustada ritados bulhentos e mettidi#os queroqueros, de subito alvoro#ados.

!o che ar á casa, toda f ra de si, arquejando de susto e de cansa#o,abra#ou a ci aninha a m%i com an ustiada vehemencia e, dei&ando2se cahirde joelhos, prorompeu em lon o e nervoso pranto.

Bebalde tentou B. Cula saber o motivo. !final, suspeitando o que n%oera real, triste e resi nada, chorou ao lado da filha at) alta noite.

0eu Beus, meu Beus, que será de n s< E&clamava a cada instante.

VI

Ba terrivel aventura n%o disse a ci aninha palavra a nin uem.

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/ornou2se, por)m, apprehensiva, muito mais prudente e n%o era assimcom duas ra"5es que ia espairecer e dar um bocadinho de tr)la aos rapa"es,lá debai&o das laranjeiras.

Preferia lon os passeios s sinha, por caminho e atalhos s dellaconhecidos, mas, apenas come#avam, lá pelas M da tarde, a desfilar nos aresos bandos de pombos torqua"es, buscando sempre inquietos e como queirresolutos at) no v@o, o pouso para a noite, tambem se encafuavaacautelada em casa, na capuába da boa mam%e.

Aicára retrahida, inquieta, menos confiante nos seus meios ph6sicos derepulsa e tentativas de desacato.

S se mostrava mais attenta aos requebros e protestos de dous outres, era para tel2os á m%o, como especie de uardas vi ilantes, o quedesapontava n%o pouco os namorados de mais fresca data, obri ados a

a uejar as suas declara#5es de pai&%o, quasi á vista de uns estafermos,sorumbaticos, estatelados de tanto amor e estorvadores de profiss%o.

Bo filho do 0an)ca Aructuoso, o tal do olho meio varado por umalaranja verde, fi"era 1> )ca ato sapato. ! tudo se prestava o pobre dotran ola, macilento apalermado, comtanto que lhe fosse permitido respirarperto de quem lhe comera a alma, na ener ica e&press%o sertaneja.

3 7 0alaquias da boiada che ada hontem, e o Aortunato da tropa doChico ricasso, di"ia2lhe a ci aninha, querem por for#a falar commi o, cousade se redo. ;uando o sol se metter na matta, venha mo buscar, ouviu,(honh@<

3 Pois n%o, 1> )ca, vanc> manda...

E o 0ataquias da boiada e o Aortunato da tropa ficavam, cada qual noseu turno, todo embabocados e desa eitosos, ao verem sur ir ao lado da

entil appari#%o, anciosamente esperada, o t6po escani#ado, muito compridoe ridiculo d:aquelle patito do sert%o, o nosso (honh@ Aructuoso.

3 e&cusado8 com a 1> )ca nin uem p de, era vo" corrente em todoo povoado de Santa Rita.

E tal ou qual presti io m6stico a rodeava, pois accrescentaram a meiavo"?

3 /em partes com o anhane a e o sacis) r)r)8 anda de pande a comcurrupiras e boitatás. (%o poucos podem jural2o aos Santos Evan elhos.

/alve" por isso, mas muito mais pelos seus olhos a lu"irem comobrilhantes ne ros, entre orlas de cabelludas pestanas, pelo seu nari"inhoespirituoso, um nadinha arrebitado na ponta, pelas faces penujadinhas comopece o do cerrado, t%o bonito no avelludado aspecto como feio no nome

chamam2n:o ca aiteiraQ, pelo seu corpo esbelto, cheio, promettedor de milthesouros, andava positivamente tonta, de miolo virado, toda a rapa"iadad:aquelles centros.

(%o havia quem n%o parasse diante da ch #a de B. Cula e, pu&andolo o conversa, dei&asse de comprar sem vontade mesmo, nem olhar o pre#o,todas as brevidades e in enuas oloseimas do interior, ali e&postas á venda.Alorescia ent%o por tal modo o ne cio, que as duas mulheres já podiam

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vestir com certa casquilhice umas saias de babados randes de bom crivo, etra"iam sobre os hombros len#os finos de seda, barreados de a"ul, e aos p)suns chinelinhos de couro de veado, enfeitados de debrum vermelho.

(%o havia cocada, m%e benta, manao) ou p) de moleque que parasse.!l)m do que comiam, levavam os tropeitos len#os cheios $ um nunca acabar$ e voltavam lo o a pedir mais, s por causa do dedosinho de ostosa prosae contempla#%o.

E a ci aninha a vender tudo á porta da choupana materna, com muitobons modos, risonha, escorreita, prompta á replica e rebatendo, habiles rimista, os cumprimentos demasiado ardentes á sua formosura $ le itimae bem instinctiva loureira, na sua Santa Rita do Paranah6ba, como a maissabida e calculista americana do (orte n:esse incessante duello de faceirice eesquivan#as dos brilhantes sal5es de ashin ton e (ova2Uor .

(em tardou a suprema e estrondosa consa ra#%o, dada pelas trovas doJo%o Valentim, o sabiá o ano, n:uma festa, quasi curur*, que chamara á

localidade muito povo de umas -L le uas em torno.Esse Valentim , que pachola ao viol%o4 ;uantos cahidos de bra#os e

revirados de olhos4 Já meio velho, calvo, assim com uns restos de homembonito, atirado a suductur de mulheres com as suas quadrinhas, que iamdesfiando á medida da inspira#%o todo choroso e derretido4

Vadio como tudo, s queria trabalhar nas cordas da uitarra ou nomachete, em que dev)ras pintava o sete, com umas unhas immensas,attestado da sua pre ui#a e que "elava como inestimável preciosidade,sempre limpas de cairel e todas lustrosas

E como sapateava ao fado, o pernostico bailante, ape"ar das juntas jábastante perras4 Como pu&ava fieira, ao convidar, em ele ante derren ado decorpo, o par ainda sentado4 (%o queria outra dama sen%o a 1> )ca, quen:essas occasi5es pulava a il, airosa, provocadora, as faces rubras que nempimenta mala ueta, os olhos faiscantes com uma pontinha de lascivia,e&uberante de seiva e mocidade, cousa mesmo de botar de pernas para o armo#os at) da capital federal4

VII

(:essa especie de choradinho ou curur* que ficou celebre, e&pandiu2sea homena em á formosura da 1> )ca nas se uintes quadras, cantadas commuita den uice e randes derreados, pelo Jo%o Valentim.

Repinicando o viol%o, nuns preludios todos cheios de blandicias, tomoular o hausto e plan entemente soltou a vo" já um tanto estra ada erouquenha?

K(o rasil jámais se viu

Rapari a t%o bonita

Como seja a Ci aninha

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B:esta nossa Santa Rita.N

Correu um sussurro de applauso e admira#%o, que o artistaacompanhou em surdina.

Er uendo, por)m, o canto, obri ou o silencio que se fe" completo?

K usquem outros prata e ouro

(os mil sonhos d:ambi#%o8

;ue eu s quero, altivo a tudo,

Conquistar2l8he o cora#%o.N

1> )ca, lá do seu canto, impando embora de vaidade, deu um i&e4si nificativo.

Concordou lo o o cantor com as difficuldades da ardua campanha eloriosa posse?

K0as ahi ) que s%o ellas,

Pois a mais lindas das fl@res,

Escarninha, volta o rosto,

(%o en&er a as minhas dores.N

!ppellando para o id6lio, prosse uiu, pu&ando as cordas doinstrumento com os dedos, muito abertos e recurvados?

KSe junto ao Paranah6ba

1emem tristes os sal ueiros,

Perto d:ella em v%o solu#o

Preso aos olhos feiticeiros.N

3 Cru"es, observou a Ci aninha a uma mocinha chlorotica que lheficára ao lado, di"er que os homens levam a n s pobres mulheres com estaspatacoadas e pacholices4 ;ual, este mundo n%o anda direito4

! tal reparo paraceu responder Jo%o Valentim, promettendo lu ubredesfecho ao repellido amor, de que se tornara illustre victima, )co aliás demuitos pacientes?

KW 1> )ca, meus pecados,

s um casti o da sorte8

0as a tanto sofrimento

Eu prefiro a dura morte4N

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3 (%o morre n%o, Valentim, replicou a interpelada bem alto, o queprovocou at) palmas no auditorio, dei&ando bastante enfiado o uitarrista.

3 ;ue mo#a cu)ra 4 e&clamou um dos ouvintes. Verdadeira inspira#%oinflammou, por)m, o cantor com aquelle ironico desafio e com arroubadorapto acudiu elle, er uendo o tom?

K7rdem ) do Ser Supremo

KBe joelhos, nature"a4

!batei2vos. /erras, c)os,

!nte a for#a da belle"a4N +Q

(%o p@de por)m sustentar estro t%o alto e descahiu lo o em le itimo

v@o icario para o ridiculo? K0as de tal consumi#%o

7lha bem, cruel 1> )ca,

Vou ficando ma ro e secco,

;ue nem feia perereca4N

E assim por diante, a n%o acabar mais, tudo muito chupado, cheio desi4 E uis4 Com umas pie uices de mulheren o vadio... a sua cacetea#%o, emsumma, que dei&ava a B. Cula toda babosa enleiada com vontade de allimesmo abrir um pranto enorme, mas que a filha acolhia incredula,indifferente, meio a bocejar.

;uando al uma quadra lhe cahia no oto, ria2se ent%o, botando ámostra os dentes rutilantes de alvura, sempre ar>ados com uns talosinhosmolles de aroeira do campo, nacaradas perolas tornadas mais brancas aindapelo contraste do vermelho appetecedor dos labios, frescos, carnudos, feitospara beijos de enlouquecer.

Ba rubida bocca, por)m, partiam flechasinhas pun entes, como do seiodas rosas sahem "umbindo mordicantes abelhas.

(em sequer soube poupar o sabiá o6ano, o melodioso lorificador dosseus encantos, pois sem respeito al um á necessidade da rima, lo o lhepaspe ou ao co ote o appellido de Jo%o Perer)ca, que adheriu e d:alli emdiante punha bambvo e furioso o nosso seductor Valentim.

E entre a pai&%o real e a vaidade de poeta travou2se breve lucta, queterminou pela victoria do Parnaso, offendido em sua meticulosa di nidade.

Beclarou2se inimi o de 1> )ca, mas teve que desapparecer de SantaRita de Cassia, onde muito tempo depois cantavam outros bem convictos?

K7rdem ) do Ser Supremo?

Be joelhos, nature"a4

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!batei2vos, terras, c)os,

!nte a for#a da belle"a4N

+QCom li eiras altera#5es, ouvi todas estas quadrinhas da bocca deum d:esses improvisadores populares.

7u mais frequentemente ainda, tanto o ridiculo sobrepuja o bom, at)em Santa Rita do Paranah6ba?

K0as de tal consumi#%o

7lha bem, cruel 1> )ca,Vou ficando ma ro e secco,

;ue nem feia perer)ca4N

Ra"%o talve" mais plausivel levára Jo%o Valentim a de pressa sahird:aquelles locaes de inesperados desen anos. Aoi pedir em casamento aterrivel Ci aninha e levou formidavel taboa tudo com rande pasmo de B.Cula, que quasi desmaiou de emo#%o, ouvindo a despachada resposta dafilha ao avelhentado e petulante candidato?

3 7lhe, Sr. Jo%o, disse2lhe a 1> )ca na bochecha, n%o se fa" familianem se sustentam mulher e filhos com cantorias de perer)ca4

Era, já se v>, rapari uinha pratica, bem americana.

VIII

Besde ahi verdadeira epidemia na rapa"iada do povoado e adjacencias.(%o havia a ora quem n%o qui"esse casar com a Ci aninha.

! todos ia di"endo2 n%o, n%o4

Para que nada faltasse ao seu triumpho, uma tarde appareceu derepente lá pela casinha de B. Cula o vendeiro Jos) ispo, todo desajeitado,inquieto, a suar como um burro, mettido n:um rodaque branco bemen ommado, de meias aos p)s, dentro de alentados tamancos. (%o tinha

ravata, mas ostentava collarinhos altos e tesos, com muita omma.

Estavam as duas mulheres merendando. Comiam com os dedos mollepir%osinho de farinha de mandioca a acompanhar um sorub6sinho pescado defresco e co"ido n:aqua e sal,

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Aicaram ambas sobremaneira sorpresas, at) receiosas, sem saberem oque fa"er.

3 (%o ) servido< Per untou a velha descorando muito, ao passo que1> )ca fa"ia2se escarlate.

3 7bri ado, dona respondeu Jos) ispo com timide", transpondo acusto o limiar da ch #a.

3 0as por)m abanque2se, convidou a dona da casa indicando umacadeira velha.

7 homem foi, depois de al um pi arro, entrando em materia. Dá muitoqui"era vir lhes falar, mas uma cousa e outra, isto aquillo, aquillo outro,ne ocios, etc., etc., o haviam sempre atrapalhado.

Bepois...4 receios de ter offendido B. 1> )ca, mas lhe perdoasse, n%oA@ra por querer, estava muito arrependido das suas brutalidade...

/udo muito a uejado, enquanto B. Cula abriu uns olhos muito randesde coruja assombrada.

!final desembuchou.

! menina já era mo#a feita, precisava tomar estado, /er uma posi#%o, eelle, no caso de principiar familia, vinha, nem mais nem menos, pedir a suam%o.

E contou lá suas fanfarronadas.

Possuia bastante de seu para asse urar o futuro de ambas, pois at)pretendia mudar2se d:aquelle lo arejo, que n%o lhe servia mais, retirando2separa a capital, onde daria maior e&tens%o ao ne ocio, para 1oá6a" $ comodi"ia.

E parece, com effeito, que pronunciava mais certo do que os que di"em1o6a", pois o Sr. eaurepaire Rohan, muito entendido em materia de bu rese cousas do tupi, assim tambem ) que falla, 2 1oá6a". 0uitas e muitas ve"es,eu, Deitor 0alheiros, o tenho ouvido di"er d:esse modo, á f) meu ráu.Verdade ) que o juramento está hoje abolido, e n%o sou formado em cousaal uma.

Continuava, por)m, Jos) ispo. Bava aquelle passo na certe"a de serattendido, embora muita ente certamente o devesse censurar. (%o duvidavados bons sentimentos da menina, cujos modos entretanto serviam de motivoa muito me&ericos e falatorios. Era franco. (utria, por)m, a convic#%o de quetudo n%o passava de muita mocidade. ma ve" mulher d:elle Jos) ispo,saberia portar2se de modo a s merecer respeito e considera#%o dos povostodos de Santa Rita, e onde quer que fossem parar.

3 B) certo, d) certo, ia affirmando a lesma da B. Cula toda a babar2sede osto com a perspectiva de semelhante enlace, uma fortuna do c)o.

Conservava2se 1> )ca retrahida, calada, com uns restos de pir%o aseccar na pontasinha dos dedos.

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ma ve" superados os primeiros instantes de acanhamento, falou Jos)ispo a valer, fa"endo sobretudo alarde da sua qualidade de homem s)rio, de

boa posi#%o e apatacado, insistindo muito nas vanta ens que dessecasamento advir%o para ellas duas.

Bei&ou at) entrever, que, do seu lado, havia n%o pouco sacrifficio.

! isso 1> )ca rompeu o silencio?

3 Ent%o quem o mandou vir cá< Per untou desdenhosa e altiva.

Respondeu o vendeiro com sinceridade.

3 ! pai&%o, 1> )ca, a pai&%o4 /udo fi" para conter2me, mas n%o pude.Estive quasi a fu ir como um perdido, alta noite. Aormei mil planos... at) decrimes. !chei que afinal era melhor dar o passo que dou. Se vanc> me dissern%o, mesmo assim ficarei mais soce ado.Estou disposto a tudo... comtantoque n%o me queira mal... n%o me despre"e, n%o se volte, ao ver2me, com

escarneo e nojo...E aquelle homem brutal, violento, tinha os olhos supplicantes, cheios

de la rimas, vencido pela for#a da belle"a, como dissera Jo%o Valentim nassuas trovas.

Estava B. Cula totalmente besta do que via e ouvia.

3 1> )ca aceita, disse afinal intromettendo2se ainda que a vacillar ecom uns laivos de rubra emo#%o na eterna pallide" das faces8 sem duvida ellaaceita... ;ue p de mais qu)rer n:este mundo< desafiar a sorte.

3 Cale a boca, mam%e, e&clamou impaciente 1> )ca que pareciaconcentrar2se em rapida e necessaria medita#%o.

!final, voltando2se para Jos) ispo, respondeu2lhe com serenidade?

3 Pelo passo que o senhor deu hoje, perd@o2lhe do fundo do meucora#%o tudo quanto me fe". !cabou2se o odui, e odio bem justo, que eu lhevotava. (%o posso, por)m, attender ao seu pedido, que tanto me honra e melevanta aos meus proprios olhos.

(%o ) que a diabinha da rapari a falava bem< 7ra, sejam justos,leitores da minha alma. Be entre os OL.LLL assi nantes da 1a"eta de(ot'cias n%o haverá meia du"ia mais condescendente<

3 Pelo meu enio, continuou ella, e com os seus arrebatamentos, n%opodiamos ser sen%o dous infeli"es, uma ve" amarrados pela lei docasamento. Aalando2lhe assim, dou2lhe prova de que n%o sou t%o desajui"adacomo a muitos pare#o. Por outro lado, e lado muito rave, que faria o senhorda des ra#ada Perpetua, com quem vive ha tantos annos< ;ue seria dos seusquatro filhinhos, já t%o abandonados<

3 0as, m)nina, buscou inquieta interromper B. Cula, para que... semetter assim na vidá... dos outros<...

Via, com effeito, Jos) ispo, quasi a estalar de ro&o, todo apoplectico,tolhido de ver onha, embasbacado.

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3 E o que ) a pobre Perpetua, per untou com vo" vibrante a Ci aninhaá m%e, toda estarrecida, sen%o a B. Cula lá da pra#a<... (%o lhe faltampancadas e tundas, al)m do peso dos quatro pequenos... S a ora oabandono...

3 1> )ca, e&clamaram com tom de anciosa ro ativa os dous, basta...basta4

E emquanto a chorona mam%i prorompia nos mais an ustiosos solu#os,retirava2se Jos) ispo tonto, titubeante, empu&ado por mil sentimentos,numa afflic#%o bem real de pun itiva d@r, em que sobrelevava intensove&ame de si mesmo, pela taboca que acabara de chupar.

I&

Por esse tempo che ou á Santa Rita do Paranah6ba, vindo de S. Paulo,

pela cidade de beraba, o B:!nselmo de Sá.Entre n s, quanto tem pro redido a tal beraba, no anti o sert%o da

Aarinha Podre4 Be bem poucos annos, s havia a poeira vermelha que era uminferno , continuas trovoadas roncando rosso, uns casar5es sombrios decumieira muito alta e aspecto sinistro, o bom capuchinho frei 1ermano comas suas eternas observa#5es meteorolo icas, o velho tenente2coronel da

uarda nacional Sampaio, advo ado provisionado e membro do 9nstitutoDistorico, al)m do Jo%o Caetano, o homem mais pacato do mundo, mas que,de cada ve" que abre a bocca e, muito de mansinho, come#a á falar, provocapor toda a parte um barulho dos seiscentos, protestos, ritos, violentosapartes, retalia#5es e at) tiros de arrucha4

0as hoje, sim senhor4 ! tal beraba já fa" fi ura de rande cidade... nointerior. Possue ba"ares quasi de lu&o e mais isto, aquillo, aquill:outro, cousade encher o olho. Báqui a um nadinha, terá linha de bonds, confeitarias e a"de illumina#%o, se n%o for lu" electrica, á imita#%o e moda de Jui" de A raque, s por isto, quer por for#a ser a primeira cidade de 0inas 1eraes e sfala das outras com desdem. !sseverou2me, pelo menos, bem pro&imostodos aquelles valiosos melhoramentos o or es Sampaio, o tal membro do9nstituto, quando por lá passei. !cho, comtudo, que o homem, aliás come&cellentes inten#5es, tem patriotismo demasiado uberabense e inflammavel.

Voltemos, por)m, á nossa historia.

!travessa o B r !nselmo de Sá já tarde o rande rio e com muitaba a em , pois viajava como um lord. Viu2se, pois, levado a pousar emSanta Rita de Cassia.

Era esse mo#o parente che ados dos Confucios e Socrates da familiados Craveiros, li ados por la#os de affinidade com os 0oraes , !breus,Aleur6s, Rodri ues, Jardins e ulh5es, ente toda de alto cothurno no meu1o6a", descendentes at) do celebre conde, depois marque" de S%o Jo%o daPalma, antepenultimo capit%o2 eneral e overnador da Capitania apresentararmas4Q e que lá fe" maravilhas nos seus M annos de mando absoluto eviolento.

Bemais, todos na minha terra, quasi sem e&cep#%o, pretendem provird:aquelle rande pap%o8 e isto tem al uns inconvenientes.

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;uerem uma prova<

Em certo dia, um versejador de occasi%o, candidato a n%o sei quelo ar"inho, foi procurar, aqui, no Rio de Janeiro, um dos filhos do marque" $esse bem averi uado. /oca a esperal2o e nada do protector di nar2seapparecer.

Es otada a paciencia a contemplar um retrato, tamanho natural, dovenerabundo e temivel fidal o, todo coberto de dourados e fit5es, pr) ou2lheafinal o tal pretendente embai&o da moldura com um alfinete uma quadrinhaaltamente crespa e porno raphica, relativamente á honra materna e aoesquecimento em que essa m%e era tida. ;ue desaforo4

E safou2se, dei&ando o mote, sem esperar pela losa. ;ue desaforo4

7 tal marque" cumpre2me, entretanto, di"el2o a bem da verdadehistoricaQ dei&ou em todas as capitanias onde esteve e overnou um mundode filhos naturaes... 7 e&cellentissimo Sr. Capit%o2 eneral era povoador por

e&cellencia. Comprehendia $ e tinha ra"%o $ que o rasil, antes de tudo,precisava e ainda precisa de ente. 9a, pois, no desenvolvimento do seupro ramma administrativo, applicando com enthusiasmo o multiplicamini deJehovah, nem melhores servi#os podia prestar á cor@a de Portu al, dei&andoás for#as da nature"a fecundada o cumprimento do outro preceito, crescitce4E das mais obri a#5es, pa ar impostos, ser soldado d:El2Re6, etc... etc.

Estou por)m, sahindo de mais da nossa estrada.

!h4 se eu tivesse ensejo, desfiava muita cousa interessante sobre1o6a", lembrando tambem os muitos homens notaveis que elle tem dado ápatria, pois me pe"a, dev)ras, o menospre#o com que por ahi costumam

falar do meu cantinho natal.Conhecessem, por ventura, o padre 0anuel Jos) Ao a#a, que foi prior

da i reja de =ourinh%, em Portu al, e bispo resi natario da 0alaca< Pois bem,era filho de 1o6a". Conheceram !lvaro Jos) Xavier, commendador de Christoe bri adeiro reformado, presidente da junta do overno provisorio< E =ui"!ntonio da Silva e Sou"a, eleito para as c@rtes de =isboa, mas onde n%oesteve, professor publico de rammatica latina<

E o eneral Curado< Joaquim Xavier Curado< ;uem se recorda maisd:elle< 1r%2 cru" do Cru"eiro, commandou em chefe e&ercitos e anhoubatalhas campaes. Veio á lu" do dia em Jara uá. Como ) que um cidad%o

o6ano nascido t%o lon e, no miudinho arraial do Cone o, foi fa"er o diabo epintar a manta no Rio da Pratas, malhando sem tre oas nos castelhanos,dando2lhes bordoeira de crear bicho e tra"endo2os de canto chorado, ) o quecusta cr>r. /enham, por)m, paciencia8 ahi está a historia, que n%o me dei&amentir.

E tantos outros4

ns cone os, padres, outros professores seculares8 emfim, renque deente do mais subido valor e posi#%o e que dei&ou numerosa e estimavel

prole.

7 certo ), que, em 1o6a", predomina muito o sentimento aristocraticoe separa#%o de castas.N (%o sou filho das hervasN, di" lá todo cheio de si umd:aquelles mortaes e, firme n:isso, nin uem o fa" arredar p).

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Pois o nosso B:!nselmo de Sá era d:esses que n%o tinham sido achadosdebai&o de um p) de couve e de tudo tirava n%o pouco or ulho, olhando aosmais bem do alto da sua importancia e com ares de sincero pouco caso pormeio mundo.

Be que lhe serviu, por)m<

Aoi botar os lu"ios na ci aninha, e "á"4 Aicou pelo bei#o, lo o, no dia dache ada, pela tardinha, tal qual um lambar6sinho do Paranah6ba, fis ado nabocca por apontado e despiedoso an"ol.

9sso n%o no rio, mas na novena que se estava re"ando no i rejinha, porsi nal que o sacrist%o, o ;uincas 0alhado, já de miolo molle, fa"ia ve"es depadre e pu&ava as re"as e ladainhas n:um latinorio levado da br)ca e que oPadre Eterno, ape"ar do seu pol6 lottismo, custaria bem a entender.

=á estava a nossa 1> )ca a encher a carunchosa matri"ionha com asirradia#5es e o esplendor da sua belle"a.

/ambem foi o doutor pre ar2lhe o olho em cima e ficou tonto,abestalhado, bestificado, historica palavra do Sr. Silveira =obo $ !ristides, o

justo.

(em me lembro bem como os franceses chamam esse repentino estadod:alma, a tal fulmina#%o $ meu professor de france" foi t%o fraco4 $ Por iston%o me arrisco8 podia escrever al uma asneira.

3 0as quem ) aquella mo#a< Per untava o !nselmo assarapantado,sofre o, a quantos o rodeavam.

!quelles olhos, aquelles ohos, santo Beus4 ;ue relampa os desferiam4Por isto, quando pousaram bem em cheio no doutor)co, sentiou2se estedesfallecer, todo derretido de osto, jul ando2se na obri a#%o de sorriraparvalhadamente, mas a suar frio, quasi a tiritar4

&

(%o dormiu a noite toda o nosso impressionavel !nselmo de Sá, apassear, a itado, pelo povoado immerso em carre adas sombras, nervoso,irrequieto, acordando ao latir de um ou outro c%o e fumando cu arros8 aesperar, pelo que<... Por enquanto, pela madru ada, que n%o che ava.

Be nada valiam os esplendores do c)o, de um a"ul ferrete, ne ro,avelludado, profundo, como certas as h6ras do oriente, c)o marchetado detantas estrellas, que o Paranah6ba d:ellas colhia fantasticas ful ura#5es, noimmenso serpear da lar a corrente.

!final, sentiu2se o mo#o prostrado, com as pernas t%o bambas, quecahiu na cama feita sobre as canastras de via em, e passou por umamodorrasinha, mais que somno. !Ys Z horas da manh% já estava, por)m, dep). =embrou2se ent%o de ir banhar2se nas a uas puras do rio, a v>r seacalmava o incendio que sentia lavrar violento, inapa avel, dentro de si e o

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suffocava8 a mente conturbada, o peito oppresso, com os musculosrepu&ados.

;ual4 1re orio de 0attos, sem procurarmos e&emplos e appro&ima#5esem litteraturas de outras terras, na tal Europa e sobretudo na Aran#a, quetanto nos avassalam, o nosso 1re orio de 0attos já diss)ra descrevendoidentica e penosa disposi#%o d:alma?

K/omo banhos de neve por dentro,

0as o fo o n%o quer abrandar4N

E eram banhos de neve, cousa que n%o e&iste no rasil, tomadosinternamente, por cima4 Como, por)m, o poeta se os administrava, ) o quen%o nos di", nem ensina.

Aica, comtudo, a receita para o apai&onados em t%o melindrosascircumstancias.

(em de proposito, f@ra !nselmo mer ulhar o ardente corpo nobanheiro habitual da ci aninha, á sombra do sal ueiro que tantos primorescostumava entrever de soslaio... Calculem s ... Be certo, a arvore foidiscreta, mas quem sabe< ) t%o sin ular, ine&plicavel, m6steriosa a for#acatal6tica, a ac#%o de presen#a< ;ue prodi ios n%o operam no seio danature"a esses elementos mudos, impassiveis e inalteraveis<... ;ualquer queseja a causa, o pobre do rapa" sahiu d:aquella immers%o pior do que quandopenetrára na a ua tepida, ennervante, voluptuosa em suas amornadascaricias. /inha chammas nas veias.

Vestiu2se ás pressas e com o cabello rudado ao casco da cabe#a,

portanto meio ridiculo para um pelintrote de S. Paulo, resolveu ir bater )porta de B. Cula, orientado por um meninosinho, a quem enerosamente deuLL r)is em nic el.

Sem demora lhe appareceu a vis%o celeste4 (em mais, nem menos, derepente, a 1> )ca, que lhe dardejou lo o dous olhares de revirarem decatrambias para o ar, n%o um simples bacharelete, mettido em paletot sacco,de sarja verde fundo de arrafa, por)m, sim, com todo a sua armadura deferro, Rold%o em pessoa, o sobrinho querido do imperador, Carlos 0a no, oual um dos Bo"e Pares de Aran#a.

3 ;ue deseja, Sr. Boutor< Per untava a rapari a sorrindo comencantadora in enuidade, mas dev)ras surpresa e lisonjeada d:aquella visitamatinal.

3 Venho... venho, balbuciou o !nselmo quasi estarrecido de tantabelle"a matutina, venho... encommendar á... senhora sua m%e... (%o possofalar... com ella< Cousa... ur ente...

3 Está ainda dormindo, replicou a ci aninha muito despachada.

0as, demonio, ) filha d:aquelle diabo que tanto surrára a des ra#ada B.Cula, basta de atarantar mais o Sr. acharel4 Para que esse sorrisoeni matico, para que esse bater lan uido de folhudas pestanas< Bei&a, pelomenos, o mo#o di"er o que quer, que encommenda ora essa, tanto mais queum raio ronico de sol ao nascedouro lhe brincava nas barbas aindaincipientes, na ponta do nari" e no seu pince2ne" de m6ope4

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Era comtudo, e&acto, B. Cula, com os habitos de inveterada pre ui#ao6ana, ou antes sertaneja, ou melhor brasileira fiat justitia ne pereat

mundus, di" o direito estudado, ou n%o estudado, pelo Br. !nselmo de SáQ B.Cula ape"ar do calor, estava áquella hora encafuada na cama, o tal catrevelho, de que fala o capitulo 9 d:esta historia verdadeira.

3 (%o... n%o a incommode, implorou !nselmo com verdadeira an ustia,como se da repulsa de sua supplica pudessem provir randes dannos.;uero... a senhora... per... perd@e... ;uero para a via em... um taboleiro dedoces.

E ficou assombrado da repentina id)a que lhe ilumminara o cerebro8dominado, por)m, pelo terror de que o tal taboleiro de doces fosse cousa t%of ra de alcance como o v)lo de ouro, ou al um pomo do jardim dasDesperidias.

/ranquillisou2se de prompto.

3 Dontem mesmo á noite fi"emos um bem rande, replicou 1e )ca. 7senhor volte lo o para ajustal2o com mam%e.

9a humildemente, todo soffre o, per untar a que horas8 mas n%o tevetempo, Pan4 ! ci aninha lhe batera a porta na cara.

Já se viu o capricho<

!tra" dessa porta trancada, ficou ella comtudo pensativa, desobrancelhas um tanto cerrada. Vamos e venhamos, aquelle mancebo t%oalvo, de bi odinho revirado, pince2ne" de ouro, m%os e p)s delicados,maneiras finas, tra e ele ante, lhe a radava dev)ras, n%o lá

e&a eradamente, cousa e&traordinaria8 mas, emfim, esse n%o era, de certo,como os outros, oh n%o4

3 ;ue há de novo, m)nina< Per untou de um canto a v " arrastada deB. Cula, entre dous bocejos.

3 m mo#o bem parecido que veio pedir um taboleiro cheio de doces...para n%o sei que via em.

3 =ouvado seja4 Bi a2lhe que s%o tres mira r)is pa os á vista.

3 ;uase -S4 objectou a filha. Pe#a2lhe a mam%e MS , quando ellevoltar.

3 E se n%o vortá<

3 7h4 Se volta4...

Com effeito voltou e, ao pre#o e&i ido de MS, impetrou licen#a paraofferecer +LS8 favor feito a elle. /omara informa#5es se uras8 uma viuva,vivendo honestamente do penoso trabalho com a sua filha, já mo#a, ambassem protec#%o de nin uem $ nada mais di no e commovente.

E, se n%o deitou discurseira, foi por sentir a cabe#a quenem um ninhode ua&up)s assanhados, debai&o das baterias oculares da ci aninha.

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3 ! mo#a sabe l>r< !treveu2se elle a per untar á 1> )ca n:ummomento em que estiveram a s s.

3 0al e aml, respondeu ella sempre a sorrir diabo de sorrisoQarranho... quando a lettra ) rande...

B:alli a pouco, tambem recebia um papel com arrancho bastantera*dos? KPreciso muito falar2lhe lo o á tarde, debai&o das laranjeiras. $ Br.!nselmo.N

(:aquelle esplendoroso doutor depositava o nosso homem muitaconfian#a, toda a confian#a.

Entretanto, oh desillu%o4 ! 1> )ca, n:essa tarde dei&ou2see&actamente ficar bem soce adinha em casa8 a ajudar a m%i n:uma tachadade doce de fructa de lobo, que esta no dia se uinte devia impin ir comomarmelada ao desnorteado viajante.

E n%o ) que o bolas do ci ano fi"era escola e para al uma cousaservira<4

/udo nesse mundo tem sua compensa#%o.

&I

Beste dia em diante come#ou a ci aninha a p@r em pratica os mais

habeis manejos de faceira esquivan#a, dei&ando o !nselmo cada ve" maistranstornado de pai&%o e e&altados desejos.

Em Santa Rita, já nin uem mais i norava que o doutor, de pouso allipor al uns dias, estava positivamente a definhar de amor. ! todos tomavapara confidente, distribuindo dinheiro a r@do e n%o se fartando de ouvir falarna 1> )ca, ora em bem, ora mais frequentemente em mal, o que oe&asperava. !s noticias do Jos) ispo ent%o o torturavam de modo horroroso,indi"ivel.

Aa"ia ten#%o firme de lo o e lo o partir, de fu ir alta noite, sumir2se,a"ular8 marcava o dia certo, infallivel e, afinal, che ado o momento, decidiacontinuar a ficar por ali a ban"ar.

/udo lhe servia de prete&to, necessidade de dar forte descan#o aosanimaes, receio de chuvas pro&imas, ra"5es todas de cabo de esquadra, queos camaradas iam acceitando com a indifferen#a que essa ente pot tudomostra, no fatalismo da e&istencia.

3 memo, ) memo4 Concordavam e lá iam fol ar no rancho a tocarviola emquanto esperavam que o Sr. Boutor qui"esse um bello dia, quandomenos contassem, levantar o pouso.

3 0as 1> )ca, B. 1> )ca, per untava a medo !nselmo, em certaoccasi%o, á ci aninha pilhando2a de eito, porque ) que voc>... a senhora...fo e de mim<...

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3 Por que o doutor deseja o meu mal, a minha des ra#a4 Respondeu amo#a resoluta.

3 Eu, 1> )ca, eu< protestou elle com verdadeira e sincera indi na#%o,eu que a amo tanto, que a quero como nunca suppu" poder querer anin uem... eu, que n%o durmo, n%o como, n%o tenho mais um momento desoce o a pensar na senhora... sempre em si<4

3 E depois<...

3 Bepois o que<

3 Sim, depois< Para mim a ver onha, as la rimas, o abandono... tal equal minha pobre m%e, e tantas coitadas por este mundo de Beus4

!rre alou !nselmo uns olhos muito randes. S)riamente cahia dasnuvens, via2se rolando aos trambolh5es por enormes despenhadeiros.

3 Eu te juro... fiel, fiel at) morrer4... 3 Sim, ) o que voc>s homens sempre di"em8 a arapuca em que todas

cahem... um milhosinho pisado em troco da pris%o eterna... valha2me SantaRita4...

E arremedando o arroubo do rapa" repetiu com en ra#ado e fin idoardor e apertando o peito nas m%os?

3 Eu te juro...fiel, fiel at) morrer4 E riu2se ás ar alhadas.

Em outro tom, sem transi#%o?

3 Para n s, des ra#adas, as consequencias... o luto, esse eterno riso...o peso desse racejo... os trabalhos, n s, sobreturo, do sert%o, sem nin uemque nos ampare, nos mostre o caminho direito... nenhum casti o para oshomens, que t>m por si a for#a, o abuso...

W ci aninha damnada4 ;uem te ensinou tudo isso< Em que livro fosteaprender toda essa desfiada de valentes ar umentos, tu que s sabias

6rielas de nomes feios e se lias era mal e mal, t%o s mente lettra ra*da<0uito, muito p de o bom instincto4

3 Ent%o fujo d:aqui, vou me embora, desappare#o... Voc> nunca maisouvirá fallar de mim... Dei de esquecel2a, lo o e lo o que der as costas aSanta Rita...

3 Paciencia, replicou a 1> )ca, levantando os hombros, a estrada )lar a, está ás suas ordens. (in uem o a arra8 olhe, eu n%o lhe estou di"endode ficar...

E, com melancolia, mirando o mo#o bem em cheio, os olhos carre adosde brandura?

3 ;uanto a esquecer2me, disse, ) bem facil, bem natural.;ue valho eu<ma pobre rapari a da ro#a...filha de mulher sem marido. 0as eu lhe

affian#o, Sr. Boutor, hei de sempre lembrar2me do Sr. Viva eu cem annos...

E quedou2se uns instantes a encaral2o immovel.

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0al poude !nselmo reter um frou&o de choro.

Parecia que todas as des ra#as lhe cahiam em cima.

Be repente?

3 Ent%o voc> osta um bocadinho de mim< 9nda ou com anciedade. 3 (%o sei, n%o posso di"er... nem sim, nem n%o... ratid%o ) amor<

3 0as, 1> )ca, qual será o seu destino, neste lo ar t%o pobre, t%o semrecursos<... /anta formosura para quem< Para que<

3 0eu destino< ;ue interesse deve merecer2lhe< 7ra,,, o de tantasoutras... Casarei com al um tropeiro por ahi... Estou vendo, estudando,esperando al uem que seja de todo máu...3 Voc>, casada com um tropeiro,meu Beus, meu Beus44 9mpossivel4

3 E porque n%o< (em sequer valho um arrieiro< 3 7h4 1> )ca, muito mais, muito4 (%o leve a mal as minhas palavras8

estou f ra de mim, nem sei o que di o...

3 7lhe, observou a Ci aninha, uma cousa eu juro por Beos que meestá vendo, o homem que me tiver n%o há de se arrepender... Sinto que n%onasci para mulher ordinaria... menos ainda para mo#a de parta aberta...

E com impeto?

3 (%o, isto n%o, antes a morte... mil ve"es a morte4

! arrando ent%o violenta a m%o de !nselmo e ache ando2se a elle,per untou irada, com os sobrolhos fechados, as fei#5es contrahidas?

3 7 Jos) ispo da venda lhe contou al uma mentira< Aallou mal demim< Responda, responda4

7 mo#o repetiu o que era verdade.

3 (%o, elle se calla, todo embe"errado, quando outros cortam na pellede voc>... E n%o s%o poucos 1> )ca... ah, n%o4

3 ma sucia de catimbáos e mofinos4 e&clamou ella com altive". Podeminventar o que fi"eram, desafio2os a todos8 mas o mais pintado d:elles n%oteve isto de mim4... 9&e4

E fe" estalar a unha de encontro a outra.

Passou ent%o por perto uma velha que ia buscar a ua ao rio com umpote á cabe#a, e os dous pouco depois se separaram.

!nselmo levava, comtudo, a promessa formal do t%o inspirado encontroa s s, n:um recanto ensombrado que ella lhe indicou, a custo, incerta,descontente, apprehensiva.

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&II

Já se ia a placida e calida tarde fundindo em noute, quando no pontoapra"ado, ocorreu o rende"2vou" que devia ser decisivo, entre 1> )ca e!nselmo de Sá.

A@ra este muitas horas antes, o sol ainda alto no hori"onte, esperal2aardendo em febre e impaciencia, e suppondo2se a cada momentosimplesmente ludibriado pela suspirada Ci aninha.

!final appareceu ella, como que tra"endo comsi o ondas da lu" que jáia faltando na terra, em derredor. Parecia descer do c)o.

3 Enfim4 E&clamou o mo#o, atirando2se arrebatadamente ao seuencontro.

Repelliu2o 1> )ca com brandura. 3 (%o toque no meu corpo, observou rave e resoluta, venho s para

ouvil2o, já que se mostra t%o ancioso de conversar commi o. E será esta aultima ve", desde já o aviso.

3 Sim, sim, concordou !nselmo8 nada mais quero.

Come#ou ent%o uma d:essas declara#5es de amor como tantas nofundo ouvira ella, d:esta feita, por)m, n:uma lin ua em nova, sonora,arrebatada, que dolorosamente lhe acariciava os ouvidos, a dei&ava enleada,com a cabe#a um tanto verti inosa.

Presa de sincera pai&%o, foi !nselmo por ve"es eloquente n:aquellessurtos de elevada e platonica poesia, que ) o perfido vis o das crueis eirremediaveis e&i encias ph6sicas.

31> )ca, di"ia elle, vejo, presinto que voc> deve amar2me umbocadinho, mil ve"es menos do que eu, mas sempre al uma cousa, e o amorn%o pensa, n%o calcula, o amor ) todo misericordia, ) um sacrificio, dá vida,n%o mata, n%o e&termina4

E como fo o lhe prendia as m%os frias nas pontas.

3 Por certo, balbuciava ella, voc> n%o ) como os outros que me falarame sempre me falam em pai&%o... mas, afinal, e ape"ar das minhasimprudencias, sou uma rapari a honesta... tenho sabido res uardar a minhahonra... que será de mim<

3 (%o lhe d> isto cuidado... leval2a2ei commi o...

3 Sim, replicou a Ci aninha ironica e mais senhora de si, como cousaver onhosa, n%o ), ás escondidas< (%o chamam por ahi malas essas pobrescreaturas que se uem com os viajantes< 9a eu ser como ellas, simples mala4E minha pobre m%e, que n%o pode mais viver sem mim<

3 !h4 verberou com real desespero !nselmo, num e&plos%o de in enuoe oismo t%o commum em quem ama dev)ras, voc> n%o pensa sen%o em si.Eu n%o valho nada8 nasci para soffrer, para ser achincalhado, pisado aos p)s,

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para sofrer como um miseravel... ;uem me tirou o somno, o comer, o beber,quem me causou mal t%o fundo e incuravel, ) que lhe deve dar remedio... de justi#a, ) de equidade4 9sto brada aos c)os...

Bubio luar clareava ent%o um pouco os espa#os, luar, por)m, t%o,pallido, t%o desmaiado4... Se jámais B. Cula pudesse fa"er de lua, havia depassear assim, desmaiada, chloro2anemica, pelo firmamento af ra.

Be todos os lados tambem, como que immenso desalento nai antesca nature"a, alquebradas e inertes as for#as de resistencia numa

modorra lethal.

S a 1> )ca a luctar valente com os arroubos de !nselmo e comsi omesma.

;uis o mancebo apressar o desfecho e de subito a tomou nos bra#os.

!hi, por)m, sur ira o instincto da revolta no peito da Ci aninha e tal

empurr%o deu ella, que !nselmo cahiu redondamente no ch%o a certadistancia.

!h4 n%o era o for#udo e temido Jos) ispo, esse bacharel8 certamenten%o4

Rompeu elle em nervoso pranto, dei&ando2se ficar deitado na relva,com o rosto occulto entre as m%os. E o corpo todo estremecia com aviolencia dos solu#os.

9nvadiu ent%o o cora#%o da mo#a sentimento t%o intenso de compai&%oe remorso, que, sem saber bem o que fa"ia, foi sentar2se junto do misero

apai&onado e fe"2lhe pousar a cabe#a sobre um dos joelhos.E ficaram os dous immoveis, elle a chorar em silencio, ella a acariciar2

lhe os cabellos com muita mei uice, ambos num enlevo de indi"ivel do#ura.

!h4 Ci aninha, Ci aninha, que peri o4

;ue te podia salvar em momento t%o e&tremo, quando tu mesma, aescorre ar por m6sterioso e irresistivel declive, te entre avas aoentontecedor esmorecimento de toda a tua ener ia, da tua vontade, t%oimperiosa, instantes antes, qu%o vencida a ora e conculcada< Pois, senhores,n%o lhes conto nada8 ou#am, por)m, o que succedeu.

Já quatro ardente labios bem pro&imos se iam abotoar, naquellasu estiva solid%o, no mais sequioso beijo, quando, com bastante estrepito,um animalsinho correu alli perto, al um ua&inim ou ja uatirica, e foi quantobastou para que 1> )ca voltasse a si e de um pulo se pu"esse de p).

;uem sabe se n%o lhe valera a vela"inha de c>ra, que, dias antes, f@r alevar e accender, na i rejinha com toda a devo#%o, aos p)s da suaprotectora, a Senhora B. Rita de Cassia, santa de muitos mila res ebondades<

Em todo o caso, estava desfeito o terrivel feiti#o. !clararam2se asposi#5es.

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3 !deus, disse a Ci aninha. Si a o seu caminho, !nselmo, parta quantoantes, amanh% se f@r possivel . de fundo d:alma que lhe desejo todas asfelicidades4 Esque#a at) que e&isto n:este mundo.

Estava o mo#o positivamente apavorado.

3 (%o, n%o, di"ia elle a arrando2lhe nas m%os e de joelhos, mil ve"es,n%o4

E, no au e do desespero, e&clamava.

3 ;ue fa"er, santo Beus, que fa"er< Voc> quer a minha morte, quercom certe"a4...

Calava2se 1> )ca, como que a meditar.

!final?

3 =evante2se, ordenou, e ou#a2me com al um proposito e soce o.Per unta2me que fa"er, n%o )< Pois lhe respondo? cousa muito simples, muitonatural? case2se commi o.

Em qualquer outra circumstancia simples ar alhada teria acolhidosemelhante alvitre8 mas !nselmo estava t%o atarantado e abatido que secontentou com abrir uns olhos muito espantados.

3 Eu... eu< balbuciou, casar... com voc><

3 Por que n%o<

E vendo mil duvidas nos olhos desvairados do mo#o? 3 Dá de, acrescentou com altive", achar2me di na de si... (%o tenha

susto...

3 0as... meus paes, voc> nem ima ina, t%o cheios de si... bons, decerto8 pacificos, mas or ulhosos da sua familia, do seu nome...

3 E eu, chaqueou ella ironica mas já ahi jovial, valho pouco< 0inham%e, sim, ) uma pobre coitada, mas quem lhe di" que meu pae n%o eraal um rei ou principe entre os ci anos<... !quella ente ) toda de randesse redos... Sinto /er jo ado no Paranah6ba uns papeis de familia...

3 1> )ca, implorou !nselmo, dei&e de debicar2me... Responda, quedir%o meus paes... vendo2me casar consi o...

3 E levarei a mam%e, additou lo o a Ci aninha... (%o me separo dellapor nada d:este mundo...

3 Ent%o<

3 7ra, ent%o< Dei de enfeiti#ar seu pae, sua m%e, toda a sua ente8fica por minha conta. 7lhe, !nselmo, nunca lhe metterei ver onha... Voc> meensinará muita cousa que n%o sei, e Santa Rita me ajudará.

3 Casar, casar, repetia assombrado o outro. E os papeis<

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3 (%o lhe d> cuidado. 0ando um proprio chamar o meu padrinhovi ario e tudo se arranja num momento. em, concluiu4 Se voc> me procurarmais, há de ser para levar2me á i reja. Bo contrario n%o lhe mais para mim.!deus4

E, correndo para a casa, passou 1> )ca a noite em claroL, sem ummomento de soce o, resolvida por)m de pedra e cal, como se di", a n%o daro bra#o a torcer.

&III

0il projectos fe" !nselmo, do seu lado. Che ou at) a arrancar2sed:aquelle pouso fatal, mas, dous dias depois, voltava á Santa Rita,aniquillado, desfeito, devorado de mortaes saudades, em estado

positivamente lastimavel $ um jo uete da mais infrene pai&%o.Pensou at) em matar2se, atirar2se ao Paranah6ba, acabar de ve" com

aquella situa#%o infernal, em que n%o via sahida possivel, o menor posti oentreaberto, que lhe permitisse olhar mais desassombrado para o futuro.

;ue lucta in ente4

!final, numa bella manh% em que a nature"a seria inebriante, feli",bondosa, a aconselhar a todos os seres ale ria, e&pans%o e o"o, tomou asuprema resolu#%o e, batendo á porta da miseravel ch #a das duas mulheres,pediu solemnemente á B. Cula a m%o da sua filha, a Ci aninha4

Como foi acolhido4

! recompensa foi tambem deslumbramentos sem par, al)m de umbeijo, no fim da visita, bem em cheio nos labios, capa" de dei&ar tonto deor ulho o t"ar de todas as Russias.

Para que contar mais o que se se uiu< Como tentar descrever o pasmode toda a povoa#%o< E, no dia do casamento, o resplendor de 1> )ca, no seuvestidinho branco de cassa fina, todo enfeitado com muitas fl@res naturaes delaranjeira< Sabem os leitores se tinha ou n%o direito de carre al2as.

E o dia da partida< Ella a cavallo, B. Cula em solemne ban u>, todalavada em la rimas, e o (h@nh@ Aructuoso como capata" da tropa<

!inda hoje se fala de tudo isso em Santa Rita de Cassia.

;uando desfilava o prestito, n%o poude Jos) ispo, correspondendoenfarruscado ao cumprimento dos que se uiam via em, dei&ar de e&clamar?

3 =á se v%o as ale rias de Santa Rita4

E, para espairecer a triste"a, deu, nesse dia, formidavel surra á pobreda Perpetua.

Entrou por uma porta e sahiu pela outra, e acabou2se a historia.

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Aicáram contentes< (%o<

Pois ent%o p)#%o ao !ffonsinho, ao Celso, que lhes conte outra.(in uem como elle para saber mil cousas do sert%o8 e as narra com muitasin ele"a e ra#a, n:um est6lo mei o, attrahente, cr6stallino, assim ámaneira de limpido re ato a sussurar entre mar ens floridas, ma icas,encantadoras.

CABE'A E CORA' O

(es o*o +syc,o-o.ico)

I

3 Repare, ettina, na pun ente differen#a de idade que se interp5eentre n s e dolorosamente nos separa um do outro. (ada de illus5es deambos os lados. Eu poderia ser, n%o já seu pae, mas at) seu av@. Veja comoa m%o do tempo me pesou sobre a pensadora cabe#a, o contraste dos meuscabellos brancos com a sua cabelleira ne ra, e&uberante de e&plendor eseiva, verdadeiro diadema da mocidade. Como querer unir as sofre asimpaciencias das primeiros anhelos da primavera á meditada calma dosultimos dias do outono< 7 presente n%o responde pelo futuro. 0il cousas

imprevistas nos esper%o nos muitos meandros da e&istencia. Por mais que ara"%o prepondere, por mais que busque uiar2nos e condu"ir com se uran#a,cumpre contar sempre com as surpresas do destino. ! vida ) rio m6steriosoem que n%o há piloto, por mais prudente e e&perimentado que seja, capa" deprever todos os peri os e fataes corrente"as, para lá de breve curva que oolhar alcan#a... E quer Voc> que eu me constitua a causa da perda de muitasillus5es suas, preciosas, repassadas de encanto e sonhos, quando o viver seabre ante os seus passos t%o cheio de esperan#as, promessas e ale rias< Beor ulho se entumesce, de certo, o meu peito por conhecer hoje, t%o de perto,a intensidade do affecto que a sua enerosidade me dedica8 mas ur e que eusaiba resistir ao seu arrastamento... e ao meu, tambem. Eu desposal2a< mvelho, para assim di"er, che ado quasi aos sessenta annos4 Prendel2a a mim,formosa, cobi#ada por tantos, rica, seductora< A@ra loucura de ambos... Eque diria o mundo<

3 ;ue me importa o mundo< Replicou arrebatada a bella e nevroticadon"ella ap s curto silencio. (%o lhe incumbe, a elle, preparar2me afelicidade que a sorte complascente me indica e que devo alcan#ar por mimmesma. 0uito tenho pensado, muito perscrutado nos recessos mais intimosda minha alma e no fim acho que, de todas as homena ens, reaes oufin idas, prestadas pelos homens, s me fica a lembran#a, viva, suave,profunda, da sua superioridade, !ntenor, sobre todos. Conheci2o sempre t%odifferente dos mais8 Sinto, que a minha vida, sem a sua presen#a, o seucontacto, o seu apoio terno e varonil, de infinda e vibrante mei uice, se metornará tornará t%o va"ia, t%o @ca, esteril e pesada, que s essa possibilidademe incute lethal triste"a, desalento enorme at) ao fundo do cora#%o. ;uesentimento sen%o o da verdade me leva a falar2lhe assim< em sabe,

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comsi o n%o uardo se redos. (%o poucos ambicionam a minha m%o, desdeaquelles que s tem por si a banalidade da juventude, at) aos que buscamdeslumbrar2me com as posi#5es e honras conse uidas. /odos me tem faladode amor8 s o Sr, conservou a ori inalidade do silencio, emb ra há muitoreconhecesse eu que, no intimo, n%o era, n%o podia ser2lhe indifferente...

3 7h4 Sim, interrompeu elle com sincero arr@bo, quantas ve"es meachei sem for#as para reprimir impetos, que, nem aos M annos, jamais meconturbaram<4 Por compai&%o, n%o me colloque em posi#%o dificil... ridicula,aos meus proprios olhos...

3 !t) que invertidos os papeis, continuou e&altada a mo#a, pude enfimarrancar2lhe o seu se redo. Já sei, afian#o2lhe o que ) ser2se feli"4 7 quee&perimentei naquella tarde decisiva, em que, ap s todos os seusacanhamentos e resistencias bem leaes e valentes, o ouvi discorrer commascula e irresistivel eloquencia sobre o amor, applicando2o a n s dous, )indescriptivel... (%o cerrei os olhos um s minuto8 e a madru ada meencontrou á janella triumphante, mas alquebrada, ardendo em febre...

+Q Aoi este conto resposta á carta de um ami o já fallecido que, aos TLanos, pediu a minha opini%o sobre um casamento desproporcionado, queafinal realisou. (ota do !utorQ

3 ettina, ettina, implorava !ntenor no tom de brando e doridoquei&ume, quanto me arrependo de n%o ter sabido vencer2me... Perd@a osonho... mais calma4

3 ;ue quer, meu bom ami o< !ctua em mim tambem a influencia do

nome que me deram. Será Voc>... serás... o meu 1oethe4 3 0as aquelle era um enio, um ente privile iado, a loria de uma

rande na#%o, o or ulho da intelli encia humana? tudo merecia, a admira#%odos homens, as homena ens do mundo inteiro, o amor das mulheres, aadora#%o de todas as idades. Subira passo a passo como sol offuscado emfirmamento sem nuvens, tocára ao "enith, cada ve" mais rutilante, e aoaccaso, a transmontar, illuminava com deslumbrante ful @r o seculo em queviv>ra. Protestava2se a nature"a intellectual ante aquella for#a creadora, t%o

rande que parece impossivel e&cedel2a. Ae", com effeito, vibrar todas asfibras do cora#%o8 desvendou2lhe, como o divinal Sha speare, muitos dos seuse redos8 e abran eu as mais arduas quest5es da sciencia8 resolveu porm)ra intui#%o abstrusos problemas8 revestio todas as formas $ Proteoestupendo e sempre admiravel, nin uem o i ualou na e&tens%o e profunde"ada inspira#%o e do saber4...

3 Serás o meu 1oethe, insistia ettina bebendo as palavras do seuapai&onado e fitos nelle os quebrados e amorosos olhos8 cada qual vive e see&pande no circulo em que o destino o fe" nascer. /ivesses tido o palco queelle, o enio, pisou, e a tua loria houvera passado muito al)m dos limitesque conse uiste.

;uem p5e, assim mesmo, em duvida a tribuna, o theatro, as lettras, a justi#a dos concidad%os< Serás o meu astro vivificador, o meu sol... Aeli"esdas que te viram e te deram o tributo do seu amor em teu "enith. Para mimf@ra at) demasiado forte o teu brilho de ent%o. Contento2me com os raiosdesse occaso, já que tanto me falas nelle... !liás, que sou eu sen%o simples

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prolon amento do teu espirito, da tua vida moral< ;uem me educou a alma,me infundio o osto e o o"o da leitura, ávida, insaciavel< ;uem me uiou nolab6rintho da literatura, me fe" viver a vida dos anti os, me incutio oenthusiasmo das obras primas, o amor do bello, da arte, do honesto, dopuro, do sublime< ;ue sou eu sen%o um filha da tua intelli encia, do teu

osto, das tuas inclina#5es ideaes e sentimentos< E com a felicidade aoalcance da m%o hei de dei&al2a escapar por preconceitos e conven#5es queaborre#o e a que n%o se d bra a minha altive" innata< ;ue fa"er de mim, seantepu"eres os ar umentos da fria ra"%o a todos os impulsos da nossa alma<Valerá t%o pouco, aos teus proprios olhos, a creatura intellectual queafirmaste e ) obra e&clusiva tua, que, em nome de um enlace bemequilibrado se undo leis ph6sicas, meramente materiaes, a atires, semconsciencia nem remordimento, nos bra#os de qualquer peralvilho ridiculo,nullo, brutal ou effeminado<

3 Já vivi demais, objectava !ntenor com sensivel anciedadepatenteando a lucta que se lhe travára no intimo, e o que sei da e&istenciame ensinou a desconfiar do que me resta viver... !costumam2se os passos do

homem tanto a subir, quanto a descer, e a ora s me toca ir bai&ando, costasvoltadas para o ponto culminante da parabola vital... /enhamos ambos justacomprehens%o das cousas... saibamos resistir a n s mesmos...

E com os olhos a brilharem de emo#%o, difficilmente refreada?

3 Calcule os esfor#o que me custa este apello. 9ma ina abandonadaestatua em florido jardim a repellir, se lhe f@ra possivel, o pend%o de rosasque busca en rinaldar2lhe a fria e marmorea fronte...ima ina viajantee&hausto da cansativa jornada a fu ir da fonte fresca, pura, sussurrante, quelhe vai estancar a s>de e restaurar2lhe as perdidas for#as... /erei, por)m,ener ia8 afastar2me2ei d:aqui, destes lu ares que tanto estreme#o, bem sabe

a causa, dei&al2a hei neste ambiente de perfumes e ma icos encantos, doque a minha alma levará sofre a al umas parcellas para suavisa#%o deimmensas dores futuras... e depressa virá o esquecimento, o olvido certo emerecido, dar2me ra"%o. Rapidamente a ausencia me envolverá em densastrevas... E&perimentemos, ettina...

3 A@ra rematada loucura, indi na da sua refle&%o, contrária a tudoquanto lhe ensina o conhecimento que tem do cora#%o humano... Pelomenos, assim se me afi ura... Por mim quero jul al2o. S%o susceptibilidadesde e&a erado melindre, de e&altado e meticuloso cavalheirismo, que mais olevantam aos meus olhos... !liás, para que e como discutir sentimentos<

3 Bolosa conselheira ) a ima ina#%o... (%o se dei&e enlevar porfu itivas illus5es.

3 Be que vive o amor, qual o seu perenne alimento, sen%o a fantasia<Bei&e2se de hesita#5es que afinal acabam por deslocar2me, lon e de mais, domeu papel natural. ! mim n%o competia vencer resistencias dessas,sobretudo com o meu enio altivo e independente... ;uer Voc> ar umentosuperior a tudo< este o impeto que me impulsiona, o meu desejosupremo... e basta4

Prosse uindo com vo" insinuante?

3 Bescanse em mim, !ntenor. !cceito o simile de que há pouco usou?cor@arei de rosas e l6rios os seus dias. Entre ue2os, sem receio nemvacilla#%o aos meus cuidados. /omo compromisso solemne , no momento em

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Em lu ar, pois, de e&perimentar do objectivo alcan#ado intensasale rias t%o esperadas e promettidas pela ima ina#%o, via nelle, pelocontrario, motivos de desalento e desen ano, com que de certo n%o contára.E por essas falhas do sentimento sincero e violento que a envolv>ra toda ámaneira inteiri#a e inatacavel coura#a, se lhe ia insinuando, lenta, masinsistentemente, ine&plicavel t)dio da vida, des osto de si mesma e, maisque isto, a impress%o de um casti o por falta, ou erro, e erro irreparavel,inconscientemente comettido. uscava anal6sar o que lhe ia n:alma eafi urava2se2lhe que penetrava sem uia, nem fio, em um lab6rinthoine&ploravel, cujas voltas de todo desconhecia e que a dei&avam perdida emdensas tr)vas, sem mais orienta#%o possivel. K;ue tenho<Nper untava comcerto terror a si mesma nos rapidos momentos em que ficava a s s e livre dasolicitude, aliás t%o intelli ente e estremecida do esposo, todo carinho esuavidade. KPorque n%o me sinto completamente feli"< ;ue me falta< ;uerosel2o8 quero, eis a minha vontade, e nada a ella resiste. KPunha, portanto,esfor#ado empenho nisso, mas o desanimo caminhava a par das maisvalentes inten#5es8 d:onde, al uma irrita#%o já contra a serenidade que!ntenor dispu")ra ao derredor delles dous com tanta discri#%o, quanto "elo.

Parecia2lhe um desencontro. /eria talve", quem sabe< achado mais adequadaa inversa, e&pandir2se em festas e no ruido do mundo. !spirava elle aconcentra#%o cada ve" mais intima, na identifica#%o de todos os ostos epreferencias, ao passo que ettina e&perimentava nesse circulo, que lheparecia apertado demais, desillus5es va as, pouco definidas e no intinoappellava para mais al uma a ita#%o af ra, afim de dissipar o t%o inesperadoe inconcebivel mal2estar. E com isso iam despertando, inquietos, attentos,malevolos, os sin ulares e contradictorios impetos do nervosismo que desdemenina t%o imperiosamente a haviam dominado.

Bei&ando2a apathica, retrahira2se2lhe a ima ina#%o como perfido oudescuidoso companheiro que, depois de leval2a arriscado passo, de repente

se sumira, trefe o, desleal, abandonando2a s sinha em peri oso lance.uscava ver s ra"5es de applauso no enlace que formára, muitas ve"esenumerava, ainda com or ulho, as qualidades que, aos olhos de todos, tantapreeminencia davam a !ntenor8 e já lhe iam nascendo impasciencias porencontral2o t%o perfeito, se undo o que lhe podia e&i ir a alma com espherapura e elevada.

/oda essa evolu#%o, por)m, em e&tremo lenta, morosa e a se arrastar,como insidioso reptil, de um dia para outro, formando uma s cad>a de )lostenues, irrompivel.

;uis ettina voltar2se para o passado e nelle estudar a historia dapai&%o que a avassalára com tanto imperio, fa"endo2a victoriosa de n%opoucos trope#os, resistencia do tutor, conselhos e ro os dos irm%os, dasami as e at) daquelle que afinal se tornára seu esposo, e ficou pasma dehaver posto t%o rande violencia a cousas que a ora lhe pareciam, sen%o detodo mortas, quasi indifferentes.

Embora aborrecendo os livros naquella quadra fatal, ella que devoráraquantos lhe haviam cahido debai&o da m%o, releu pausamente as obras domarido e releu2as com os olhos da critica prevenida e disposta a severidadese n%o mais com os arrastamentos e s6mpathias do cora#%o. !chou2ascorrectas, em puro est6lo8 mas, como de facto eram, frias, alambicadas,demasiado polidas, sem esse colorido, essa espontaneidade que attrahe,a arra e dá á id)a vida ori inal, brilhante e por ve"es immortal. Pareceram2lhe ent%o as pesias de !ntenor, na sua perfei#%o metrica e r6thmica, refle&opallido, esbatido, de versos de outrem, já lidos, n%o sabia quando, há muito

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tempo, cuidadosamente a#acaladas, mas sem fibra, nem estro8 assim essasfi uras a)reas, subtis, insubsistentes, destituidas de f rmas e contornosclaros, que espelhos combinados de lon e e em certa inclina#%o che am areprodu"ir no espa#o e fa"er fluctuar como fantasticas vis5es. (a e&uberanciade tropos, na diffusa abundancia de palavras, faltavam os musculos, nervos,circula#%o de fluido intenso, cálido, vivificante, áquellas evoca#5es.!ppari#5es como que de uma e&istencia anterior, já passada, já e&tincta, asuscitarem s saudades na indecisa e anciada aspira#%o á realidade.

!s interminaveis palestras, repassadas de tamanho encanto emquetanto havia aprendido, a ouvir !ntenor discorrer horas inteiras sobre umsem numero de assumptos com suave eloquencia e indiscutivel saber, a oralhe pesavam na sua fei#%o de le itinas conferencias sem ra"%o de ser nemcabimento. E, na indetermina#%o do que mais podia a radar2lhe naquellaphase de ine&primivel displicencia, ora as cortava por modo repentino, quasiaspero, desa radavel.

Preso n%o pouco tempo o seu espirito á direc#%o e influencia e&clusivas

de !ntenor, aspirava, quando menos convinha, a reconquistar a liberdade, areadquirir independencia e autonomia no modo de encarar as cousas equest5es. Por isto tambem achava pra"er especial e acre em contrariar, aprincipio timidamente, mas depois bem de frente, opini5es e sentimentosque, comtudo, no fundo e na essencia, reconhecia justos e indiscutiveis.

(essas occasi5es ainda a pun ia o olhar sorpreso e ma oado de!ntenor, que buscava lo o, prudente e cavalheiroso, impedir qualquer causade a"edume e dissidencia emtre ambos, por mais passa eira quefosse.

0as a cautelosa e mei a condescendencia do marido se, nos come#os,lhe levava ao intimo certo travo de remorso, depois se lhe foi tornando

motivo de mais irrita#%o.;ui"era encontrar impu na#5es varonis que lhe desbaratassem os

caprichosos e premeditados ar umentos e dessem curso differente aospensamentos. ! increpa#%o de injusta que lhe irro ava a propria conscienciafoi2se curiosamente transmudando em proposito formal de !ntenor paraaffirmar cada ve" mais o assi nalamento da sua superioridade.

E tudo isto, que se desenvolvia lenta e radualmente nos recessos maisreconditos da alma, em ve" de desvendal2o com leal e nobre franque"a aoesposo, conforme tanto promettera, incobria2o acautelada, possuida talve"do ve&ame de si mesma.

Por tal forma, por)m, serena a superf'cie do formoso la o, quenin uem poderia sequer desconfiar das correntes encontradas que semoviam nas profunde"as da massa liquida. (o e&terior, t%o somente toquesde sensivel melancolia, sombras, embora leves, como que de lon inquasnuvens a perpassarem adel a#adas sobre o disco do sol.

(essas duvidas e a ita#5es, conheceu ettina que já era m%e.

III

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/erriveis os meses de ravide". Bespertou viva", impetuosa, aima ina#%o de ettina, sujeitando2a, em lon as semanas de impossiveldescanso, a a udo e assustador soffrimento.

(%o pensava sen%o em des ra#as e morte, quando n%o era na perdacompleta da belle"a, na insanavel deforma#%o do corpo e dos encantosph6sicos, h6pothese ainda mais intoleravel ao conturbado espirito.

Besenvolvia !ntenor, punha em pratica todos os recursos da solicitudee da paciencia, da ra"%o e do sentimento, para combater e dissipar essastetricas apprehens5es, que revestiam mil f rmas caprichosas e de fero"nereustemia8 mas, n%o raro, já no intimo se reconhecia cansado de tarefa t%oin ente, em que n%o lo rava sen%o mui parcialmente os justos fins.

Come#ava, aliás, a entrar2lhe a convic#%o de que naquelle enlace n%ose d)ra, nem mais podia dar2se a sonhada e indispensavel identifica#%o dasduas nature"as, moral e ph6sica, e d:ahi ra"5es de inquieta#%o, emboracuidadosamente refreada e comprimida nas mais va as co ita#5es.

[elava as menores apparencias de um estremecimento, que, ape"ar detoda a sincera intensidade, no fundo o fadi ava, desviando2o, com imperiosae constante e&i encia, dos estudos litterarios e das pesqui"as philosophicas,que lhe eram t%o caros e tanto lhe haviam antes amenisado e embellecido ae&istencia. Verificava, ent%o, com sobressalto, que se en anára, elle tambem,havendo já de muito passado a idade, transposto os limites, em que a mulher) absolutamente tudo, o idolo, o culto e&clusivo, a ori em, o centro dos maise&traordinarios e absorventes sacrificios e dedica#5es. !mava, de certo,profundamente a esposa, de cuja posse e&perimentava tanta ufania, masqui")ra nella encontrar uma fonte de alevantadas inspira#5es intelectuaes, en%o uma causa de perenne perturba#%o, a irarem ambos n:um circulo de

apertadas id)as, sempre as mesmas e sempre a renascerem, quandopareciam desvanecidas e at) suffocadas.

(o meio de todos os sustos e terrores, um consolo tinha ettina8 ainabalavel certe"a de que o filho pois obri atoriamente, no seu entender,havia de ser um meninoQ traria dos mundos desconhecidos enio e belle"airresistiveis, destinado, como dev>ra ser, a futuro raro, bem raro, nos annaesdos fados humanos. E com a e&a era#%o que em tudo punha, uma ve"abertas as a"as á ima ina#%o, já o via no pinaculo da loria, cercado deresplendente aureola, illustrando de modo offuscador o nome dos paes,

uindado ás mais altas e cobi#adas posi#5es sociaes. ;ue poeta havia de ser,que orador e estadista4 (in uem o sobrelevaria em talentos, majestade eformosura, al)m da innata distinc#%o. Com a sin ular condescendencia dem%e, apra"ia2lhe ao pensamento a id)a de que mulher al uma poderiaresistir á seduc#%o de ente t%o superior.

(asceu, com effeito, um menino8 por)m, s em parte realisava asdouradas esperan#as8 se tinha notavel correc#%o e delicade"a na raciosamiude"a dos tra#os ph6sionomicos, pela debilidade eral e melindrosacomplei&%o mostrava que n%o vi)ra á lu" apercebido dos meios para as luctasda vida. Poude, ra#as a cuidados nunca vistos, resistir ou antes definhar unstre"e me"es8 mas afinal partio para o c)o. (em havia como prendel2o pormais tempo á terra.

9ndescriptivel a d@r de ettina. Esteve entre a vida e a morte e quasiacompanhou o filhinho. Vencida, por fim, a a ude"a da crise, que n%o poucodurou, de todo o crudelissimo periodo lhe ficou sin ular impress%o, o direito

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de irro ar8 lá de si para si, formal accusa#%o ao marido. ! elle incumbia /erincutido alento e for#a, valentia or anica e vitalidade ao ente que haviamcreado, a ella belle"a e ra#a8 e se um cumprira a sua miss%o, o outro ficáramuito aquem. E ahi, reflectia com pun ente insistencia na differen#a deidade, que lhe haviam todos, annos antes, apontado como irreparaveldesacordo, emer indo dessa dolorosa medita#%o medo immenso de verrenovados os desen anos e as prova#5es da maternidade.

Com a injusti#a propria do caracter humano, achou que a resistencia de!ntenor n%o f@ra, por e oismo, bastante leal e vi orosa8 talves mais um meiode fortalecer e accender pela contrariedade o capricho e a teimosia, asviolencias da ima ina#%o, o amor de cabe#a, em summa, que a levára aocasamento. Aa"ia2se ent%o de victima immolada ao interesse de outrem.Au"ilavam2lhe at) na mente feias e deprimentes conjecturas que, indi nadacomsi o mesma, buscava a todo o transe abafar e reprimir. ;uem sabe seaquelle homem... aquelle velho, n%o havia particularmente visado á suafortuna, aos bens que lhe constituiam quantioso dote<

E, ape"ar de todo o empenho em desviar2se desse resvaladi#o declive,via2o sempre aberto á medita#%o, a attrahir2lhe os passos, t%o facil ) ainsuffla#%o de malevolo pensamento, peri oso ermen, prompto lo o acrescer e deitar fundas rai"es.

Por esse tempo, jul ou !ntenor dever recorrer á a ita#%o da sociedadepara dar deriva#%o e lenitivo á acabrunhadora triste"a da mulher. (%o foi,por)m, sem custo quer conse uio arrancal2a ao marasmo e leval2a a bailes,theatros, concerto e festas.

Como radiosa e incomparavel revela#%o appareceu ent%o ettina aosolhos do mundo, real#ada a pere rina belle"a pela s6mpathica melancolia,

que lhe ensombrava o demasiado ful @r. Sorpre"a e um tanto oirada domovimento que tamanho contraste fa"ia com o modo de viver passado,docemente a acariciaram lo o as homena ens de que se vio erarchia, já, eainda mais, pela admira#%o dos homens.

/ambem, em pouco tempo, máo rado as reluctancias do marido quevia ultrapassado o objectivo collimado, entre ou2se ella de todo áscomplicadas e interminaveis imposi#5es da convivencia social, sem mais seimportar com as censuras tacitas de !ntenor bem accentuadas pelo cansa#oph6sico, que a este n%o era mais dado occultar.

Be volta de brilhante baile, prolon ado at) a madru ada, nesse mesmodia havia que tomar2se parte em pomposo e lon o banquete e, lo o depoisse uir para al um theatro ou concerto, em que se tornava obri atorio ocomparecimento de todo o hi h2life $ uma roda viva, enfim4

Para lon e, a tranquilidade do lar, as horas placidas, i uaes, mas t%osuaves, consa radas ao soce o a ás doces e&pans5es da vida interna e defamilia4 Com avassalador despotismo e no meio do ruido e de milleviandades, era a ora o mundo que re ulava a verti inosa e&istenciadaquelles dous entes, mal lhes dando tempo para respirarem.

! ettina, de certo, n%o faltaram adoradores que sem rebu#o,aspiravam á sua conquista, tributando2lhe incessante e entontecedora [email protected], por)m, superior a todas as tentativas e a qualquerdesfallecimento e, em certa occasi%o, che ou a entre ar ao marido cartas de

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um dos seus mais ardentes apai&onados, escriptas com a sincera eloquenciade um sentimento vehemente, incoercivel.

(essa dificil e delicada emer encia, procedeu !ntenor com t%oimmediata decis%o, tanto tino e melindroso apre#o dos seu direitos einteresses, que ran eou os applausos eraes da sociedade e mais selevantou na estima de todos. Aicou2lhe rata a esposa por tel2adesembara#ado t%o eitosa e ener icamente daquella compromettedoraassiduidade, que do seu lado repellira com toda a altive".

(em por isto, por)m, cedeu menos ao arrastamento dos bailes e dassoir)es.

(uma dessas noutes, foi que, pela primeira ve" vio e conheceuAernando de ! uiar, há pouco che ado da Europa. !presentado por umaami a entre duas quadrilhas, com elle dansou umas voltas de cerimoniosavalsa e trocou al umas palavras indifferentes.

Sem saber pelo que, por)m, sentiu2se toda perturbada, com repentinoaperto, quasi d@r, de cora#%o, an ustiada, como que presa de rave eindefinivel mal e deu2se pressa em re ressas á casa. Beitada, s poudeconciliar a itados momentos de somno, quando os raios da auroraacariciaram doce e pallidamente as janellas do seu bello e senhoril palacetede residencia.

IV

Para ettina come#ou ent%o uma e&istencia de continuo supplicio.9nvadira2lhe o ser todo, de repente, de momento, como cidade tomada deassalto, por indomavel horda, a mais violenta pai&%o, um d:essesmovimentos de irrefreavel impetuosidade, que n%o consentem a menorresistencia, um s minuto de refle&%o, a mais simples contrariedade, a maisleve objec#%o intima. Era cousa fatal, infallivel, que se impunha como ordemsobrenatural, a que n%o havia sen%o curvar2se e obedecer.

9ma ine2se vasta represa de a ua, cujas falhas no muro desustenta#%o quasi lineares e invisiveis de subito de abrissem como brechasenormes, dei&ando que toda a massa liquida irrompesse louca, devastadora,em ondas, catadupas e medonhos torvelinhos.

/anto buscára ella outr:ora estudar o arrastamento que a pouco epouco, passo a passo, a levára aos bra#os de !ntenor, tanto anal6sára emtodas as faces a mei a influi#%o d:aquelle doce affecto, declive caro aos seusinstinctos, quanto, a ora, impossivel lhe era ter m%o no pensamento, uial2o,diri il2o e calcular qualquer das consequencias desse novo e t%o diversosentimento.

!mava porque amava, n%o achava outra ra"%o8 vassala em a uma leide irresistivel imperio e lei como que meramente ph6sica, pois se affirmavapela d@r acerba, teimosa, intoleravel, no or anismo todo, 2 pontadas,sobretudo, finas, a udas, terebrantes no cora#%o, a penetrar2lhe as fibrasmais secretas, suffoca#5es que quasi a fa"iam desmair, a s s, no fundo do

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seu quarto, ardendo em febre e rolando convulsamente sobre o leito, que lhen%o dava um instante de repouso.

Era todo o seu corpo presa de verdadeiro abra"amento, arredada daconturbada e estupefacta mente qualquer lembran#a que n%o fosse elle, selle4 (%o queria, ou antes, n%o podia e&aminar, por pouco que fosse, aori em de tamanha absor#%o, esse aniquilamento de toda a posse sobre simesma, ficando2lhe vedado inda ar se Aernando de ! uiar valia tanto, tantoassim e porque accend>ra t%o violentas chammas.

Be certo, n%o tinha o ideal de t%o ardentes sonhos nada que osalientasse particularmente do commum dos homens, nem sequer o ph6sico,mais para o insi nificante e o vul ar do que para a e&cep#%o. !h4 sim,possuia a mocidade, e d:ella emer ia pujante, victorioso, como um h6mno desaude e for#a, esses presti io immenso que ettina, annos atra", capitulárade simples banalidade da juventude. Be quanta possan#a, por)m, essepretendida banalidade4 ;ue de re alias e privile ios na encantada primaveraque floresce uma ve" s e n%o mais se renova e volta4 7 brilho vivo,

scintillante, dos ne ros olhos de Aernando de ! uiar, bem ras ados e umtanto auda"es, o assetinado da cutis, a arro ancia do sedoso bi odearqueado sobre os labios rubros e humidos, valiam ant%o mais, mil ve"es, doque os mais bellos versos e as palavras mais doces e convincentes de!ntenor, veladas pela melancolia dos annos já passados.

!hi era o cora#%o que decidia, entorpecidos a ra"%o e o raciocinio,naquella dolorosa e acabrunhadora h6pnose.

E cada ve" mais se accentuavam os soffrimentos ph6sicos de ettina,cuja saude come#ou a resentir2se s)riamente de tamanhos abalos.Emma receu, tornou2se m6steriosa, concentrada, numa constante e

tristonha passividade, quer em casa, quer no turbilh%o das festas. E se n%ofu ia d:ellas, era unicamente para poder ver e encontrar o objecto dotresloucado amor, empenho t%o claro e insisitente que a sociedade e omesmo !ntenor afinal n%o pod)r%o dei&ar de nelle reparar.

Ruia por terra antes as vistas, desilludidas para todo sempre, o edificioda felicidade que jul ára poder levantar, ainda que nos alicerces tivesse, coma observa#%o das cousas humanas, entrado, desde principio, certa descren#ae al um desalento. uscou medir a e&tens%o do mal, mas, á primeiratentativa, n%o ousou aprofundal2o. Recolheu2se ent%o, como ultimasalva uarda e recurso e&tremo, á protec#%o de uma id)a fi&a $ aimpossibilidade de vir a peri ar a sua honra.

/udo quanto se passava n%o iria al)m de um capricho da e&altadaima ina#%o de ettina. 7h4 bem conhecia do quanto era capa"4 (%o tardaria,por)m, muito e cahiria em si, abri ando2se á se uran#a do lar, prompto paraacolhel2a no arripiar carreira em senda de leviandades, já um tantocompromettedoras.

Aactos anteriores davam2lhe bem se ura arantia.

(%o f@ra t%o e&pontanea a entre a d:aquelle masso de cartas< Etratava2se ent%o de um cavalheiro distincto, habil, de intelli enciareconhecida, com randes recursos de espirito e de sal%o e n%o poucoshabitos de seduc#%o, ao passo que Aernando de ! uiar... qual4 que absurdo4

m ente t%o futil, t%o nullo4 (%o, aquelle enthusiasmo n%o repousava embase al uma, tinha que desapparecer t%o facilmente como havia sur ido, por

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m)ro erro de aprecia#%o? abus5es dissipados sem esfor#o al um, á maneirade nevoas que ensombram formo"a pai"a em, sem poderem obscurecel2a.

!h4 quanto se en anava a e&periencia d:aquelle homem4

Em certa manh%, desappareceu ettina do seu rico e senhoril palacetede residencia. Davia, rompendo com todos os deveres e principios, tomadopassa em n:um vapor transatlantico e fu ido com o amante para a Europa.

! corajosa altive" com que se portou ent%o o infeli" marido, a ener iacom que tratou de vencer e recalcar sua d@r e repellir de si o immerecidolab)o, o prompto divorcio que conse uio, destacando o intemerato nome doda culpada esposa, a quem, sem demora, mandou entre ar, com a maisescrupulosa e&actid%o e minudencia, os bens que havia tra"ido comsi o, tudoisso, praticado sem a mais li eira hesita#%o ou sombra de sceptica jactancia,impedio que o ridiculo de leve salpicasse a alevantada personalidade de!ntenor. E para mais er uel2o no conceito publico, me"es depois, publicavaum livro da mais ampla esphera moral, que irava, mais ou menos, em torno

da melindrosa these que lhe f@ra peculiar8 e ahi o escalpello imparcial ecuidadoso do anal6sta tudo dissecára, fa"endo justi#a inteira a quem tinhaou n%o tinha por si a ra"%o e o direito8 obra de cunho verdadeiramenteori inal e escripto por penna vi orosa, mas d:onde por ve"es decorr>ra muitopranto amar o.

1uardavam2lhe ainda o travo n%o poucas pa inas.

;uanto á ettina, me"es ap s o irreparavel acto de loucura, via2se abra#os, com o mais cruciante arrependimento.

E&tincto o fo o da pai&%o, como sempre acontece, tinha de supportar

vencida e humilhada, as consequencias da posi#%o equivoca a que se atirára,mas que o mundo jamais perd@a, ao lado de quem brutalisando2a lo o,malbaratava a fortuna, que n%o lhe pertencia, no jo o e com as mulheres deoccasi%o.

Bentro em breve, reconhecia que para Aernando de ! uiar tornará2sepeso quasi inaturavel.

;uantos olpes, a todos os momentos do dia, no seu or ulho, annosantes t%o susceptivel e t6ranico4

Biante da miseria se abria lon o, indefinido, interminavel, um futuroarido, medonho, sinistro em todo o seu m6sterio, como illimitado deserto,sem uma sombra, uma fonte, uma arvore, o menor lenitivo ás a ruras demart6risante via em, para no fim encontrar, como termina#%o de indi"iveisa onias, a morte, s , desamparada, motivo de chac ta e de despre"o,repellida por todos4

Bes ra#ado destino4 Bia e noite chorava sobre si mesma todas asla rimas da sua alma, t%o mal uiada, já pela cabe#a, já pelo cora#%o4...

/MA VIN AN'A

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I

(um baile $ já pouca ente8 muitas cadeiras vasias.

Ella, sentada, um tanto abatida, identificada com o enfado e a fadi a deuma festa a acabar, a ouvir como por favor e com ar de sensivel am*o eimpaciente condescendencia um homem no vi or dos annos a falar, ardente,arrebatado, numa rande a ita#%o, sombrio, desconfiado, mas sobrio nos

estos a conter2se calculadamente $ ambos lon e, bem lon e d:aquelleambiente de ale rias e despreocupa#%o, hostis um com o outro.

3 Precisava, observava elle, e&plicar2me com toda a liberdade. Besdeque che uei do Rio da Prata, n%o achei uma *nica occasi%o. Verdade ) que asenhora tem feito estudo especial para n%o me consentir o menor ensejo.9sto n%o p de continuar assim8 prefiro ent%o romper de uma boa ve".Beclaremo2nos lo o inimi os irreconcilliaveis.

3 Pois fale8 di a o que tem, o que de mim deseja.

3 !qui< ! ora<

3 Por que n%o< 7nde quereria que fosse<

Esbo#ou Sofia Bias um movimento de displicencia e incredulidade.

9nclinando2se para ella, lembrou ent%o 0ario Campos, com vos soturnae emocionada, scenas do passado e passado bem pro&imo ainda $ me"esquando muito $ a sua posi#%o de homem casado, e bem casado uns bons

pares de annos, ante as seduc#5es e ine&plicaveis faceirices, quasi facilidadesde mo#a formosa e solteira. /anto fi"era $ oh4 escusado era querer protestar8a sociedade toda havia sido testemunha e sabia ser justa $ que afinalperdera elle a cabe#a, e lhe consa rara pai&%o c) a, invencivel, de inauditaviolencia. 0)ra victima ou n%o do artificio e d lo, durante n%o pouco tempose suppu"era dev)ras amado. Rico, feli", esposo de uma mulher bondosa,bonita e terna, de repente se sentira, sob o influ&o d:aquelle sentimento novoinsuflado com raro talento su estivo, o ente mais des ra#ado do mundo,avassalado irremediavelmente por influencia que "ombara de todo o seusplanos e tentativas de resistencia. ;ue fa"er ent%o da vida, lon a, t%o lon an:aquelle horrivel desencontro4 Como readquirir a felicidade perdida para todosempre<

3 7h4 interrompeu ella irritada e sardonica, há tantos modos de serfeli"...

Podia ser, sobretudo para aquelles que n%o calculavam o enlace dosactos e palavras. E por falar em palavras... certa noute, por e&emplo, n:umavolta de bond do Jardim otanico, ao luar, dissera2lhe ella uma phrase, quelhe havia calado no espirito para nunca mais de lá sahir. Ai&ara2se2lhe dentrod:alma com letras de fo o, que a cada momento do dia e da noite lhe lu"iamante os olhos deslumbrados. (%o se lembrava<

3 (%o8 respondeu Sofia com sinceridade e al um assombro. ;uepoderia eu ter dito t%o terrivel e sinistro< (%o me mette medo.

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;uis sorrir8 mas o sorriso pairou2lhe indeciso, frou&o, á flor dos labios,d:esses sorrisos chamados amarellos.

/ivesse ella ou n%o medido o effeito, houvesse ou n%o sido mais umasimples leviandade, a sua bocca a proferia, lembrasse2se bem do seu dito?

K!h4 se voc> fosse livre4N

3 7ra, protestou Sofia, empallidecendo seu tanto, uma h6pothese...

E a ora n%o estava elle livre, bem livre< ;ue si nificava, nessa novasitua#%o o seu inopinado retrahimento< Por que se mostrava elle t%o esquiva,t%o indifferente dos tempos de out:rora, decorridos apenas seis me"esempre ados n:essa indispensavel $ e apoiava no vocabulo $ via em ao Rio daPrata< ;uando suppunha encontral2a vibrante de amor e saudades como elle,quando jul ava alcan#ar a felicidade almejada a que tinha feito jus $ oh4 sim,tudo, tudo empenhara para conse uil2a $ ahi a achava radicalmente mudada,outra, de todo outra4 Por que< Be que servira ent%o aquelle anno de ardenteaffecto, pelo menos assim acreditara, de tamanhas promessas e juras< (%o

teria elle sido sen%o mero jo uete de passa eiro capricho, prete&to paraensaiar simples armas de namoradeira<

Sofia Bias mostrava2se cada ve" mais impaciente. Ae" at) esto dequem ia levantar2se.

Por que se d)ra toda aquella comedia< ! sua infeli" mulher alvo detantos remoques, motivo de continuos reparos e criticas, e&posta aincessante ridiculo, at) se lhe tornar positivamente insupportavel. (%o tinha

osto, n%o sabia vestir2se, escolher chap)os8 innumeras settas farpadas,envenenadas, na sua mal ferida vaidade de marido. 0eros racejos<

rinquedos de um cora#%o máo, ardiloso, cruel, insensivel< 7h4 tomasse

tento, aquella hora era decisiva. Passada ella, titaria vin an#a tremenda8 erade ra#a dos que n%o perdoavam.

E, offe ante, n:uma phrase curta, dura, contava episodios at) dainfancia, em que se affirmara a irresistivel disposi#%o ao desfor#o, violentopor qualquer offensa ou injuria recebida. Sua m%e lhe dissera umdia?N0enino, voce com este enio há de acabar mal4N ;uem sabia se ohoroscopo n%o se ia reali"ar. ma cousa lhe jurava. !l uem havia de pa ar.(%o se adiantara tanto, para ficar, perante todos, como triste s6mbolo deirris%o e escarneo, menospre#o e miseria.

E os seus olhos chammejavam, dolorosa crispa#%o dos labios lhe er uiao canto da bocca. Be lon e, parecia estar sorrindo, todo entre ue a animada,ainda que banal, conversa de baile.

Sofia o ouvia com e&press%o de e&tremo cansa#o. !final rompeu osilencio.

Confessava que a elle assistia al uma ra"%o. !ndára mal, concordava8solteira e pretendida por n%o poucos, n%o devera nunca ter alimentado umsentimento reprovavel, que n%o tinha ra"%o de ser. Sahira do seu papelnatural e pa ava as culpas da leviandade, sempre amar a. (:aquelle tempon%o media as consequencias de uns olhares mais quebrados e imprudentes eos effeitos peri osos de qualquer namorosinho. !quillo lhe serviria de li#%o.A@ra, aliás, bem sincera na hora em que pronunciara aquellas palavras, semcomtudo lhes dar maior si nifica#%o. !lludira, com real pe"ar, a cousairreparavel e contra a qual n%o havia luctar. E f@ra essa convic#%o que, pouco

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a pouco, lhe abrira os olhos, desviando2a do caminho errado que se uira.(%o di" o proverbio que o que n%o tem remedio, remediado está< (aausencia d:elle, 0ario, tanto lhe irara no pensamento essa verdade, queafinal pudera dominar2se. ;uem, aliás, havia de ima inar, que t%o cedo apobre B. eatri" sahiria d:este mundo, desli ando com o seudesaparecimento la#os que deviam ser eternos< (:isso o arroso pleit)ara asua m%o e elle n%o achara motivos para o repellir, bem parecido, intelli ente,em bella posi#%o politica, ministro talve" breve8 que di"er contra essecandidato<

3 E voc> o ama, Sofia< Per untou a custo, arquejante, o malaventurado0ario.

3 !mal2o, n%o, mas enfim sto d:elle, n%o há duvida. Creio que sourefractaria a pai&5es violentas, arrebatadas. outro o meu enero...

3 Sim observou 0ario, ludibriar áquelles a quem prende na r>de dosseus olhares fataes. Sofia deu um much@chosinho?

3 om, temos melodrama...

!miudadas ve"es passava o mo#o o len#o pelo rosto, limpando ottasde fri ido suor.

9nsistia, por)m.

Por que dei&ar de realisar o que era t%o natural, uma ve" apartado o*nico obstaculo que se interpu"era entre os dous< Por ventura, valia ellemenos do que esse intruso, o tal arroso< Era, de certo, um pouco maisvelho8 mas tinha por si a precedencia. (in uem estranharia aquelle

casamento com quem tanta corda lhe d)ra n:uma )poca em que n%odeveriam /er sido aceitas as suas assiduidades. Culpa tivera ella, indu"indoem erro tanta ente.

Sofia ensaiou um racejo e com tom de remoque?3 Para n s, solteiras,o senhor... voc> tem um rave defeito? ) viuvo.

Pelos olhos de 0ario relampejou um raio de odio e ferocidade t%ovisivel e intenso, que a mo#a estremeceu. Com os dentes apertados s6billoua resposta?

3 ;uem me fe" viuvo, ouviu< (%o tem o direito de me attirar isto emrosto, comprehende<

E o seu olhar torvo, dardejante, desvairado, buscava ir ao intimo deSofia, e&plicando2lhe talve" m6sterios terriveis, possibilidades de apavorar,completando a confiss%o confusamente bosquejada.

Por instinctiva defesa fechou2se a mo#a, fa"endo poderoso esfor#o paraconservar2se calma, serena, alheia e superior a qualquer connivencia, porlon e que fosse.

Via2se subitamente envolvida em tenebrosas complica#5es, amea#adade peri os de que nunca pudera co itar, e cujo alcance n%o lhe era dadomedir8 tudo isso va o, indefinido na mente conturbada.

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!o mesmo tempo sur ia2lhe medo immenso, incoercivel, d:aquellehomem, cruel alvoro#o por toda ella, penosas e&plica#5es, arrependimentoindisivel da sua leviandade e inconsidera#%o, levada s e s pela ancia dashomena ens, viessem de onde viessem, o osto de dominar e serrequestada.

Continuava 0ario Campos amea#ador./udo caminhava para a tra edia8 assim presentia. ;uando qui"esse ter

m%o em si, havia de ser tarde. !visava...

3 Ent%o, interrompeu Sofia fin indo indifferen#a, temos a oraintimida#%o< ;uer levar2me pelo terror<

Elle, de subito, muito manso e cordato, sem transi#%o, pedia perd%odos seus arrebatamentos. Promettia ser brando como um cordeiro. ;ueria so que lhe parecia justi#a. 9mplorava se preciso fosse, compai&%o,misericordia. /ivesse Sofia pena da sua des ra#a, de que f@ra a causa.

Contára tanto com o seu amor, a sua lealdade, e a ora... ;ue ) que oesperava n:este mundo, se se visse repellido, en&otado, quando architectaratoda a e&istencia numa base *nica, indispensavel, aquelle casamento. Para otornar possivel, n%o recuára diante de considera#%o al uma. /udo, tudoantepu")ra a isso2tudo, tudo, estivesse certa.

E recome#avam as reticencias, as allus5es va as, mal indicadas, quedei&avam Sofia toda fria, 2 n%o poderia di"er como, com verdadeiros calefriospelo dorso, d:esses que, no di"er do povo, annunciam o esvoa#ar da mortepor perto.

Ent%o, prosse uia 0ario, de nada valiam provas do que e&istira entre

elles< 3 ;ue provas< Protestou altiva e surpre"a a mo#a.

3 7ra, as murmura#5es e o reparo da sociedade, durante mais de anno.

Sofia levantou os hombros com desdem.

3 E as suas cartas, ardentes, incendiarias. !h4 mostral2as2ei ao mundointeiro, a todos, a esse arroso do inferno...

3 A@ra indi no da sua parte. 7 cavalheirismo...

Cavalheirismo< Replicava 0ario Campos impetuoso, cheio de f)l eironia, quando tudo lhe tiravam, lhe arrancavam, lhe roubavam<4 Bepois doque lhe succedia, n%o era, n%o podia ser um homem como qualquer outro.Davia de tomar o seu desfor#o do modo que melhor lhe aprouvesse, comoum vill%o, um miseravel, uma f)ra. Bependia d:ella. Bos seus labios estavasuspensa a sua vida. (%o lhe diria jamais tudo8 mas a morte pairava sobreambos...

3 Sofia, Sofia4 9mplorava o misero.

! mo#a, por)m, abanava implacavel a cabe#a, pallida, os olhos semful or, meio cerrados, imquietos, mas ener ica, de tens%o firme, inabalavel.

3 (%o, n%o8 n%o ) mais possivel...

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(:isto um cavalheiro veiu lembrar2lhe o compromisso de uma valsa.

3 /enho certo escrupulo, disse elle um tanto malicioso, de interrompel2os8 conversavam t%o animados...

3 7 Sr. 0ario Campos, replicou Sofia com toda a naturalidade, estavame contando a sua via em ao Rio da Prata... bem interessante.

E lá se foi ella envolvida nos lan uidos effluvios de cadenciada evaporosa musica.

II

;ue e&istencia a do despre"ado 0ario Campos4

Pareceu2lhe aquillo, a principio, um sonho, um pesadello, essetremendo e inopinado capricho de loureira a perturbar2lhe todos os planos ecalculos e a e&asperar2lhe a pai&%o por modo inacreditavel.

Ae" ainda al umas tentativas, procurou encontros, entrevistas8 masachou todas as portas fechadas, as vasas cortadas, esbarrando com umaresolu#%o t%o valente e decidida como a sua. Empenhava2se Sofia emmostrar2se de posse do maior san ue2frio8 e a sociedade, curiosa e attenta,observava aquella especie de duello travado repentinamente entre dousentes, que, pouco antes, tanto lhe dera que fallar em sentido bem diverso.

Cahiu depois o mo#o em profundo abatimento. /udo se lhe afi urouperdido, a mesma nature"a em vesperas de definitiva destrui#%o, ape"ar dosrutilantes esplendores dos mais formosos e festivos dias. Encerrado em casasemanas e semanas, n:essa casa cheia de conforto e lu&o em que n%osoubera dar o devido apre#o á suave affei#%o da perdida esposa,reconcentrava2se num desespero medonho, t)trico8 a s s com os maisne ros pensamentos. (%o lo rava um momento de soce o, e, para conciliaruma ou duas horas de acabrunhado torpor, tinha que recorrer, ap s noutesde absoluta insomnia, a elevadas doses de morphina.

!hi emer iu2lhe das mais fundas entranhas odio immenso, áquellamulher, e com elle s>de ardente incontentavel, de estripitosa vindicta. !h4sim, queria, precisava por for#a vin ar2se, mas de modo *nico, nunca visto,ine&cedivel, nem sequer ima inado. E tornou2se2lhe pra"er e&clusivo procurarque desfor#o seria esse, capa", s em ideal2o, de lhe applacar um poucotamanhas ancias, fo o t%o devorador e indomavel.

0atal2a2ia sem vacillar8 oh, sim4 mas como fa"el2a soffrer mil mortes,n:uma a onia int)rmina, á maneira d:essas aves de rapina, cruentissimosa#@res, que, por instincto infernal, dilaceram as victimas membro a membro,peda#o por peda#o, lenta e quasi scientificamente, poupando com cautela osor %os essenciaes á vida, afim de se saciarem, dia a dia, de carne sempresan renta e palpitante<

0ataria, oh, sim4 aquelle homem... /udo isso, por)m, n%o f@ra t%obanal< ;ue valia esse rival de occasi%o< Eliminado da scena, outro osubstituiria sem demora. Por t%o pouco n%o se abate nem rec*a a perfidia da

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mulher. Para que, aliás, essa suppress%o de vida< Em muitos casos n%o ) umfavor a morte< (%o representa a cessa#%o da d@r, do soffrimento, daver onha< Por ella n%o suspirava elle, como supremo bem< Sim, tambemtinha que morrer. (o perpassar de todas as odientas combina#5es, intoleravelse lhe afi urava continuar a e&istir. Reservava essa tortura para Sofia8 mascomo transmudar tamanha concess%o em mart6rio constante, em an ustiassem nome, em indi"ivel supplicio, calcando para sempre nos p)s o seuor ulho, conspurcando2a perante a sociedade toda, arrastando2a com eternolab)o, imprimindo2lhe na fronte si nal de inapa avel ferrete< Como<

Comparava os tempos anteriores ao amaldi#oado amor com tudoquanto ocorrera, uma ve" ateada a criminosa e já t%o fla iciada pai&%o. E alembran#a da esposa, t%o boa em sua disccreta fei#%o, o enchia de pavor.Au ia de aprofundar comsi o mesmo o incerto m6sterio... aquella jenellaaberta por noite fri idissima, em uenos2!6res, ella a dormir fraca dospulm5es, presa ent%o de peri osa bronchite... depois a pneumonia dupla... asvascas de terrivel a onia num estreito quarto de hotel... ;ue momentosa ora t%o claros á sua memoria...Parecia os estar vendo8 bastava fechar os

olhos. ! pobresinha, resi nada, quasi a sorrir, enquanto as la rimas lherolavam silenciosas pelas faces, apertando a m%o assassina, implorandoprotec#%o contra a morte que che ava... elle, com o pensamento fi&o no Riode Janeiro, ardendo de impaciencia, brutalisando2a, doudo por v>r tudoacabado, concluso, findo, espreitando, espiando o ultimo estertor, oderradeiro suspiro, a convuls%o suprema, que ia desatar as cadeias doabominado captiveiro... ;ue indi na contraposi#%o4 Be um lado tanta pure"ae resi na#%o8 do outro tamanha maldade, t%o satanica e bai&a ferocidade. Epara que o monstruoso attentado< B:elle a ora emer iam obri atoriamenteoutros crimes, novas infamias.

Sentia2se condemnado. Justi#a inteira havia de ser feita e pela propria

m%o. Era ponto decidido, indiscutivel já no seu espirito. Aicaria, por)m,impune a causa de tantos males< 9mpossivel4 Para beneficio de todos,cumpria esma ar ente t%o pernicioso, inutilisar de ve" encantos t%o peri osose lethaes.

E parafusava, sem se lhe deparar nada qu apa"i uasse um tanto as irase&asperadas, em fremente ebulli#%o. Bepois... serenou. 0ostrou2se por todaa parte altivo, calmo e indifferente. /ornou a frequentar theatros e lo ares,fallando no pro&imo enlace de Sofia com desembara#o e naturalidade,appaludindo2o at). Beclarou2se curado de mal entendidas e puerisvelleidades. Che ou a cumprimentar a mo#a e, uma feita que se encontroucara a cara com ella apertou2lhe a m%o sem nenhum constran imento ouperturba#%o.

! varios ami os falou em pro&ima partida para terras lon inquas, e ásrodas habituaes levou um todo, sen%o risonho, pelo manos de tranquila edi na compostura.

Publicaram2se ent%o os primeiros proclamas do casamento de =ucioarroso com Sofia Bias, a qual se suppunha afinal livre de qualquer

complica#%o, toda radiante de ale ria e felicidade, cada ve" mais formosa,faceira e seductora, nos labios sempre r sco sorriso sobre nacarados dentes,bocca humida e appetitosa de tentar um santo.

(uma bella manh%, sobresaltou2se a cidade em peso. !cabá2ra desuicidar2se com um tiro de revolver 0ario Campos.

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Sem declarar o motivo d:esse acto, recommendava que dessemimmediata publicidade e prompta e&ecu#%o ao testamento por elledepositado, dias antes, no cartorio do tabelli%o 0atheus.

(:esse documento, feito de acordo com as mais restrictas formalidades,distribuia varios donativos a institutos de caridade e le ava al uns bens aparentes de sua mulher. /erminava, por)m, pelas se uintes e terriveispalavras, que causaram escandalo enorme, ecoando por todos os cantos dacapital?

KEternamente rato a n%o poucas provas de affei#%o econdescendencia, dei&o os remanescentes, que calculo em LL contos der)is, á minha amante B. Sofia Bias, devendo esse le ado transmitir2se emqualquer tempo á success%o li itma ou ille itima, verificada em re ra afilia#%o. Caso n%o seja a quantia reclamada lo o, entre ar2se2h%oannualmente os juros á 0isericordia.N

Bentro, duas cartas da imprudente mo#a, que se prestavam a muitas

interpreta#5es.(o meio da indi na#%o eral, do profundo abalo de uns, revoltado

pasmo de outros, da pun ente ironia dos maldi"entes e da compun idapiedade dos bondosos, rompeu =ucio arroso com estrondo o casamento8 e amalaventurada Sofia, salteada de febre cerebral, por lar as semanas esteveentre a vida e a morte.

Rumorejou2se as possibilidades de melindrosa justifica#%o perante ostribunaes8 mas, afinal, a familia toda, m%e e duas filhas menores, depois deme"es e me"es de sumi#o, partiu para a Europa. (unca mais se ouviu fallar,se n%o va amente, em Sofia Bias8 parece que por lá se casára.

!inda n%o foi at) hoje levantada a ominosa heran#a... ;uem nos di",que será sempre repellido o maldito e infamante le ado<

!ssim seja4

RAPTO ORI INA$

I

(amoravam2se a valer, de uns me"es atra"8 a visinhan#a sabia de tudo,acompanhava curiosa, accesa, as peripecias do derri#o e tomava bonsre abofes.

Ella, muito nevrotica, atirada a romantismos, e&altada, ami a deleituras violentas, fin de si)cle, tocando piano de modo quasi notavel e

ostando de despertar, alta noute, o bairro com a valentia dos accordes quedeferia, nem bonita, nem feia, com esse vi#o da primeira mocidade que ositalianos espirituosamente appelidam la beltá dell:ásino, vivendo umaatmosphera de perfumes entontencedores, e&oticos, acre, a soffrer, quasitodos os dias, de en&aquecas, que a levavam a abusar da ant6pirina e lhe

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davam desejos ardentes de se morphinisar, para cahir em lon os torp@res efruir sonhos paradisiacos.

Ailha *nica de anti o ne ociante, retirado rico do commercio, ocommendador Jacintho Candelaria fa"ia as suas quatro mil vontades, creada,como f@ra, sem m%e, e no meio de numerosas mucamas, que beliscava forte,nos dias de máo humor e mais nervosismo. (um s ponto, comtudo, e pontocapital, desenvolvia o pae todas as ener ias de portu ue" teimoso eembe"errado. Si nificára á filha, desde em menina, e incessantemente lh:orepetia, que s elle ) que havia de casal2a ./ivesse paciencia e sobretudoconfian#a, pois lhe daria para noivo, n%o nenhum velho ou qualquer fi uraestapafurdia, por)m sim rapa" novo, sacudido, de boa presen#a, lata %o depeso e medida, mas que offerecesse, depois de cuidadosas provas, arantiasse uras para tornal2a feli" no correr da e&istencia.

/ambem soub)ra o "elo paterno arredar já n%o poucos pintale retes $uma sucia de bilontras4 errava possesso o commendador, 2 al uns patriciosat), que lhe rondavam a casa, ou melho, palacete das =aranjeiras, atthraidos

pelos d tes da rapari a, entre os quaes sobresahia, mais que os seus olhos eapimentado donaire ou o talento do piano, o dote ante2nupcial, de que di"iammaravilhas.

3 Be du"entos contos para cima, era vo" eral, e lo o de pancada,antes de se a adanhar, por morte do velho, cobre muito rosso.

Estava, pois, a mo#a, entre dores de cabe#a, nocturnos ao piano,bocejos e manifesta#5es h6stericas, cada ve" mais accentuadas, esperando opretendente patent, arantido pelo overno paternal, quando ferrou n:essenamoro muito cerrado e s)rio $ pois os pequenos á janella n%o contavam $com o !rnaldo 1racias.

1racias ou 1arcia< (%o, senhores, 1racias, no plural $ d:isso fa"iaquest%o $ elle, proprietario *nico do nome. [an ava2se dev)ras, ou fin ia"an ar2se, ao lhe n%o transporem, principalmente, o tal r caracteristico, quea todos causava tamanha estranhe"a.

ohemio aliás, at) a medulla dos ossos.

Botado de muito chiste natural, talentoso, com estupendo poder deassimila#%o, sabendo tudo, e no fundo i norante chapado, verboso, e maisque isso eloquente, com uma phrase viva, faiscante, ima inosa, colorida,entresachada de tropos, verdadeiro fo o de artificio, em que, se havia muitafumaceira, fu"ilavam, por ve"es, al uns clar5es.

/inha a mania de inventar palavras, locu#5es8 e al umas entravam lo oem circula#%o. A@ra quem pu"era em iro o estrambotico de quando em ve",t%o em moda por al um tempo no Rio de Janeiro.

3 (%o me banalisem o nome, costumava ritar nos caf)s, batendo coma ben alinha de junco no marmore das mesas, 1racias... 1racias8 com milmilh5es de diabos4 (%o sou qualquer 1arcia da venda ou da botica. Bescendode uerreiros hespanh es que costearam de rijo os mouros, os infieis.!ttendam bem, tenho que "elar tradi#5es, cousas at) de reli i%o.

E nas rodas de estudantes, que applaudiam e chasqueavam, lá vinhamvibrantes narra#5es das batalhas com a mourama, em que se haviamillustrado os primitivos 1racias.

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E tanto era o fo o que a tudo punha, como se assistira ás tremendaspelejas, pelo que, n%o raro, palmas rompiam, sinceras, espontaneas.

! todo o instante, contava historias do arco da velha, sua vida emPari", seus triumphos no ;uartier latin. A@ra at) ami o de /heophile 1autier,a eterna crean#a, o poeta enial, o est6lista impeccavel, e, com effeito,parecia haver tomado ao mestre e companheiro de tro#as al umasscentelhas do maravilhoso poder descriptivo.

Carioca da emma, e votando certa or eri"a á ente nortista $ Ks%otrefe os, invejosos, proclamava sem apella#%o possivel $ tinha comoobri atorio o odio ao bur ue" em eral.

3 0iseraveis4 E&clamava com indi na#%o repassada de despre"o8corriqueiraram2me o sublime Sha espeare4 abujaram2me de i nobil baba oimmenso Bante4 Canalhas4 Entre o2lhes o 9nferno e o Pur atorio, já que n%ohá ,aos defesa possivel8 mas, com mil bombardas e pelas cin"as dos meusav s, o Paraiso ) meu. Dei de "elar2lhe a alvinitente pure"a, custe o que

custar, at) a morte. (%o consinto que n:elle toquem4...E olhava para todos com ares de quem acabara de receber a sa rada

heran#a por testamento do immenso Bante, com recommenda#5es e&pressasacerca d:essa parte da Bivina Comedia.

=>ra elle jámais esse Paraiso, por que quebrava tantas lan#as, oPur atorio ou simplesmente o 9nferno< (unca se soube.

uscando abri o, em refu ios e&tremos do osto e da ori inalidade,ainda n%o conspurcados pelo torpe vul o, entranhara2se, como umperse uido pelas literaturas do (orte e citava com pasmosa profus%o os

nomes mais arrevesados, apre oando, dos primeiros nos circulos da rua do7uvidor, Bostoie\s 6, Pissens 6, !rne 1arbor , 9bsen, joenstierne,joernson, 7stro\s 6, Dast"embusch, 7cien&dloe er e outros de i ual

calibre.

!lto, ma ro, muito claro, com o olhar meio empanado sobre palpebrasempapu#adas, cabellos em continuo desalinho, barba espetadaperpendicularmente ao quei&o, distin uia2se, mais que tudo, por p)s e m%osenormes. Cal#ava Clar O- e luvas, letra... n%o8 luvas era superfluidade deque nunca usara. Em compensa#%o, movia essas m%os em estos continuos,ora lar os, calmos e enerosos, ora freneticos, raivosos, amea#adores, dequem ia derrear meio mundo, com pancada de moer ossos.

Vivia ao Beus dará, sempre em vesperas de estrondosa colloca#%o, ján:al uma das secretarias de Estado, onde distribuiria o santo e a senha,introdu"indo reformas estupendas de mais apurado cunho literario na feituradas pe#as officiaes, já a frente de uma publica#%o periodica que haviaimpreterivelmente de desbancar a

Revista dos Bous 0undos $ nada menos.

3 Voc>s ver%o, annunciava e&altado, convicto, como ponho de pernaspara o ar o tal ulo" e toda a sua i rejinha carran#a, pedantesca e jesuitica.Será o protesto do mundo pensante contra aquella ridicula camarinha, quepretende avassalar o intelecto universal8. Preparem2se para estourar de tanta

ar alhada4

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Por em quanto, por)m, nem empre o de secretaria, nem revista.Passava os dias a pedir emprestadas a ami os e conhecidos umas miseraveisquantias, que considerava favor ir embolsando8 hospede dias, semanas oume"es se uidos, aqui, acolá8 e&cellente rapa" no fundo, divertido, servi#al emei o, em meio de todas as bravatas e objur a#5es.

Sempre prompto para a pande a. =á isso, contassem com elle8 era dosfieis, dos inabalaveis. Com a br)ca, at) em patuscadas há deveres a cumprir.Bemais, a vida foi feita para desobri ar2se com honra e pontualidade doscompromissos tomados8 curta e boa $ a sua divisa.

E desfiava umas F a +L horas inteirinhas do dia na rua do 7uvidor que,percorria do lar o de S. Arancisco á ria Primeiro de 0ar#o quin"e ou vinteve"es, ora ás carreiras como homem atarefadissimo e que n%o podia perderum minuto. 7ra parando em cada botequim e n:elle chuchurreando caf),licores, co nac, leite, sorvetes, sem abs6nthosinho n%o raro, e quantosliquidos, innocentes ou n%o, todos de bom rado lhe offereciam.Pa ava tudocom o seu verbo inflammado, multiforme, incansavel, já contando anecdotas

picarescas, en ra#adissimas, já vociferando, sempre em opposi#%o violentacontra os homens do poder8 hoje nihilista, communista, anarchista, amanh%autocratico, d)spota fero" na desapiedada repress%o e no illimitadori orismo, tudo com inabalável convic#%o e randes lu"es de ar umentos.

] noite, theatros, onde achava sempre meios de encai&ar2se, sem jámais se entender com o bilheiteiro. E, nos entreactos, eram interminaveiscatilinarias á proposito da decadencia da arte dramatica e dos costumespublicos, adubada a prelec#%o com olhares de indi na#%o manospre#o áspetulantes france"as e rapari as que poralli se e&ibiam espivitadas,provocadoras. 7ccasi5es, por)m, havia em que com ellas confabulava

raciosamente.

3 oas creaturas em summa, estas mich)las e marafonas, di"ia comum sorriso bonacho, o que n%p impedia de declarar2se discipulo intransi entede Shopenhauer e de pr) ar infle&ivel cru"ada contra o eterno feminino, aperdi#%o do homem , o seu instrumento de de rada#%o e insanavel vaillania.

3 /irem2me a mulher do mundo, urrava já muito escaldado com osboc s de cerveja e copinhos de co nac fine champa ne, e fa#o de todos oshomens deuses, estes supernaturaes4

Bavam2se )pocas, entretanto, em que, de viseira al#ada, com muitanobre"a, relembrando o cavalheirismo castelhano, se batia em rpol do se&ofraco, victima e mart6r da prepotencia do forte, secularmente t6rannico emaldoso, brutal e e oista. (essa quadra de reinvidica#%o, e&i ia. Em nomeda justi#a ultrajada, que a nature"a repartisse com i ualdade os ravames dareproduc#%o da especie.

radava ent%o imperioso?

3 ma ve" a esposa, outra o marido. 7s taes senhores quee&perimentem o que ) bom. ;uero ve2los ravidos4

E com toda a seriedade che ava a affirmar e prometter, que elle,!rnaldo 1racias, á f) de ardin o e descendente de fidal os \isi odos, deuma s palavra, de antes quebrar que torcer, havia afinal de p@r cobro atamanha iniquidade.

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oas surriadas e espirituosos dichotes ia promovendo com tudo isso.

0orava n%o se sabia bem onde, alcandorado em qualquer pouso mais ám%o, quasi sempre republicas abarrotadas de estudantes, onde discutiasciencias, artes, literatura, e lá se dei&ava ficar mais ou menos tempo,conforme o capricho, n%o se lhe dando absolutamente com a amabilidade ouos máos modos d:aquelles a quem dispensava a honra da sua convivencia.

que estabelecia lo o incommodativo communismo, e a applica#%od:esse s6stema dev)ras modificava o pro"aer de interminaveis e acaloradaspalestras, em que astava tanto fluido vital. Com toda e sem cerimonia,tomava a roupa dos outros, vestindo camisas alheias, quer já servidas , eenfiando2se sem o menor escrupulo nas cal#as e nos paletots, queencontrásse mais de eito.

E por cima, se o apertavam mais s)riamente apuros de dinheiro, n%opunha duvida al uma em passar a m%o nos livros dos que o hospedavam,levando velhas rammaticas, compendios de mathematicas elementares,

selectas latinas, ou at) obras de pre#o, que truncava sem o mais leveembaMra#o de consciencia, e ia vender a esses modestos belchiores,chrismados com a alcunha bem feia de ... ca acebos.

Costumava, entretanto, que incoherencia4 Esbravejar com sincero furorcontra essa timida classe, t%o util aos seus habitos, e propunha uma Saint

arth)lem6 implacavel, que e&tin uisse de ve" a abominada ra#a.

3 Dá de che ar o dia, ol), se há de4 !nnunciava amea#ador. /enho deolho uns cinco ou seis... Já os avisei... Esses ficam por minha conta...

alle os todos $ uma bella bainha de toucinho para a adá a dos meus av s4

(o fundo, incapa" de matar um ca#apo.

II

/al era !rnaldo 1racias, por emquanto todo entre ue á sua pai&%o pelanevrotica Julia Candelaria.

Entabolara2se o caso, estando elle de pousada na casa em commum devarios empre ados de commercio, seus ami os intimos dessa temporada,como era de meio mundo em certas quadras, se undo a veneta, pois n%oraro tinha tambem acessos de misanthropia, e desapparecia, sem quenin uem pudesse attinar onde ia encafuar2se.

0ettidos a aristocratas e mo#os de boa roda, habitavam os taesempre ados do commercio nas =aran eiras, perto do palacete Candelaria.

Panno para man as forneceu o publico namoro de 1racias,estampando2lhe as a"etas quasi que diarios sonetos coroscantes, emboramonotonos e impre nados de sentimento todo facticio. 7 auctor por)m eal uns adeptos fervorosos os tinham em conta de indiscutiveis obras primas.

3 o Petrarca sul2americano, decidia um dos discipulos na artebohemia8 assombroso, um ab6smo4

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(%o cabia pois Jilia em si de contente, dava escandalo, servindo2se dasmucamas e dos molecotes da casa para, a cada momento, enviar cartas efitinhas, pontas de cabello e flores alle oricas, ou docesinhos e mais isto emais aquillo, ao incansavel trovador.

/eria, por cento, preferido mais ele ancia e plastica no seu porte, barbamenos hirsuta, cabellos mais disciplinados e principalmente menos surradoum celebre sobretudo, de ver%o e inverno8 mas emfim, com um bocadinho dee&alta#%o muito sen%o p de transformar2se em qualidade esthetica.

3 ;ue alma4 E&clamava com enthusiastico fervor, e que talento, quantaima ina#%o4

(um bello dia, lembrou2se de autorisar o nosso 1racias a ir pedir aocommendador a sua m%o2 uma tentativa.

KPeri osa cartada, a que jo amos, di"ia ella em carta, mas procurareipor todos os meios e com o maior eito preparar o terreno. /erei cora em8

conto com a sua resolu#%o. !presente2se afoutamente.N E por ahi ia, numas quatro lon as pa inas.

1racias, que n%o uardava se redos com nin uem, e menos ainda comos ami os intimos de occasi%o, mostrou lo o a carta aos companheiros deestadia.

Aoi um s brado.

3 7lhem o feli"ardo4 Ent%o vai metter2se em cobreira rossa, tornar2sedo pá para a m%o capitalista ra*do. ;ue protec#%o escancarada da sorte4

Bu"entos contos de pancada4;uedou2se o nosso her e n%o pouco conturbado. Bev)ras a fortuna

repentinamente lhe batia á porta, quando menos pensava em dinheiro< Ent%oiam /er fim todas as miserias que curtira, ainda que o n%o preocupassem lámuito, mesmo nada<4 Bu"entos contos< ;ue faria de tanto dinheiro, detantas notas de /hesouro (acional<

Che ou a declarar muito s)riamente que, mal entrasse no dote damenina, mandaria construir vasto hospicio para cavallos e animaesva abundos, abandonados por doentes e imprestaveis.

3 Palavra de honra, ritava, fusti ando os moveis com muita for#a. !humanidade lhes deve isto. Bepois, cuidarei de montar a minha randerevista. Preciso, desde lo o, di nific&ar o dinheiro do alle o.

E falava já com o entono de um millionario.

Em casa, por)m, do commendador, reinava muita a ita#%o. ! peitodescoberto e com ares de irrevo avel resolu#%o, denunciára Julia a pai&%oque a dominava, batera o p), tivera uma s)rie de fanicos, mas nadaconse uia sen%o frequentes? K7ra bolas4 Contenha2se menina4N K/enhapaciencia, estou já com noivo quasi arranjado4N K;ue maluca4N K(%o sejatolaN, Kvá bu iarN e outras phrases de invencivel resistencia, al)m de muitasdescomposturas ao tal pelintra, que viera interpor2se entre pai e filha? K mvaldevinos8 conhe#o2o muito? chupador de cerveja da rua do 7uvidor,

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batedor de carteiraN, e mil outros deprimentes qualificativos, entre os quaesvoltava a cada passo o de Kpoeta d:a ua doceN.

Be tudo foi lo o informado 1racias, mas lá vinha a recommenda#%o? K(%o se importe8 apresente2se em casa e pe#a a minha m%o. Precisamos /erdo nosso lado a ra"%o. Papae osta muito de mim mas lá a seu modo.

E tal a insistencia que, numa tarde, ao escurecer, subiu o descendentedos uerreiros hespanho)s, um tanto commovido, for#a ) confessar, asescadas do commendador Candelaria, enfiado n:uma casaca emprestada que,por si nal, n%o lhe assentava nada. =o o se denunciava roupa deemprestimo. Casaca s < ;ual, camisa, d:este feita bem limpa, collete,

ravata branca, cal#as, claque e luvas que se urava da m%o despretensiosaele ancia $ jámais as poderia cal#ar. Ai"era vir da loja botinas de verni" paraessa entrevista decisiva.

3 o meu Covadon a, annunciára elle, vou entestar frente a frentecom o san uinario alarabe !l amah. Pelas barbas dos 1racias, que n%o me

mette medo o bronco !lmoravide.Recebeu2se o Candelaria de cara muito amarrada, todo vermelho, quasi

apopletico. Como, por)m, se pre"ava de muito bem educado $ uma das suasmanias2 fel2o sentar, emperti ado, casmurro, dei&ou2o fallar, e&p@r ao quevinha.

!p s breve hesita#%o, fallou, fallou o rapa" quasi a perder o fole o,le itima conferencia, como se estivesse de posse da tribuna da 1loria. (%opoupou os e&cellentissimos.

!final o velho o interrompeu, todo inchado de ira?

3 /udo isto ) muito bom, declarou com solemnidade de pessoa definissimo trato8 mas o senhor, consinta2me a franque"a, n%o tem nem eira eestá perdendo o seu tempo. ! minha filha n%o ) para os seus bei#os.

3 /enho diante de mim o futuro, e&clamou l6ricamente 1racias.

3 om, bom, n%o admitto conversas fiadas.

E levantou2se para n%o arrebentar. Aervia2lhe o san ue nasentumecidas veias.

;uis o pretendente replicar.

3 asta, basta, meu rico senhor. 9sto aqui n%o ) ponto de bilontras.;ueira retirar2se, quanto antes. P%o, p%o, queijo, queijo4 Por alli ) o caminhoda rua.

Portou2se 1racias com incontestavel di nidade e calma.

3 Pois bem, e&clamou um tanto melodramatico, retiro2me, Sr.Commendador, mas lavro solemne protesto. Dei de vin ar2me, espera pelapancada.

E descida a escada, ao che ar a soleira da porta, voltou2se, fe" dasm%os em concavo sonoro porta2vo" e atirou aos ares o mais formal desafio atodos os paes despoticos e da velha escola.

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3 W sujo4 W p) de chumbo.

Em vibrante epistola, sem mesmo despir a casaca, contou lo o á Julia oresultado da desastrada conferencia. KAiquei, narrou elle, offendido nos meusbrios mais sensiveis e melindrosos. /udo supportei por seu esse brutamenteseu pro enitor. A@ra outro homem, e a esta hora estaria estran ulado, morto.9ma ina quanto n%o soffri. Douve momentos em que suppu" perder a ra"%ocom o esfor#o que fi" por me conter e reprimir os marulhosos borbot5es domeu san ue hespanhol. !inda estou pasmo de ter tido tamanha poder sobretantos av s, que, do fundo das minhas entranhas, bradavam ululantes?

KVin a2te, mancebo8 lembra2te de n s, n%o dei&es que esse desalmado e vilportu ue" "ombe de !ra %o e Castella4N

E, mais por leviandade, do que de ten#%o feita, terminava propondo áamada immediata evas%o d:aquella sinistra astilha? KAujamos, di"iaarrebatado, ) preciso p@res trermo a t%o intenso padecer. /udo tem limites, aresi na#%o, a paciencia, a cordura, ) doce palomba, estrella do meu amor,vida da minha vida, etc., etc.N

KAujamosN, foi a resposta, sem a menor vacilla#%o.

E os dous trataram da prompta realisa#%o do temerario projecto.

III

0uniu2se, desde lo o, !rnaldo 1racias de desabado sombrero e vasto

manto hespenhol, que m6steriosamente arvorou, fi"esse sol ou chuva, comos6mbolo de raves complica#5es e peri osas incidencias, em sua vida, o quea n%o poucos communicou, e&i indo, por)m, ri orosissimo si illo $ quest%ode muito compromettimento.

Cuidou, em se uida, de lan#ar um emprestimo na pra#a do Rio deJaneiro, cousa, aliás, bem modesta, uns LL , que, entretanto, n%o lhe foifacil reunir, embora offerecesse aos emprestadores de profiss%o jurospositivamente fabulosos. Emfim, já como favor pessoal, já comoadiantamento para um livro a sahir dos pr)los e destinado a estrondosaacceita#%o $ intitulado, ora (ovos aspectos de critica $ ora ! metemps6chose) lu" da sciencia, ou ent%o 7 eur) a nas lettras e nas artes $ aos M, +L e Lp de arranjar a somma precisa para ajustar e alu uel de um carro decocheira com cavallos pretos $ velo"es como o pampeiro, recommendára elle$ ter um quarto melhor no Dotel dos ;uatro Cantos $ e outras despe"asindispensaveis. !os, creados, lar as or etas pr)vias2 era de obri a#%o nomelindroso trecho.

Em poucos dias, tudo ficou minuciosamente combinado.

Com as liberdade de vida que tinha Julia Candelaria, nenhumaempre"a difficil, aliás, e menos ainda de assombrar, o sahir de casa peloport%o do jardim, das H ^ ás +L horas da noute, metter2se n:um carro áespera alli perto e ... fouette cocher4 (as vesperas do rande dia, ou antesda noute fatidica, sentiu2se 1racias a itadissimo. (%o ) ra#a, de certo,proceder2se ao rapto de uma menor, apatacada ou n%o. E esta id)a dedinheiro pun ia at) o nosso bohemio de modo especial. Davia momentos em

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que preferiras saber a amada pauperrima, filha de necessitados operarios,afim de tirar á ventura em que ia metter2se qualquer caracter de vilinteresse, como, infallivelmente, n%o dei&aria a malevolencia de assoalhar,perfida, viperina.

!l)m disto, por mais leviano e despreocupado que se seja, por menosque se pense, representavam esse feito e as immediatas consequencias tammodifica#%o de habitos na sua e&istencia livre e descuidosa, que, de ve" emquando, lhe irava a cabe#a como se f@ra a perder os sentidos.

0al podia dormir e passava as noites a fumar ci arrinhos de palha, unsap s outros, e a beber chicaras de caf), concentrado, ape"ar dasreclama#5es dos donos da casa.

3 Voc> p5e2se doudo varrido com esta historia de rapto, ritavam elles.

(o dia ent%o apra"ado, n%o teve um momento de descan#o oalvoro#ado 1racias. Buas, tres, de", vinte ve"es foi ao tattersal, repetiu as

instruc#5es, descreveu ao cocheiro apra"ado os lo ares, todas asparticularidades do ponto de espera, fe" d:elle seu confidente, ratificando2ocom toda a antecedencia. Bo mesmo modo no Dotel dos ;uatro Cantos.

! rua do 7uvidor percorreu2a febrilmente o dia todo. !qui, alli, nasinnumeras e verti inosas passadas, a consultar todos os relo ios como sereceiasse perder a hora solemne, foi in erindo calices e mais calices deco nac, isch e rhum e &ere" e mais isto e mais aquillo, em numero de todoo ponto incalculavel, capa" de encher de alto a bai&o todo um obeliscoe 6pcio, consa rado a dados estatisticos sobre consumo de liquidos.

E, entretanto, n%o dava si nal de ibriedade8 a supere&cita#%o nervosa o

a uentava com valentia.(%o p@de jantar. 0al lambiscou umas uloseimas.

/ambem, á hora em que, encafuado no carro, se quedou á espreita dapresa, á maneira de ardilosa aranha no centro da teia, n%o podia mais decansa#o, os membros todos alquebrados, numa lassid%o ine&primivel.Cochilava como um perdido e, embora qui"esse impedir a conversa dococheiro com um ca&eirinho da venda pro&ima á casa do commendador, n%ose me&ia, a cabecear, tolhido, inerte, estatelado, ouvindo, comtudo, palavrasque deviam tel2o sobresaltado? esp)ra, rapto, mo#a de bairro...

S despertou com a che ada de Julia Candelaria, toda de preto eenvolvida em mantilha ne ra, mas muito senhora de si, ale re, satisfeitissimada sua proe"a. (%o encontrára estorvo al um8 n%o suscitára nenhumadesconfian#a.

Soavam ent%o +L horas.

3 Cocheiro, bradou 1racias sahindo do seu torp@r8 toque para o pontoque já sabe... m relampa o4

E lá se foi em disparada o vehiculo pelas ruas já silenciosas, com aresde m6sterio muito chic, bai&as as cortinas, fusti ados valentemente oscavallos ne ros, encarre ados de representar de pampeiro naquelledramatico episodio.

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Emfim... emfim... e&clamou 1racias buscando chamar a si todo oenthusiasmo das trai#5es castelhanas, che ou a nossa hora... che ou...che ou...

;ual4 somno invencivel lhe prendeu a lin ua, fechou2lhe a bocca comm%o de ferro. 1rande tambem o espanto de Julia, que a pouco e pouco semostrou amuada, offendida, e afinal se encolheu mal humorada a um cantodo carro.

!o rapido balancear da tipoia sonhava o misero com uma cama lar a,macia, perfumada, irresistivel, em que afinal tomava desforra completa daspassadas insomnias4 Como era bom dormir, dormir a farta, refa"er as for#asperdidas, estender e desentesar os nervos e musculos, tantos e tantos diascontrahidos, repu&ados, h6perthenisados4 (%o, dev)ras, nada vale um bomconche o, quando a ente tem somnos atra"ados, nada se lhe compara4

Be repente accordou.

Era o carro que parava, alcan#ado o Dotel dos ;uatro Cantos.E o creado á porta, ravibundo, ainda que revestido de certo ar de

condescendencia, esperava os dous pombinhos e os foi uiando com toda adiscri#%o ao quarto preparado.

Aecheram2se.

1racias, acabada a momentanea sacudid)la da che ada, n%ocomprehendia mais onde estava, o que fa"ia. /udo entrava no dominio dosonho, E n%o era que o via realisado< Como que lhe estirava amorosos bra#osuma cama, a pu&al2o com desapoderada attrac#%o na sua brancura,

deslumbrante a olhos faceis, bem duvidosa, entretanto, máo rado todas asrecommenda#5es mil ve"es feitas. K m ninho de c6snes4N pedira instante aohoteleiro, ostando, mais que tudo, da phrase.

Como, pois, n%o se deitar lo o e lo o a fio comprido< Como recusar2sea t%o convidativos e suaves encantos< 9mpossivel, superior a for#ashumanas... n:aquella emer encia4

3 !o thálamo nupcial, balbuciou elle, Julia... minha celeste Julia4

E, dando o e&emplo, tirou depressa as celebres botinas de verni" e,vestido como estava, embrulhado no manto hespanhol, dei&ou2se ir, semresistencia, a um somno de chumbo, acabrunhador, inteluctavel. B:alli a nadaresonava como um bemaventurado.

Estava a imprudente Julia positivamente attonita, terrificada. ;uesi nificava tudo aquillo<

=embrou2se de ritar, de pedir socorro, bater nas paredes, mas n%opoude, sentia2se paral6sada ao menor movimento, sem vo", sem ac#%o.

Bei&ou2se cahir, envolvida em sua mantilha ne ra, apathisada, lon otempo, talve" horas, sem saber o que seria d:ella. 7lhava sem ver para osin ular raptor, cujo corpo, á lu" da morti#a stearina, se lhe afi uravasimplesmente o de al um bicho monstruoso, repu nante8 e la rimascompridas desfiavam2lhe amar as pela faces afo ueadas.

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(em de proposito, numa sala pro&ima, entre randes berreiros,terminava2se uma ceia com propor#5es or iaticas, e os ritosdescompassados de homens e mulheres, o espoucar estrepitoso dochampa ne, as saudes, os hipps e hurrhas, lhe imprimiam ao s6stemanervoso contrachoques electricos, que a punham quasi louca.

! pouco e pouco, por)m, se iam acalmando e esbatendo todos osbarulhos da rua, e multiplos ruidos do hotel, quando a desventuradaverificou, transida de horror, que a vela breve se e&tin uiria. Como, ásescuras, em t%o pavorosas circumstancias< Se aquelle homem passasse dosomno á morte<

E esta id)a tanto a aterrou, que, fa"endo heroico esfor#o sobre simesma, procurou na maior anciedade e por toda a parte meios de prolon ara claridade, prestes a sumir2se.

Aoi2lhe de rata impress%o encontrar na aveta do lavatorio um pac tede falsificado Clich6.

3 Emfim4 (%o poude dei&ar de e&clamar.

Recuperando al um alento, depois de reformar a vela, ache ou2se a1racias e chamou2o a principio com mei uice e bem bai&inho, depois comfor#a, impaciencia e raiva.

3 !rnaldo... !rnaldo, estou com medo..., accorda4 Sr. !rnaldo...accorde4...

0al se me&eu o desastrado. Er ueu, n:um esto inconsciente, as m%osimmensas, que pu"eram temerosas sombras na parede, e murmurou?

3 Conversaremos amanh%... temos... muito tempo.

Besanimou Julia de ve", instinctivamente offendida.

Enfim, n%o ficaria ás escuras, n%o era pouco8 accendeu at) duas velasmais, e, de volta á sua cadeira de bra#os, com a maior intensidade de lu",contemplou espa#adamente aquelle novo End6mion, presa de inquebraveldormir, o ideal do seu romance, o pomo de discordia com o seu velho pai, t%obom, prompto sempre a lhe fa"er todas as vontades, o causador da suaver onha e irremediavel des ra#a.

Pois dev)ras era aquillo<4 ;ue nari" ridiculamente arrebitado, quebarbas de pia#ava, que cabellos e que te" esverdeadas, ba#a4 E a rotescasaliencia dos olhos por bai&o das palpebras inchadas< E as sobrancelhas emmata al, unidas como sombria e fatidica linha< Santo Beus, que p)scolossaes, mettidos em meias de branquid%o ne ativa4

;ue seria della, perdida para todo sempre, depois de tamanhoescandalo, travados a sua e&istencia inteira, o seu futuro, com o desseseductor impossivel<4

E de novo chorou copiosamente quando a madru ada já vinhacolorindo de rosicler uns pontos do espa#o, annunciada pelo estridulo ritodos alhos matutinos.

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Sorria2se todo feli" 1racias na sua beatitude de lar o repouso afinalcomquistado8 mas nem por isto se mostrava menos feio e repulsivo, pelocontrario. !h4 quanto arrependimento, que intenso ve&ame, no peito de Julia4;ue acerbas reefle&5es4 ;ue horas ainda4 ;ue anhelo, para que aquella noiteacabasse e ao mesmo tempo nunca pudesse ter fim, nunca, durasseeternamente.

!final, vencida por mortal fadi a e indi"ivel an ustia, pe ou tambem nosomno, na tal cadeira de balan#o.

IV

Aoi a triste e mesquinha heroina accordada em sobresalto por enormebarulho. Be todos os lados inundava o quarto sol ale re, triumphante8

deviam ser F horas da manh%.atiam á porta com desabalada violencia, iam arrombal2a .

1racias nem se me&eu.

Julia Candelaria fe" um esfor#o e, arrastando2se deu volta á chave.

!tiraram2se sofre os para dentro em bolo o commendador, o dele adode policia, soldados e curiosos. Aructificara a palestra de vespera doindiscreto automedonte, pondo a auctoridade na pista immediata e certa dosfu idinhos.

Bominando a immensa conturba#%o, viu a mo#a afinal a salva#%o.! arrou2se ao pae que, em v%o, buscou repelil2a .

3 Juro, e&clamou ella bem alto e com accento de irrecusavel verdade,que passei a noite toda naquella cadeira de bra#os. (%o me acabrunhe maiscom a sua justa colera, meu pae... meu bom pae... minha protec#%o *nicanesta terra de miserias. /enha pena de mim, da sua filha t%o infeli"4 Aui...muito, muito culpada... mas salvei2me...

E com tudo isso 1racias nem se me&ia.

!final sacudiu2o umas tres ou quatro ve"es o dele ado com ener ia porum bra#o, e o homem... despertou.

3 om, disse elle com relativa calma, esbo alhando quante poude osestremunhados olhos, temos a ora historias com o senhora policia... erainfallivel4

E, sentando2se na cama, pe ou com as m%os os p)s em attitude dequem estava disposto a encetar conversa familiar e entrar em accordoami avel.

Aossem ra"oaveis, era s o que pedia.

(%o mostrava maior abalo.

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3 !liás, continuou já um tanto altivo, acatei esta don"ella como se f@raminha irm%. Ella que o di a... Sei portar2me como cavalheiro. Raptei2a, paraque o commendador, aqui presente e que me merece estima e considera#%o,consentisse na eterna uni%o de dous cora#5es leaes, que se estremecemloucamente e anceiam um pelo outro4...

Julia solu#ava como uma perdida. 3 ;ue ver onha4 ;ue ver onha4... Como ) que se n%o morre nestes

casos<

Candelaria mostrava2se muito abatido.

3 Bev)ras, minha... filha< poude elle a custo per untar.

/eve a mo#a uma arrancada de desespero e indi na#%o.

3 Casar2me com esse homem bradou estancando de subito o

an ustioso chorar, antes a morte, mil ve"es antes, na forca, diante do mundointeiro4

E, numa e&plos%o de bem sincera d@r, implorou humilde e mei a?

3 /enha d , meu pae, da sua des ra#ada filha... =eve2me d:aqui já e já... Soffro como jámais pude ima inar sofrer4... (ada lhe occultarei4...(unca mais lhe hei de desobedecer, mas vamo nos embora... perd%o, perd%o.

;uin"e dias depois, e muito á capucha, effetuou2se o casamento de

Julia Candelaria, com o desempenado rapa %o que o commendador tinhadesde muito de olho, conforme avisára a filha.

Partiram os ditosos noivos sem demora para a Europa, e, de certo, n%oacharam motivo al um de estranh"a e quei&a um em rela#%o ao outro. A@ra,ainda mais, o dote duplicado, acima de toda a e&pecta#%o...

;uanto a !rnaldo 1racias, continuou na sua e&istencia desorientada esolta, cada ve" mais bohemia e mais satisfeito comsi o mesmo.

/oda uma epop)a aquelle momento phs6chico da turbulenta vida4

Pud)ra, qual outro archanjo S. Raphael conculcando aos p)s otruculento el"ebuth, subjul ar victorioso a animalidade fero" e bramante,amorda#ar a tur ide" da desencadeada lu&uria, a rilhoar pela inacreditavelpossan#a do idealismo as tremendas e leoninas investidas da materia, earcar, bra#o a bra#o, peito contra peito, em esfor#o titanico, com os impetosvora"es da volupia, tudo para quedar2se immovel de joelhos, em e&tasi dem6stica homena em, puro, continenti, sem p)cha, na mais adoravel e santavi ilia de amor e de respeito, ante o s6mbolo da pai&%o etherea, seraphica,l6rio vir inal, a fl @r sublime, que sahira de t%o e&traordinaria provaimmaculada, impolluta, intemerata, adamantina, real#ado o brilho offuscadorda incomparavel confian#a, candide" e castidade4

E com todos esses elementos da mais inspiradora subjectividade, emmenos de meia hora e entre dous calices de co nac, comp@", sublimando avirtude propria e o seu heroismo, esplendido soneto nuns son ros

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/inha por ve"es vontade de lhe empurrar a m%o, dar2lhe pancada e at)cabo da pelle, vel2a morta, mettida no cai&%o e enterrada. ;ue allivio4 Commil bombas, aquillo n%o era mulher para elle4

!h4 fosse casado com al uma desempenada, que vida, que fi ur%o4!l uem que o comprehendesse e estivesse na altura da posi#%o conquistada,elle que pretendia a ora abrir os seus sal5es, mandar at) comprar um tituloem Portu al.

Vej%o, por)m, s a (ic ta barone"a ou viscondessa8 nin uem a tomariaa s)rio, nin uem8 um varapáo de saias, sem e&press%o, sem vida, nempei&e, nem carne. E a abrir a bocca, era lo o um &urrilho de asneiras Kmui),hav)ra, prom de, teia, panhou, rancouN. 0al sabia l>r e escrever.

!quillo nunca se havia de desemburrar, e&cusado4

S prestava para pre ar bot5es ás camisas e ceroulas e coser namachina, assim mesmo t%o va arosa, desconsolada sempre, á merc> do

marido, numa pasmaceira enorme, desfibrada, atonica, inerte, attenta s álimpe"a da casa, que tra"ia como um brinco.

;ue massada, que peso, a tal (ic ta4 Se ella pudesse esticar a cannela,morrer de uma boa ve"4... (%o faria nada por isso, porque afinal n%o eranenhum criminoso, desalmado e assassino. S se a nature"a se lembrasse delibertal2o daquella lesma. E devia merecer esse favor, porque estava mil furosacima de semelhante creatura chlorotica, es rovinhada, incapa" de lhe se uiros passos, sobretudo na vida nova que a fortuna le proporcionára.

Com a br)ca, disp@r de centenas de contos e estar de m%os e p)satados, preso a um ente daquelles4

=á podia pensar em viajar a Europa com (ic ta< Por toda a parteprovocaria riso e chasco, bem merecidos, lá isso era verdade.

(unca tiv)ra filhos e feli"mente. Davi%o de ser uns apatetados da for#ada m%e.

E de al uns annos a esta parte de continuo achacada8 ora disto, oradaquillo outro, umas d@res va as, oppress5es, faltas de respira#%o, que atornav%o ainda mais feia, obri ando2a a esturdias caretas.

Aalára, um medico em molestia do cora#%o adiantada at). ;ual4 Jáhavia disso um bom par de annos, e nada della arrebentar. 0ulher doente,mulher para sempre8 o dictado tinha toda a ra"%o. 0il raios4

Bepois ent%o das historias do encilhamento, parecera melhorar, emuito. (%o se quei&ava, nem mesmo o pouco ou quasi nada do costume.

Se, pelo menos, mostrasse ufania e admira#%o pelo marido4 (ada49ncapa" de qualquer movimento que n%o tivesse repetido na vespera,antehontem, uma semana, um me", de" ou quin"e annos atra".

/ambem elle a soccava sem a menor cerimonia em casa e, em todos ostempos, ia lá f ra pa odear á rande. ! ora n%o se fartava de ceiatas comfrance"as bem pande as e de cabello pintado de a#afr%o. E, no dia se uintedas rossas patuscadas, encontrava sempre a mesma ph6sionomia, fria,impassivel, sem a menor altera#%o.

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Bev)ras atacava2lhes os nervos.

!h4 se a tal molestia de cora#%o pudesse estar caminhando4 ;uemsabe< ;ual4 ]s ve"es lhe per untava com ar de interesse? KEnt%o, (ic ta,aquellas d@res<N KEstou bem mi , respondia ella a arrastar a vo" es ani#adae chorosa. (unca mais tive nada4N

Elle viuvo, que vid%o4 /udo se havia de transformar, desli ado daquellapesada poita. 0ontára casa rica, cheia de trastes dourados e numerosascreada em, al uns at) france"es. E n%o ) que a (ic ta se levantava quasi demadru ada, como nos tempos de amanuense da secretaria de policia, emque tinha de ir accender fo o e preparar caf)<

;ue estupida, afinal4

E n%o ter animo de lar al2a de ve" n:al um pasto de 0inas ou 1o6a"4(%o se tinha em conta de nenhum barbaro, sem piedade ou canalha refinado.E que dir%o depois<

S mesmo a morte. (em podia tardar8 tinha ella vivido quanto bastava.Estav%o casados, já uns +T annos. (a tal festa da ro#a maldita festa, suades ra#aQ contava L feitos. 7ra, L com +T, s%o -T8 a sua idade, delle,vej%o s . ;ue loucura, que asneira aquelle casamento4 (em um vintem ded te, nem olhos, nem cintura, nada, nada, um páo secco4 E isso era a mulherde um capitalista4

Por esse tempo soffreu !maro Esteves um des osto n%o pequeno8 anoticia da morte, em Ca&amb*, do Pantale%o, seu bom ami o de pa odeiras.7 homem, sem saber, padecia do cora#%o8 foi ás a uas, abusou dellas ebumba4 botou2se de repente para o outro mundo4 7ra, o Pantale%o, t%o bello,

mo#o, ale re e divertido, morrer assim aos - annos, quando tinha tanto queo"ar nesta vida4

0as que peri o as taes a uas4 ;ualquer cousa nos pulm5es ou cora#%oe toca a fu ir. (ada de facilitar. Custa, ás ve"es, t%o pouco revirar de umafeita os olhos4

Por esse tempo, come#ára tambem o nosso !maro o namoro com abarone"a da Silva Velho, no l6rico8 uma viuva quasi quarentona, toda faceira,um pei&%o em todo o caso. Che ar%o as cousas a dar na vista de todos. K!h,Snr. man an%o, lhe dissera o Santos !lves, o corretor, lembre2se de que )casado. KBiabo, /er de lembrar2se lo o disso4

m pobre coitado, um p) rapado poucos annos antes, mettido a oraem derri#o, escandaloso com uma senhora do hi h2life, uma titular4 /ivesse asua liberdade e jo ava2se a seus p)s, pedindo2lhe humildemente a m%o deesposa.

0as o inferno de (ic ta4 ;ue tramb@lho...

(%o, aquillo, n%o podia continuar assim, indefinidamente, at) o demodar com o basta4

E a id)a de Ca&amb* n%o o dei&ava um instante, n%o lhe sahia mais dacabe#a, á toda a hora do dia e da noute, principalmente á noute, lá pelamadru ada, durante lon as insomnias.

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Aoi afinal consultar o Br. 0aria 0eirelles, um medico formado de fresco,seu visinho, muito mocinho8 inda ou se uma esta#%o de Ca&amb* n%oconviria á mulher. 0ostrava pouco appetite, suppunha2a doente do estoma oe fi ado. Ca&amb*< 7ptimo, e&cellente4 (%o podia haver cousa melhor.

!hi, meio conturbado, falou em pontadas do cora#%o, receios de estaresse or %o affectado.

Ent%o convinha e&aminar, auscultar. 0as n%o, cora#%o que d e ) comoc%o que ladra. =i av%o2se os incommodos uns aos outros, e Ca&amb* dariaconta de tudo. Pa ou enerosamente e sahio da consulta todo ale re,e&ultante quasi. Estava salva a sua responsabilidade. Cobria2o a autoridadedaquelle profissional, que tinha obri a#%o de saber o seu officio. ;uanto aelle, nada occultára8 f@ra at) bem claro, pu")ra os pontos nos ii. Podia lavaras m%os pelo que d)sse e viesse.

Che ou a se ter em conta de marido e&emplar.!final, buscava solicito asaude da mulher, sua companheira de tantos annos. Com certe"a, Ca&amb*

lhe faria um bem enorme.E a pensar em tudo isso, na mais sin ular amal ama, em que via

combionada a vanta em de ambos, divisava futuro todo c@r de rosa.

!liás, com a br)ca, ainda quando a opini%o do B r. 0eirelles n%o odesculpasse bastante aos proprios olhos, absolvi%o2no plenamente astheorias modernas. /inha o direito, como homem de resolu#%o, de quebrarcom cora em os obstaculos que lhe impedi%o os passos.

Parafusou, parafusou e, afinal, partiu com a mulher para Ca&amb*.

E n%o ) que as a uas come#áram a fa"er sensivel beneficio á (ic ta<Che ou at) a en ordar, facto que nunca lhe succed>ra. om, a elle, ) que ascousa sahi%o ás avessas. Vi)ra para um fim e o contrario ) que se dava. Aortecaipora4

E nos seus intimos frenesins sentia impetos de es anar a mulher, aovel2a dormir com os bei#os cada ve" mais bico de chocolateira. ;ue cara, quepelle amarellada e por cima ainda cheia de sardas4 0ettia n@jo.

(%o havia remedio8 era resi nar2se. /inha que carre ar aquella cru"at) ao ultimo dia da vida, seu destino.

Certo dia, por)m, á mesa do jantar, (ic ta er ueu2se de repente, levoua m%o ao peito, soltou um rito abafado de an ustia e tombou no ch%o,redondamente morta.

Causou o caso no hotel immenso alarma, correrias, quedas, desmaios,um horror4

Besfe"2se elle num pranto sem fim, consolado pelos ami os deoccasi%o. K/ivesse paciencia, a sorte de todos, B. (ic ta f@ra feli" at) nam rte.N KCom effeito, mas era t%o b@a, companheira de tantos annos, assimde repente, a ravante á sua [email protected] E mais isto e mais aquillo.

E, n%o cessou de chorar e lamentar2se, ora mui leal econvencidamente, ora por simples comedia, at) á volta do cemiterio de

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aepend6, pois nesse tempo Ca&amb* n%o possuia ainda terreno paraenterrar os seus mortos, ou hospedes, ou moradores do lu ar.

Essa volta de aepend64... ! tarde estava t%o linda e serena, o c)o t%opuro e risonho, a pai"a em toda t%o rata, illuminada pelos ultimos raios dopoente em fo o4

!maro Esteves sentio2se outro, o peito desafo ado e dos labiosentreabertos dei&ou escapar e&pressivo e m6sterioso Emfim4

E sorrio2se ao recordar2se da barone"a da Silva Velho. Aal2a2iaviscondessa, n%o havia duvida.

Recolheu2se, ao che ar, a um aposento qualquer, deitou2se cedo edormio lar o e tranquillo somno.

Be madru ada acordou assombrado, tiritando de horror.

Clamor immenso, sem nome, indi"ivel, enchia aquelle quartinho dehotel8 mil clarins de Jeric , trompas infernaes, repercuss5es medonhas, )costerrificos, tudo dominado por uma v " pun ente, um uivo de suprema a oniaa bradar? !ssassino4 !ssassino4 !ssassino4

1elido suor inundou2lhe o corpo todo e os cabellos se lhe erri#ár%o noalto da cabe#a...

"IM


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